Broxante

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A expectativa que havia com os novos regulamentos, inicialmente previstos para 2021, mas ficando para 2022, era que as corridas na F1 seriam mais equilibradas e os campeonatos mais imprevisíveis. Passado uma temporada histórica no ano passado, o que estamos vendo em 2022 é algo que a F1 já viu antes quando houve uma grande ruptura técnica: uma troca de hegemonias. Com o erro de projeto da Mercedes, Red Bull e Ferrari despontaram como as equipes que brigariam pelo título desse ano, porém, erros seguidos de estratégia, desenvolvimento e dos próprios pilotos da Ferrari fizeram com que Red Bull e Max Verstappen reinassem sozinhos na F1 em 2022.

Em Monza nesse domingo, Max Verstappen mais uma vez venceu após uma punição no grid, com a sensação que se passa é que de alguma forma o piloto neerlandês driblará essas sanções e vencerá de forma tranquila, assim como ocorreu em Spa, quinze dias atrás. Hoje foi a décima primeira vitória de Verstappen na temporada e hoje Max nem corre mais pelo bicampeonato, que pode facilmente ocorrer no final desse mês, nas luzes cingapurianas, mas para bater recordes. Michael Schumacher e Sebastian Vettel conquistaram treze vitórias em 2004 e 2013, um recorde que Verstappen poderá bater esse ano.

O conjunto Verstappen/Red Bull já pode ser considerado um dos mais fortes desse século.

Ainda relembrando o que houve em 2021, a FIA resolveu criar vários procedimentos para o caso de um Safety-Car tardio numa corrida, evitando toda a confusão que resultou no título de Verstappen e toda a polêmica consequente. Faltando oito voltas para o fim da corrida em Monza, a McLaren de Ricciardo parou entre as duas curvas de Lesmo. Um local ingrato para resgatar um carro. Pelo procedimento da FIA a pista seria limpa, os retardatários ultrapassariam os líderes e o Safety-Car, os mais lentos seriam reposicionados e a relargada seria dada. Tudo bonitinho, mas como me dizia um antigo gerente, papel e planilha aceitam tudo, o problema é pôr em prática. Comissários mais lentos que aquele tiozinho que ainda lhe pede seu Orkut transformaram o final da corrida em Monza num anti-clímax. Maylander demorou demais para encontrar Verstappen e quando os retardatários foram ultrapassar os líderes, estava claro que não daria mais tempo para uma relargada e as posições se mantiveram na broxante situação de chegada atrás do Safety-Car. Na Austrália, vendo a corrida, Michael Masi tinha um sorriso no canto da boca…

O dia amanheceu quente em Monza e com um grid misturado pela enorme quantidade de punições, era esperado um show de ultrapassagens. Ou não. Com o retorno do efeito-solo e a diminuição drástica do vácuo, ultrapassar nas longas retas de Monza não era uma tarefa tão simples assim e trens de ‘DRS’ eram esperados, contudo, Carlos Sainz destoou dessa situação com uma belíssima corrida de recuperação vindo da penúltima fila. Por sinal, a definição do grid foi uma verdadeira zona. Afora o melhor tempo de Leclerc, que não estava no balaio de punidos e por isso era o pole de qualquer maneira, foi difícil montar o grid com nove dos vinte pilotos de alguma forma punidos por trocas de motor ou alguns componentes, sem contar Tsunoda, penalizado por fazer tantas besteiras nesse ano. Um dos punidos seria Max Verstappen, mas com Monza tendo características que lembram Spa, era nítido que o piloto da Red Bull rapidamente estaria na briga pela vitória. O que de fato aconteceu. Numa largada tranquila, Verstappen saiu bem, deixou para trás logo de cara a McLaren de Lando Norris, que se atrasou no apagar das cinco luzes vermelhas, ultrapassou Alonso, Ricciardo e Russell com facilidade, aparecendo em segundo de forma voraz, tendo apenas Leclerc à sua frente. Contudo, o monegasco não iria se entregar fácil correndo na casa da Ferrari. Os dois tinham ritmos parecidos no primeiro stint, mesmo que Max se aproximava aos poucos. Um Safety-Car Virtual deu as caras quando Vettel se despediu de Monza, lugar de sua primeira vitória na F1, de forma melancólica com um motor quebrado. A corrida ainda estava no seu primeiro quarto e uma parada ali significaria que um piloto dificilmente terminaria a prova sem uma segunda visita aos pits. A Ferrari resolveu arriscar e trouxe Leclerc para os pits e ao colocar pneus médios, claramente pararia uma segunda vez. Verstappen assumiu a ponta pela primeira vez, com Leclerc se tornando o piloto mais rápido da pista, enquanto a Ferrari oferecia praticamente todo o alfabeto à Leclerc para tentar dar o pulo do gato.

