Dia desses, respondendo a um leitor, disse que aprendi a não me incomodar mais com as notícias sobre a ameaça a um ou outro GP. Afinal, vejo a corrida no Brasil balançar mas não cair desde 74 e a de Imola desde os anos 80, só para citar as duas mais manjadas. Ainda bem que não fiquei preocupado…
Também não esquento muito a cabeça com os testes pré-temporada.
Como ninguém está obrigado a andar dentro do regulamento, nenhuma equipe, compreensivelmente, divulga os objetivos daquele dia de testes (a equipe pode muito bem estar apenas vendo se a disposição dos adesivos dos patrocinadores está ok) e sequer há cronometragem oficial, creio que extrair dos testes informações plenamente confiáveis é coisa só ao alcance da própria equipe e de alguns privilegiados observadores, temperados por informações de cocheira e entre os quais não me incluo.
Assim, a despeito dos pedidos de vários leitores, não vou festejar ou pichar os tempos obtidos pela Bar até agora nem me arriscar em previsões sobre os erros e acertos nos novos carros da Ferrari, McLaren e Williams.
Há coisas para as quais é preciso paciência. Neste caso, algo além de palpites, só esperando pelos treinos da Austrália, dezesseis penosos dias no futuro.
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Mas eu não espero por surpresas, pelo menos surpresas das grandes neste início de temporada.
É sempre bom lembrar que nos últimos quatro anos, apenas dois GPs foram vencidos por equipes que não as três grandes (devo ter me esquecido de alguma coisa nesta conta, mas tudo bem). Leitores mais pacientes podem estender esta análise para o passado. Irão encontrar números ainda mais impressionantes. Basta dizer que, nas últimas vinte temporadas, apenas a Benetton conseguiu emplacar um campeão do mundo que não estivesse ao volante de um Ferrari, McLaren ou Williams.
Assim, é preciso considerar as possibilidades de Renault, Bar etc. com muita, muita, prudência.
É verdade que se tratam de equipes de fábrica (dizem que a compra definitiva da Bar pela Honda sai este ano), com tradição na categoria e competência técnica comprovada mas há muita inércia na Fórmula 1 e é extremamente difícil recuperar a dianteira alcançada pelas três grandes.
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Por que Ferrari, McLaren e Williams atingiram tão alto grau de supremacia?
Em primeiro lugar, porque são grandes equipes. Elas têm, com algumas exceções, os melhores pilotos, os melhores engenheiros, os melhores mecânico. Em segundo, porque têm mais dinheiro para investir e, em terceiro, porque exercem uma liderança política que lhes garante posições vantajosas.
Tudo somado, surgem resultados de tal forma consistentes que tornaram a Fórmula 1 quase que imune ao acaso tão comum ao esporte.
E me parece claríssimo que a Ferrari está um degrau acima das suas duas competidoras diretas e isso explica a supremacia italiana nos últimos quatro anos. Superar a vantagem conquistada pela Ferrari graças ao trabalho político de Luca di Montezemolo e Jean Todt, ao brilho técnico da dupla de projetistas Rory Birne e Ross Brawn e ao braço e cabeça privilegiados de Michael Schumacher não é tarefa fácil mesmo para McLaren e Williams.
Há mais inércia na Fórmula 1 do que se possa imaginar.
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Tudo isso para dizer que, numa análise lógica, só se pode concluir pelo favoritismo de Michael Schumacher ao título de 2004, por mais entendiante que possa parecer.
Mas isso ainda não é minha aposta oficial…
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Os testes pré-temporada não nos permitem sequer avaliar com alguma precisão como está a guerra Bridgestone x Michelin
A Michelin parece estar na frente no momento e pode levar alguma vantagem para suas clientes – McLaren e Williams. Mas, como observou um dirigente da McLaren, de nada adianta a Michelin ganhar a maioria das corridas, dividindo-as entre seus quatro pilotos de ponta enquanto Schumacher ganha todas as corridas com pneus Bridgestone.
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O peso mínimo de um Fórmula 1 é de 600 kg, certo? Pois o novo Ferrari carrega cerca de 90 quilos de lastro, sendo que entre 10 e 15 quilos podem ser colocados em diferentes locais do chassi, segundo o desejo do projetista e do piloto, de forma a buscar melhor equilíbrio do carro segundo a pista.
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Vai entender: quatro pneus Michelin e respectivas rodas pesam 9 quilos a mais dos que os Bridgestone.
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É de extrema inteligência este animado bate-boca dentro da equipe Williams sobre os motivos que levaram Montoya a assinar com a McLaren.
Quer dizer que Montoya fico p… da vida com a equipe depois do GP da França e correu umas dez voltas xingando seus coleguinhas pelo rádio? E aí Frank diz que ele é um “cara difícil”? Legal. Michael e Kimi Raikonnen devem estar adorando…
O que sei dessa história toda é que o contrato entre Montoya e a McLaren foi assinado antes do GP da Alemanha (o que representa um recorde de antecedência em relação à sua vigência) e significou um belíssimo aumento de rendimentos para o colombiano.
E sei também que Frank Williams é o cara mais teimoso da Fórmula 1 e que perdeu um excelente piloto para a concorrência porque teimou em não lhe pagar o mesmo que paga a Ralf.
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Não se pode negar o talento de frasista refinado de Bernie Ecclestone.
Beleza pura a menção dele à Cart: “Ela se tornou um campeonato de brasileiros nos Estados Unidos”.
Eu sempre fiquei imaginando aquele típico americano, carregado de hot-dogs, Buds e bonés, olhando a brazucada se divertir nas pistas e nos carros deles.
Não podia dar certo mesmo.
Abraços (EC)