Terminou o campeonato 2004, começou o de 2005.
Michael Schumacher, um pouco nervoso mas focado e eficiente, confirmou o seu favoritismo e conquistou o título com méritos e simpatia mas assistiu bem de perto ao surgimento da força que, no momento, o separa de um oitavo título: a McLaren com a sua dupla de pilotos para o ano que vem, Kimi Raikonenn e Juan Pablo Montoya, ambos brilhando nesta manhã, em Spa.
Kimi fez uma corrida para Schumacher nenhum botar defeito e, ainda que se considere que o alemão tenha economizado seu carro visando apenas o campeonato, acho que seria praticamente impossível passar o finlandês hoje.
Já Montoya teve momentos inesquecíveis de brilho e coragem ao volante do seu pobre Williams.
Ele inventou um novo ponto de ultrapassagem, na primeira perna da Bus Stop, onde passou Schumacher e Trulli. É verdade que se trata de um ponto problemático. Na ultrapassagem sobre o alemão, Montoya foi ajudado pelo bom senso do adversário; o resultado da ultrapassagem sobre Trulli espelhou melhor a realidade dos fatos de se tentar uma ultrapassagem em local tão improvável.
Mas que se dane. Se quisesse só racionalidade, eu frequentaria torneios de xadrez. Mais bela será a ultrapassagem quanto mais difícil for o local escolhido para ela. E Montoya é mestre em inventar estes locais.
E isso sem falar no controle que ele manteve sobre o Williams, quatro rodas fora da pista e em velocidade máxima, na manobra de aproximação sobre Trulli, num daqueles momentos de tirar o fôlego.
Mas será que Montoya conseguirá transformar estes momentos brilhantes em vitórias seguidas? Será que ele conseguirá controlar os próprios impulsos e aprender a dosar suas forças, corrida após corrida, sob pressão da equipe e dos adversários e transformar-se num ganhador de campeonatos tão focado e eficiente quanto Schumacher?
Pelo que vi até hoje, apostaria que não. E por isso ratifico minha opinião de que o colombiano não será páreo para Kimi Raikonenn no ano que vem. O que não o impede de continuar brilhando e alegrando os corações empedernidos de velhos automobilistas.
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Será que são as grandes pistas que fazem as grandes corridas ou o excelente GP de hoje foi uma combinação de sensível melhora da McLaren e do já tradicional nervosismo de Schumacher em corridas decisivas – lembram-se do Japão 2003?
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A vitória do vôlei masculino do Brasil e o 3º lugar na Maratona de Vanderlei Cordeiro de Lima inspiraram os pilotos brasileiros, todos eles com corridas notas 9 ou 10.
Pizzonia mostrou oportunismo, velocidade e sangue frio, não se intimidando com a pressão de Montoya.
Zonta alcançou simplesmente o ponto mais alto da temporada para a Toyota ao firmar-se no 4º lugar, posição que só perdeu pela fragilidade do motor japonês que provavelmente não resistiu ao aumento da temperatura interna provocado pelas seguidas intervenções do safety car.
Massa finalmente superou Fisichella com uma corrida perfeita e corajosa, encarando Montoya em plena Eaux Rouge – e ganhando a parada.
Já Rubinho não se deixou abater pelos problemas no começo da corrida, aproveitou as oportunidades e confirmou sua vocação para aparecer em corridas conturbadas chegando a um inacreditável 3º lugar, depois de perder um tempo imenso nos boxes.
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Garoto esperto, este Kimi Raikonenn, judiando de Schumacher ao impedir que ele aquecesse seus pneus Bridgestone convenientemente antes das relargadas.
Lembram-se dos padecimentos de Rubinho em Indy? Pois é: hoje foi a vez de Schumacher mas ele, volto a lembrar, corria pelo título, não pela vitória, ainda que tenha de recomeçar do zero a perseguição ao recorde de Alberto Ascari, de nove vitórias seguidas em GPs.
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A despeito da corrida brilhante de Ricardo Zonta, a Toyota continua onde merece –na lama -, a despeito do novo (?) carro que estreou na Alemanha.
O sacrfício de Cristiano Da Matta, pelo menos até agora, foi em vão. Só espero que a Toyota cobre Michael Gayscone, diretor técnico da equipe e responsável direto pela demissão do brasileiro, pelos seus atos um dia desses.
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Pobre Minardi!
Seus dois carros atingidos involuntariamente no GP de hoje.
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David Coulthard cometeu uma barbeiragem histórica hoje, ao tocar a traseira do Jaguar de Klein, mas redimiu-se instantaneamente controlando o McLaren sem o bico dianteiro em plena grama.
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É verdade que Spa ainda está a dezenas de km de se transformar nos verdadeiros shopping centers que são os autódromos modernos – Malásia, Bahrein e China, por exemplo – mas resta cada vez menos sinais daquela pista selvagem, pouco mais do que uma trilha de asfalto aberta no meio da floresta fechada, os boxes apenas um telheiro sem paredes, as acomodações para o público barrancos enlameados dos quais não se escapa limpo.
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A força da grana: vocês já sabem que a Marlboro quer continuar patrocinando a Ferrari mesmo depois da proibição de estampar a sua marca no carro, acreditando apenas na associação entre a cor vermelha e sua tradição de mais de trinta anos na Fórmula 1 e de uns vinte com a Ferrari.
Pois reparem nas placas de propaganda da Marlboro em Spa (que já foram vistas em Hungaroring), todas vermelhas, começando a sepultar a associação com o branco.
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E lá vamos nós correr atrás de outra utopia.
Pietro, o neto de Emerson Fittipaldi, aos 8 anos de idade, já está fazendo carreira no kart americano. Quem sabe ele não se torna o primeiro neto de um campeão mundial a vencer um GP…
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Quem me conhece sabe que mantenho um envolvimento meio juvenil com o esporte, de forma que ando de porre com as medalhas do Brasil em Atenas, mais medalhas do que nunca mas menos do que eu esperava.
E hoje ainda tem o Santos!
Boa semana a todos
Eduardo Correa |