O que a Ferrari talvez não contasse seja a fase estupenda de Max Verstappen. Quando faria o que seria em teoria sua única parada, o neerlandês colocou pneus médios e saiu à caça de Leclerc num ritmo 1s mais rápido. A ultrapassagem seria inevitável, mas a Ferrari contava com uma segunda parada para inverter as ações e passar de caça a caçador. A execução da estratégia ferrarista foi perfeita e Leclerc saiu dos pits com pneus macios estalando de novos. Faltando vinte voltas e a diferença estava em torno dos 19s. Era tirar 1s por volta para termos briga pela vitória, certo? Não, se o outro piloto se chama Max Verstappen. Leclerc melhorou seu ritmo, marcou voltas mais rápidas, mas Max destruiu a tática da Ferrari com um ritmo incrível com pneus médios usados, permitindo à Charles tirar no máximo meio segundo por volta, tornando a briga pela vitória basicamente impossível. Erro da Ferrari? Podemos chamar de aposta errada, mas os italianos sabem muito bem que não devem subestimar o conjunto Verstappen-Red Bull. E o fizeram nesse domingo.

Leclerc lamentou a não relargada, pois ele poderia ter uma chance de vitória na frente da torcida que lotou Monza, mesmo que isso seja uma ideia que dificilmente ocorreria pela atual fase de Verstappen. Russell conseguiu mais um pódio, numa corrida sólida e solitária, enquanto já se aproxima do terceiro colocado no Mundial de Pilotos. Sainz fez uma grande recuperação, ignorando o trem de DRS no meio do pelotão, ultrapassando quem via pela frente, mas sem surpresas, quando chegou nos carros das equipes top-3 de 2022, a evolução do espanhol parou, mas o quarto lugar de Carlos foi algo a ser comemorado. A evolução de Hamilton foi mais lenta, por causa do déficit de velocidade final do motor Mercedes. O inglês não seguiu Sainz e Pérez no começo da corrida, só conseguindo uma boa evolução na tática, pois Lewis foi um dos últimos a parar. Com pneus macios novos, atropelou os carros do pelotão intermediário com pneus duros ou médios. Hamilton conseguiu um bom quinto lugar, mas já vê Russell numa boa distância no campeonato.

O grande destaque do pelotão intermediário foi mesmo Nicky de Vries. O neerlandês estava em Monza somente para experimentar o carro da Aston Martin no primeiro treino livre e depois acompanhar o resto do final de semana nos boxes da Mercedes ao lado de Toto Wolff. Porém, Alexander Albon foi acometido por uma apendicite e De Vries foi chamado às pressas para treinar no carro da Williams no sábado e já na classificação impressionou ao ficar à frente de Latifi. Na corrida De Vries se comportou muito bem ao andar sempre na zona de pontuação, na briga com pilotos experientes como Alonso. No final, o piloto interino da Williams aguentou bem a pressão de Zhou e terminou sua estreia na F1 nos pontos com o nono lugar. E provavelmente visando seu lugar na própria Williams em 2023.

Bem no dia em que comemoramos os cinquenta anos do primeiro título de Emerson Fittipaldi na F1, ali mesmo em Monza, o Brasil tinha outros motivos para comemorar. Após um longo jejum no automobilismo internacional, o Brasil tem novamente um campeão nas mais importantes categorias de base do automobilismo, com Felipe Drugovich na F2.

Mesmo Drugovich atingido por um atabalhoado Amaury Cordeel e abandonando ainda na primeira volta, Felipe parecia calmo e confiante no pit-wall, pois seu único rival, Theo Pourchaire, não conseguia uma grande evolução após largar apenas em 14º e numa disputa com Liam Lawson, acabou caindo para último, o deixando praticamente sem qualquer chance de adiar o título de Felipe Drugovich.

Foi o primeiro título de um brasileiro na categoria anterior à F1 desde 2000, com Bruno Junqueira na então F3000, igualando os feitos de Roberto Moreno (1988), Christian Fittipaldi (1991) e Ricardo Zonta (1997). Olhando para essa lista dá para perceber que o título da F2 (ou F3000, ou GP2…) não é garantia de estar num bom lugar na F1 e esse é o grande desafio de Drugovich nesse momento. Tendo como manager o experiente Amir Nasr, Felipe tenta um lugar na F1 em 2023. Com as indefinições na Alpine e na Alpha Tauri para o ano que vem, o nome do brasileiro já foi ventilado para esses cockpits, mas seu destino deverá ser o de piloto reserva na Aston Martin, que olhando para os contratos dos pilotos do time verde, Felipe Drugovich só teria uma chance real em 2025.

Por enquanto, essas conjecturas ficarão para depois, pois no momento o Brasil festeja seu mais novo campeão com a esperança dele um dia chegar (bem) à F1.

No final desse domingo Will Power conquistou seu segundo título na Indy no tradicional palco de Laguna Seca. Se reinventando aos 41 anos de idade, Power deixou de ser um piloto extremamente agressivo para apostar na consistência, conseguindo nove pódios e apenas uma vitória ao longo da temporada.

Porém, no sábado Power mostrou sua faceta de velocista ao conquistar sua 68º pole na carreira, se isolando como o maior pole-man da história da Indy. E não é todo dia que você bate um recorde de Mario Andretti.

