Confira a primeira parte clicando aqui.
Nossos três seguintes campeões são Nelson Piquet, Alain Prost e Ayrton Senna, que dominariam a formula um por cerca de uma década. Seu gráfico nos deixa os seguintes percentagens:
Nelson Piquet, com títulos em 1981, 1983 e 1987, é o único destes nove campeões que nunca desfrutou da vantagem de contar com o melhor carro pois, na única temporada que o tinha foi quando disputou o titulo com seu companheiro Nigel Mansell, ficando assim anulada essa vantagem. Isto também deixa sua percentagem de primazia em 66%, pois nas outras duas temporadas teve este fator ao seu favor. Nas três temporadas de seus títulos, Piquet disputou 45 GPs conseguindo apenas nove vitórias, das quais só duas foram sobre seu máximo rival pelo titulo, portanto sua percentagem de vitórias sobre não rivais fica em 78%. Numa das temporadas (33%), o brasileiro se beneficiou da disputa, e até inimizade, que mantiveram Carlos Reutemann e Alan Jones na Williams. Sua percentagem de ajuda do companheiro é a mais baixa com apenas um 2%, pois só em uma ocasião este terminou à frente de seu máximo rival.
Alain Prost, com 64 GPs disputados nas temporadas de 1985, 1986, 1989 e 1993, contou com o melhor carro em três dessas temporadas, ainda que, em 1989, a disputa com Senna na McLaren rebaixe seu percentagem a 50%. Na outra temporada em que não teve o melhor carro, 1986, se beneficiou da disputa entre Piquet e Mansell na Williams, fazendo que sua percentagem neste quesito seja de 25%. Descontando 1989, Prost sempre teve primazia nas equipes pelas que competiu, o que deixa sua percentagem neste quesito em 75%. Sua percentagem de ajuda do companheiro também é mínima (4%), porem onde o francês destaca é nas vitórias sobre não rival. Prost parecia ter um sexto sentido para vencer justo quando seu rival havia abandonado ou estava retrasado e sem condições para disputar-lhe a primeira posição, pois de suas 20 vitórias, nada menos do que 80% delas (16) foram conseguidas assim.
Completando este trio, temos Ayrton Senna, campeão em 1988, 1990 e 1991. Como vimos no caso de Prost, sua disputa com o francês em 1989, impediu que Senna sempre dispusesse do melhor carro e de primazia na equipe. Assim, suas percentagens nestes quesitos ficam em ambos os casos em 66%. Também como Prost, Senna teve ajuda insignificante por parte do companheiro (4%) pois em apenas duas corridas Berger acabou à frente do rival. Senna é o único dos três que não se beneficiou de nenhuma disputa na equipe dos rivais e, por outra parte, foi quem em mais corridas se enfrentou a este na pista, o que significa que foi quem em menos ocasiões venceu derrotando pilotos com os quais não disputava o campeonato. Com 48 GPs disputados e 21 vitórias, Senna é o único piloto destes nove multi campeões que venceu em mais da metade dessas vitórias derrotando seu máximo rival pelo titulo, deixando sua percentagem de vitórias sobre não rival em 43%.
Por último, Michael Schumacher, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, são os multi campeões mais recentes e o gráfico com suas percentagens é o seguinte:
Como se observa, Michael Schumacher sempre teve o melhor carro e a primazia absoluta em sua equipe em todos os anos de seus sete títulos. Naquelas temporadas triunfais de 1994, 1995 e de 2000 até 2004, o alemão disputaria 117 GPs obtendo 65 vitórias, das quais 55% delas foram sobre pilotos que não representavam ameaça direta ao titulo (em dois deles, 2002 e 2004, seria seu próprio companheiro Barrichello o vice campeão, quem nunca teve condições nem autorização para competir com Michael). Em um de seus títulos, concretamente no campeonato de 2000, Schumacher também se beneficiaria da disputa interna que havia na McLaren, entre Mika Hakkinen e David Coulthard, portanto sua percentagem neste quesito é de 14%. No que à ajuda do companheiro se refere, Schumacher contou com ela em 21% das corridas disputadas, sendo que na temporada de 2003 esta ajuda seria crucial para o desfecho do campeonato. Naquela temporada o alemão superaria a Kimi Raikonnen na classificação final de dito campeonato por exíguos dois pontos, enquanto que, ao longo do ano, Rubens Barrichello foi capaz de roubar oito pontos ao finlandês.
