Corrida dos ventos uivantes (Coluna + Youtube)

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O nome Baku vem do persa e significa “cidade fustigada pelo vento”, dando a dica de que a cidade localizada às margens do Mar Cáspio pode ser sacudida por ventos, digamos, fortes além da conta. A F1 corre no circuito de rua azerbaijano desde 2016 e nesse ano o vento fez muita diferença para todos os pilotos, contudo, nem o clima capcioso de Baku nesse final de semana foi capaz de parar Max Verstappen, que com uma segunda vitória consecutiva em 2025 começa a levantar a cabeça na luta pelo campeonato, cujos protagonistas falharam fragorosamente nesse domingo.

Piastri sequer completou meia volta antes de estatelar sua McLaren em um dos muros de Baku, enquanto Lando Norris fez uma corrida sorumbática, onde terminou onde largou, não capitalizando o infortúnio do companheiro de equipe. Somado às suas tragicômicas declarações à revista Vogue inglesa (“Ser Campeão Mundial é minha prioridade número 2, quero curtir a vida”) só aumenta o sentimento que Norris é talentoso, rápido, está na equipe certa na hora certa, mas lhe falta o sangue no olho que sobra em Max Verstappen. Enquanto Oscar Piastri precisa voltar a ter corridas decentes e mostrar que quer mais do que Norris (o que não parece muito difícil…) para ser campeão.

Confira a análise da corrida em nosso canal do Youtube!

Momentos antes de se iniciar a classificação na capital do Azerbaijão, a F1 anunciou a extensão do contrato com a pista de rua de Baku até 2030, com direitos a declarações protocolares de Stefano Domenicali e Farid Gayibov, ministro da juventude e dos esportes do Azerbaijão. Talvez os dois dirigentes não estivessem preparados para o que viria em seguida, numa das classificações mais acidentadas e caóticas de todos os tempos. Um recorde de seis bandeiras vermelhas (três só no Q1) fez com que o treino que definiu o grid durasse duas horas.

O vento em Baku passou dos 40 km/h com direito a rajadas de até 60 km/h, fazendo com que os pilotos fossem surpreendidos em vários momentos do final de semana, resultando numa enorme quantidade de paralisações e bandeiras vermelhas em todas as sessões. Na classificação Albon, Hulkenberg e Colapinto bateram no Q1. Destaque que quando Colapinto bateu pela enésima vez, a transmissão não se furtou de procurar um Briatore cada vez mais furibundo com a falta de desempenho do argentino e, pior, sua predileção de destruir carros.

Para completar, uma leve chuva apareceu no Q3, fazendo com que Charles Leclerc, vindo de quatro poles seguidas em Baku, e Oscar Piastri, sem nenhum erro significativo nesse ano, batessem seus carros. Com Piastri garantido largar na quinta fila, era esperado que Lando Norris partisse para cima e capitalizasse em cima do erro do companheiro de equipe. O que fez Lando? Errou em sua volta no Q3 e com isso largou apenas duas posições à frente de Piastri. Mais uma chance desperdiçada pelo inglês, mesmo Norris negando o óbvio. Com a dupla da McLaren sofrendo no sábado, Max Verstappen tirou o doce da boca de Carlos Sainz para ficar com a pole, se tornando o favorito à corrida.

Por causa das inúmeras paralisações durante os treinos, o desgaste de pneus era algo desconhecido para as equipes, mesmo sendo claro que o pneu macio, o composto C6, fosse tão ruim que boa parte dos pilotos se classificou com os compostos médios. Mais do que isso, as equipes não queriam mais prejuízos e claramente os vinte pilotos que largaram nesse domingo usaram a cautela como principal predicado para enfrentar o circuito de rua de Baku e seus ventos uivantes.

Tanto que o único Safety Car do dia foi logo na primeira volta, mas seu protagonista foi inesperado. Oscar Piastri pode não ser brilhante ao longo da temporada 2025, mas não se pode questionar a eficiência do jovem australiano, vindo de uma sequência espetacular de 38 corridas nos pontos. Seu erro no sábado pareceu mexer com a cabeça de Piastri e logo na largada o piloto da McLaren cometeu seu segundo erro, claramente queimando a largada e ao frear, seu carro entrou em Anti-Stall, fazendo com que a McLaren de Piastri ficasse praticamente parada no grid, deixando o piloto oceânico em último. Atarantado com o vacilo que pode ser decisivo para o campeonato, Piastri tentou forçar na primeira volta, mas a junção de pneus frios, pista suja e fria fez com que Piastri travasse os pneus e estampasse um dos muros de Baku. Game Over para Oscar Piastri, que foi flagrado assistindo a corrida num celular, pensando nas consequências dos seus seguidos erros nesse final de semana.

Largando com pneus duros, Max Verstappen se defendeu bem de qualquer ataque de Carlos Sainz e partir de então não foi mais visto no domingo azeri. Max dominou a corrida ao seu bel-prazer, lembrando os bons tempos de 2023, quando passeava pelas pistas enquanto empilhava vitórias rumo ao tricampeonato. Foi a quarta vitória de Verstappen no campeonato, ficando apenas uma atrás de Norris, porém, a forma enfática como Max venceu em Monza e Baku, duas pistas distintas, cuja coincidência reside apenas em ser pistas cujos carros andam com baixo arrasto aerodinâmico, pode estar ligando a luz amarela na McLaren.

