chega de Áustria!

WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
16/05/2002
OS REIS DA NAVALHA
22/05/2002

Como disse a turma do Casseta&Planeta naquele inesquecível editorial-manifesto no lançamento do igualmente inesquecível Planeta Diário, BASTA DE BOSTA!

Estamos todos ansiosos em acabar com este assunto do GP da Áustria, não estamos? Então vamos liquidá-lo de uma vez e pronto.

Só queria dizer uma coisinha antes: por linhas tortas, Rubinho talvez tenha reposicionado sua carreira em um novo patamar, mais alto, depois desta malfadada corrida.

Primeiro, porque ele foi melhor do que Schumacher durante todo o final de semana, o que não é pouco. Segundo, porque ele se tornou credor do alemão e da Ferrari. Certamente receberá em dobro a gentileza/obrigação/bobagem (cada um escolha a opção que melhor lhe convir) de domingo passado. Terceiro, porque não acredito que a Ferrari e Schumacher, em especial, tenham a coragem de repetir a opção/decisão/burrada (idem) da Áustria.

Não vou dizer que as coisas nunca mais serão as mesmas depois do 12 de maio – todo mundo falou que as coisas nunca mais seriam as mesmas depois do 11 de setembro e não creio que o mundo tenha propriamente mudado – mas acho que se Rubinho disparar na frente em Mônaco, Schumacher vai cruzar a linha em 2o lugar e ainda bater palmas para nosso garoto.

+++

Quando as coisas ficam pretas, a primeira coisa que a Fórmula 1 faz é chamar tio Bernie.

E lá vem ele, com aquele cabelinho esquisito, e tira do bolso a solução para problemas maiores ou menores, reais ou imaginários.

Temerosos de terem de pôr as mãos nos delicados bolsinhos parapagar as contas de suas equipes, Eddie Jordan (Jordan), Tom Walkinshaw (Arrows), Paul Stodard (Minardi) e David Richards (BAR) começaram a chorar mais ou menos alto conforme o caso, dizendo que, se os custos da Fórmula 1 não fossem cortados, eles fariam companhia em breve a Alain Prost no banco dos falidos na praça ali em frente.

Tio Bernie, disseram Jordan&Cia, estamos gastando demais, os patrocinadores, esses bobões, não querem mais dar dinheiro pra gente ficar passeando pelo mundo e vendo a Ferrari ser campeã! Corta os custos, tio, corta!

Flavio Briattore (Renault) e Niki Lauda (Jaguar), dois bons fdp, juntaram-se ao coro dos chorões, um porque talvez possa tirar algum proveito da situação para si próprio ou sua equipe, outro porque não sabe por quanto tempo mais terá acesso às burras da Ford – para depois tomar um segundo da Arrows, para quem fornece os motores, como aconteceu nos treinos da Áustria.

E lá vem o tio Bernie e tira uma carta da manga, uma carta óbvia mas que, talvez por isso mesmo, há muito não era mencionada: as equipes ricas passariam a poder vender os seus chassis para as equipes menos ricas (sim, porque ali todo mundo é rico…)

Pelo jeitão, as coisas já estão arranjadas. A Jordan, por exemplo, poderia, comprar um Fórmula 1 completo, com motor, vendido pela Renault por US$ 1 ou 2 milhões, economizando uma barbaridade – talvez mais de US$ 30 milhões – no desenvolvimento do seu próprio chassi. Uma montanha de engenheiros e projetistas iriam para a rua, túneis de vento virariam habitação de aranha e, claro, a Jordan nunca mais almejaria a algo além de um 5o lugar, com sorte. Mas, que diabo, Eddie Jordan seguiria sendo um dos dez homens mais ricos do automobilismo internacional.

E quem venderia os carros? A Ferrari diz que, carro completa, não vende de jeito nenhum mas pode conversar sobre motor (como já faz hoje), câmbio, transmissão, suspensão traseira e eletrônica. A Williams diz que não vende nem isso, assim como a McLaren mas acho que Ron Dennis não está com esta bola toda.

Toyota e Renault, por sua vez, já estão com a barriga no balcão conversando com eventuais clientes.

Há uma fofoca forte de que a Toyota já teria acertado a venda dos seus carros para uma equipe dirigida por Roger Penske e que o teste já agendado de Cristiano da Matta e Hélio Castroneves com carros da Toyota poderia ser um primeiro passo para a montagem da equipe. A Jaguar ainda não sabe o que fazer da vida – aliás, nunca soube. Não seria impossível que empresas como a Lola ou a Porsche voltassem a fabricar Fórmula 1 exclusivamente para a venda.

Arrows, Jordan, Minardi e a herdeira da vaga da Prost seriam as primeiras compradoras dos chassis. Bar e Sauber são dúvida. A primeira estaria envolvida num projeto de venda para a Honda enquanto a Sauber decide se vale a pena assumir de vez a condição de filial da Ferrari.

Os leitores mais jovens talvez não se lembrem mas até os anos 70 era comum a venda de chassis entre equipes. Lotus, March, McLaren e Brabham (esta dirigida por tio Bernie), entre outras, fechavam as contas do mês vendendo um chassi aqui outro ali. Os compradores raramente fizeram algo digno de nota mas, que ninguém ouse negar, éramos todos mais felizes naquela época.

Boa semana para você e todos os leitores

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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