Eu não acredito em conspiração: Rubens Barrichello correspondeu às melhores expectativas neste GP da China. Largou bem, liderou com autoridade – diria mesmo com personalidade -, não se deixando intimidar pela pressão de Kimi Raikonenn em boa parte da corrida, disputada nesta madrugada na interessantíssima pista de Shanghai. Trata-se mais de um shopping center do que de um autódromo mas, pelo menos, não é tão banal quanto Malásia e Bahrein. E a sambadinha no pódio e o champagne derramado até o fim na própria cabeça, a la Senna, é a apenas a expressão natural do joy de vivre de Rubinho.
Eu acredito em conspiração: com o campeonato já decidido, a Ferrari finalmente deixou Rubinho à vontade e ele apenas fez aquilo que sempre disse ser capaz de fazer não fossem determinadas condições que lhe são impostas de forma malévola pela equipe.
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Eu não acredito em conspiração: Michael Schumacher mostrou que, afinal de contas, é um ser humano, capaz de se enganar numa freada nos treinos, numa avaliação de ultrapassagem, botando um pobre retardatário para fora, e depois ter um pneu furado num momento decisivo, como só costuma acontecer aos seus adversários.
Eu acredito em conspiração: campeão, Schumacher foi brincar na China. De forma irresponsável, exagerou nos treinos e testou os próprios nervos ao largar dos boxes, imaginando-se capaz de todos os milagres. Já pensou se ganho largando em último, pensou ele, à noite, na solidão do seu quarto de hotel.
Desta vez, porém, sua mandingas não deram certo e ele escapou por pouco do ridículo.
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Eu não acredito em conspiração: Shanghai acabou por produzir uma corrida igual a todas as demais, ainda que diferente. Não exatamente chata mas resolvida nos boxes como sempre, produzindo uma perseguição épica de Raikonenn sobre Rubinho durante boa parte da prova mas sem uma disputa direta pela posição. O GP produziu também várias ultrapassagens, alguns lances de disputa crua e rodadas e batidas sem maiores consequências. Diria que quase valeu a pena a noite insone.
Eu acredito em conspiração: ávida por produzir emoções baratas para o mercado chinês, a Fórmula 1 deu um jeito de fazer Schumacher rodar nos treinos e largar do fundo do grid. O mundo – ou pelo menos a inocente China – prendeu a respiração à espera de mais uma missão impossível do alemão. Conseguirá ele vencer, mesmo nestas condições? Não conseguiu mas não importa: o espetáculo foi garantido. Agora o que é que vamos inventar para as duas corridas que faltam?
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Eu não acredito em conspiração: Massa fez um temporal nos treinos (temporal mesmo porque ele largou com uma quantidade de combustível semelhante aos demais pilotos) e, na corrida, pagou o preço de não ter sabido adequar-se ao rendimento dos pneus Bridgestone – ainda que Rubinho tenha dito que eles acabaram se saído melhor do que o esperado e Fisichela tenha jantado Massa de novo.
Eu acredito em conspiração: a Ferrari finalmente liberou todos os seus cavalos para a Sauber e Massa imediatamente mostrou a que veio, marcando um tempo extraordinário nos treinos. Na corrida, ele deu azar.
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Eu não acredito em conspiração: Villeneuve fez o que era possível a um piloto fazer depois de quase um ano de inatividade.
Eu acredito em conspiração: Briatore nunca iria deixar um recém chegado sequer chegar perto do seu queridíssimo Alonso e Villeneuve terminou apenas em 11º.
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Eu não acredito em conspiração: tinha os meus motivos quando apostei (ainda que não o tenha indicado como favorito) em Ralf Schumacher para o título de 2004. Que corrida ele fez, primeira humilhando Montoya durante os treinos e depois correndo entre os primeiros até que uma cabeçada da equipe (mais uma!) o deixou fora da prova.
Eu acredito em conspiração: a Williams só estava esperando uma oportunidade para acabar de ferrar Ralf Schumacher, que forçou a sua volta à equipe apenas para checar as últimas novidades e repassá-las à Toyota, equipe que defenderá no ano que vem. Ferrando Ralf, a Williams abre as portas para trazer de volta Antonio Pizzonia, peça valiosa da comunicação da Petrobras no GP do Brasil. Naturalmente que, assim, a Williams faz juz a um valor extra de patrocínio.
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Eu não acredito em conspiração: Luca di Montezemolo, presidente da Fiat, da Ferrari e do equivalente italiano à Fiesp, estava apenas feliz, muito feliz com o resultado conquistado pela sua equipe na China.
Eu acredito em conspiração: Luca di Montezemolo expôs-se ao ridículo no pódio chinês como parte da sua estratégia para se tornar primeiro-ministro da Itália.
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Eu, por princípio, não acredito em conspiração. Boa semana a todos.
Eduardo Correa |