Monza foi uma corrida onde vimos toda a força do conjunto Verstappen-Red Bull, que parece não ter imperfeições em sua armadura em 2022. Após nove tentativas, Max subiu ao belo pódio de Monza pela primeira vez logo vencendo, algo que vai se tornando rotina para o piloto da Red Bull. Mesmo com toda a magia de Monza, mais uma vez a F1 se atrapalhou numa novidade e acabou fazendo do fim do Grande Prêmio da Itália num verdadeiro anti-clímax, onde não faltaram vaias dos tifosi. Se havia esperança de que o novo regulamento embaralhasse o grid e tivéssemos um campeonato mais equilibrado, estamos vendo uma passagem de bastão, onde saímos de uma hegemonia para outra.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

8 Comments

  1. Fernando marques disse:

    Só complementando realinhamento da largada em Abu Dabhi

    Fernando Marques

  2. A meu ver, o grande problema esportivo da F1 atual é a quase impossibilidade de defesa por parte de qualquer conjunto que não seja o mais rápido.
    Vimos Leclerc fazer uma parada a mais porque sabia que, se permanecesse na pista, teria sido superado sem dificuldades por Verstappen, apesar de estar virando apenas uns poucos décimos de segundo mais lento.
    A busca pelo “espetáculo”, por assegurar ultrapassagens, terminou por acentuar ainda mais a concentração de vitórias em torno do conjunto mais forte, de modo que Max atualmente poderia largar em último em todas as corridas e, ainda assim, venceria a maioria delas.
    Esse campeonato teria sido muito diferente, e muito mais interessante, sem trocas de pneus obrigatórias e sem o DRS.

    • Manuel Blanco disse:

      é o que venho pedindo a anos !!!

    • Fernando Marques disse:

      Marcio e Manuel Blanco,

      concordo plenamente com voces … agora já que a realidade da Formula 1 atualmente vai de encontro a nossa opinião, eu acho que com a tecnologia do safety car virtual, a necessidade da entrada do safety car só seria necessária em caso de acidentes graves.
      Reparem bem, todos os circuitos são “divididos em 3 setores” onde são instalados crônometros e assim ficamos sabendo quem é mais rápido em cada setor … acho que poderiam fazer que nestes setores também funcionasse o safety virtual com radáres (assim como fazem nos piti stops) e não paralisassem a corrida por completo .
      Este negocio de realinhar para formação de um novo grid pode até funcionar na Indy, mas na Formula 1 só tráz confusão.

      Fernando Marques

  3. Fernando Marques disse:

    J.C. Viana,

    começo lhe fazendo uma pergunta: o que mudou no regulamento (protocolos, regras …) em relação ao safety Car, entre o GP de Abu Dabhi em 20021 e Monza 2022?
    Se estiver errado me corrija: creio que nada …

    Aí outra pergunta: por que o Michael Masi teria um sorriso no canto da boca … afinal seria ele que estava certo nas decisões que tomou em Abu Dabhi?

    Infelizmente o final do GP da Italia, disputado no Templo Sagrado de Monza, acabou por re levatar esta polêmica.

    Quanto a corrida, até que gostei … até por que não há como não gostar de uma corrida em Monza …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Olá Fernando!

      Espero que esteja tudo bem com você!

      Respondendo suas perguntas:

      1) Sim, por causa da confusão que houve na final do ano passado, a FIA mudou alguns procedimentos para acabar com qualquer dúvida sobre o que fazer se aparecer um Safety-Car no final de uma prova. Vou colocar aqui a mudança relacionada à esse ponto, que está no site do Globoesporte e colocarei o link:

      O Artigo 55.13 (referente o Artigo 48.12 do regulamento de 2021) possui uma nova terminologia para reforçar que todos os carros com uma volta de atraso devem se alinhar ao líder com o safety car em pista: passa a valer o termo em inglês “all”, mais explícito, em lugar do “any” – embora ambos sejam traduzidos como “todos”.

      https://ge.globo.com/motor/formula-1/noticia/2022/03/16/fia-altera-regulamento-da-f1-para-evitar-novas-polemicas-com-safety-car.ghtml

      2) Masi foi acusado de ter interpretado o regulamento à sua maneira para que a corrida em Abu Dhabi não terminasse como Monza nesse domingo, inclusive lhe custando o emprego na FIA. A fina ironia de estar ‘com um sorriso no canto da boca’ se refere que ele, o criticado Masi, fez de tudo para que bandeirada em Abu Dhabi acontecesse com bandeira verde, mesmo que passando por cima do regulamento. Com o novo procedimento, foi impossível a relargada e tivemos esse final broxante em Monza. Eu, no lugar dele, daria boas risadas dos que me criticaram…

      Espero ter sanado suas dúvidas e escreva sempre!

      • Fernando marques disse:

        JC,

        Pelo que sei, me corrige se estiver errado, aqueles carros que estavam com uma volta em atraso também deveriam pelo regulamento recuperar a volta perdida para o realinhamento da nova largada.
        O que não aconteceu.
        Aliás gostaria de saber o que o botas e o Lafitte estavam fazendo entre o Verstappen e o Leclerck com o safyte cara na pista

        Ou seja tudo continua confuso.

        O que é uma pena pois com tanta tecnologia a serviço da fórmula 1, a FIA não aprende a fazer um regulamento decente.

        Fernando Marques

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