Sucedendo a Schumacher nesta lista de multi campeões vem Sebastian Vettel. Alemão, como no caso de seu antecessor, Vettel também desfrutaria do melhor carro e receberia as máximas atenções de sua equipe em todas as temporadas de seus quatro títulos, obtidos de 2010 a 2013. Ao todo foram 77 GPS os disputados e 34 as vitórias conseguidas, sendo que em 25 ocasiões (74%) o piloto visto nos retrovisores não era seu máximo rival. Vettel não contou com o beneficio da disputa na equipe do rival, contudo a ajuda que recebeu do companheiro (31%) foi determinante na metade de seus títulos.
Concretamente, em seu primeiro titulo, Vettel superaria a Fernando Alonso por apenas quatro pontos e no segundo, também perante Alonso, a diferença final foi apenas de dois pontos. Em 2010, Mark Webber havia roubado catorze pontos do espanhol ao longo da temporada, enquanto que Felipe Massa apenas cinco ao alemão, deixando uma diferença favorável a Vettel de nove pontos. Em seu terceiro titulo, Vettel superaria uma vez mais a Alonso na luta pelo campeonato graças à inestimável colaboração de Webber. Desta vez, o australiano lhe roubaria a Alonso dez pontos que, descontando os apenas três que Massa lhe restou a Vettel, deixaram uma diferença favorável ao campeão de sete pontos.
Como último e mais recente multi campeão temos o britânico Lewis Hamilton, com cinco títulos nos anos 2008, 2014, 2015, 2017 e 2018. Ao contrario de seus dois antecessores, Hamilton, apesar de ter nas mãos o melhor carro em todas as temporadas de seus títulos, não dispunha de primazia na equipe em duas delas (2014 e 2015), devendo disputar o campeonato contra seu próprio companheiro Nico Rosberg nessas duas temporadas, o que rebaixa seu percentagem nestes dois quesitos a 60%. Como Vettel, Hamilton tampouco teve o beneficio da disputa na equipe do rival, mas dentre suas 47 vitórias em 97 corridas disputadas, em 52% delas não teve o rival às costas. Enquanto à ajuda do companheiro, ainda que esta foi relativamente alta (15%), não teve nenhuma influência nos títulos conquistados.
Com todos estes dados à disposição, a continuação se apresenta um gráfico que mostra a média das percentagens dos cinco quesitos para cada um destes pilotos. Assim, este nos mostra, como uma espécie de classificação, os pilotos segundo quão favorável foi o contexto em que se desenvolveram para a obtenção de seus campeonatos:
O resultado me parece que, em boa medida, confirma a percepção bastante generalizada que todos tínhamos respeito às vantagens ou desvantagens sob as quais estes pilotos competiram nas temporadas de seus títulos. Assim, no topo desta classificação temos a Sebastian Vettel, seguido bem de perto por Michael Schumacher e por Jackie Stewart, como os pilotos que desfrutaram de um contexto mais favorável para seus interesses, destacando-se sobre o resto. Um pouco abaixo vem Alain Prost e, ainda mais abaixo, Lewis Hamilton. Na continuação temos um empate entre Piquet e Senna, com Lauda justo atrás deles.
Finalmente e fechando a classificação, aparece Jack Brabham como o piloto com o contexto mais desfavorável dentre todos eles para a consecução de seus campeonatos. Deste modo, o gráfico nos mostra quão meritório foram os campeonatos de cada um dos pilotos, pois é geralmente aceito que o mérito de um logro depende da qualidade dos rivais derrotados e das dificuldades enfrentadas pelo caminho e, como vemos, uns tiveram o caminho mais “despejado” do que outros, oferecendo-lhes um contexto mais favorável.
Ainda que, como no caso de Borzov, para a determinação dos campeões sejam os frios números e resultados os que no fim sempre contam, estes nem sempre contam toda a história sobre as condições e circunstâncias que determinaram o contexto sob o qual se competiu, portanto sempre é bom tratar de trazer à luz dito contexto, para que nos ajude a entender o que realmente
aconteceu.
Até a próxima.
3 Comments
Show de bola!!!
Fernando Marques
Niterói- RJ
Excelente trabalho mesmo, Manuel. Parabéns!
Muito bom, belíssimo trabalho Manuel. Obrigado por compartilhar conosco!