A diferença de 69 pontos que Verstappen tem de desvantagem frente à Piastri pode se desmilinguir caso a McLaren faça outro final de semana miserável como o que foi visto em Baku. Não bastasse a sequência de erros de Piastri desde sábado, Andrea Stella e seus ‘papaia caps’ viram Lando Norris fazer uma corrida abaixo da crítica nesse domingo, onde o inglês largou e terminou em sétimo, diminuindo a vantagem para Piastri para 25 pontos, num dia em que Oscar zerou ainda na primeira volta. Norris começou seu show de horrores logo na relargada, ao ficar longe do primeiro pelotão e ser ultrapassado por Leclerc na curva um. Norris ainda ultrapassou Hadjar logo após a relargada, mas foi incapaz de atacar Charles num dia ruim da Ferrari.

Largando com pneus duros, Norris esticou ao máximo o seu stint, mas a McLaren errou na troca do pneu dianteiro direito no único pit-stop da equipe na corrida e novamente Lando ficou atrás de Leclerc. Com pneus mais novos e médios, enquanto Leclerc tinha pneus duros e usados, Norris até ultrapassou o ferrarista finalmente, mas depois ficou preso atrás da luta entre Lawson e Tsunoda, terminando numa opaca sétima posição. Por mais dificuldades que Norris tenha tido nesse domingo, a falta de ‘fome’ de Norris nesse final de semana chamou a atenção. Com seu principal rival zerado, era de se esperar um Lando Norris faminto para capitalizar o deslize de Piastri, mas Norris fez uma corrida burocrática, sem sangue, bem de acordo com suas declarações nessa semana à revista Vogue. Lando Norris pode até ser Campeão Mundial em 2025 e não sou daqueles que desmerecem títulos de F1, mas no caso de Lando se sagrar campeão no início de dezembro de 2025, o comportamento de Norris nessa temporada o colocará como um daqueles campeões que só levaram o título porque todo ano tem que haver um campeão.

Carlos Sainz vinha sendo uma das decepções desse ano, mas uma classificação miraculosa e uma administração de corrida soberba fez com que o espanhol cantasse Smooth Operator pela primeira vez com as cores da Williams. Sainz largou muito bem e manteve a segunda posição a maior parte da corrida, mas quando parou na metade da prova e colocou pneus duros, Carlos viu o crescimento de George Russell.

O inglês da Mercedes começou o final de semana com problemas de saúde e até mesmo Valtteri Bottas ficou sob aviso caso Russell não apresentasse uma melhora de seu quadro viral. George soube se livrar dos problemas na classificação e mesmo perdendo posição para Tsunoda na largada, Russell retomou a posição e rapidamente se aproximou da briga entre os novatos Lawson e Antonelli, que por sinal lhe fechou a porta na primeira volta.

Russell encostou em Antonelli, sugeriu uma troca de posições, mas a Mercedes simplesmente tirou Antonelli do caminho e Russell apenas esperou Lawson fazer sua parada e já assumir a segunda posição, pois Sainz tinha parado. Com o desgaste de pneus bem baixo nesse domingo, Russell manteve um ótimo ritmo e emergiu na frente de Sainz para ficar em segundo e subir novamente ao pódio. Mesmo perdendo o segundo posto, Sainz comemorou bastante seu primeiro pódio com a Williams, se recuperando parcialmente de um ano abaixo das expectativas com a Williams, que viu Albon bater em Colapinto e, punido, ficar longe dos pontos.

Quando fez sua parada, Antonelli perdeu também a condição de brigar com Russell, mas com pneus duros finalmente foi capaz de ultrapassar Lawson e chegar em quarto, menos de 2s atrás de Sainz. Foi a melhor corrida de Antonelli desde o pódio no Canadá e os pontos conquistados pelo italiano ajudaram a Mercedes virar sobre a Ferrari na briga pelo segundo lugar no Mundial de Construtores.

O título da McLaren não foi consolidado matematicamente nesse final de semana, mas é apenas questão de tempo. Pelo menos isso.

A Ferrari começou o final de semana de forma promissora, mas já na classificação a coisa começou a desandar para a turma de Fred Vasseur e seus ‘red caps’ e no final vimos uma corrida fraca dos italianos. Com pneus médios no stint final, Hamilton viu Leclerc abrir caminho, mas o inglês não foi capaz de atacar Norris, mesmo bem mais rápido no final.

Se antigamente os pilotos da Ferrari se estranhavam no momento de trocas de posição enquanto lideravam a corrida, nesse domingo Leclerc e Hamilton conseguiram a proeza de brigarem enquanto brigavam pela ‘gloriosa’ oitava posição. Lewis simplesmente não freou o suficiente na última volta e não devolveu a posição para Charles, que reclamou via rádio e foi irônico com o heptacampeão. E essa confusão envolvia uma oitava e nona posições. Sinais dos tempos.

Tsunoda finalmente fez uma corrida digna com a Red Bull, mesmo que longe de andar sequer próximo de Verstappen, mas pelo menos Tsunoda marcou bons pontos com a sexta posição, segurando Norris, no que pode até mesmo ajudar Verstappen numa hipotética luta pelo título, porém, também é fato que Tsunoda foi incapaz de ultrapassar Lawson. O neozelandês fez sua melhor corrida na F1 até o momento, correndo muito tempo em terceiro, mas as táticas não permitiram que Lawson emulasse o pódio de Hadjar semanas atrás em Zandvoort. No entanto Lawson segurou as Mercedes no primeiro stint e depois não se intimidou com a presença de Tsunoda, terminando num bom quinto lugar, marcando bons pontos para a Racing Bulls, que viu Hadjar fechar a zona de pontos, numa corrida em que o francês quase não largou por problemas hidráulicos em seu carro, mas Isack fez o que pôde para fechar a prova novamente pontuando.

Reagindo ao movimento errático de Piastri na largada, Alonso acabou queimando a largada e por isso nem reclamou quando foi punido, o relegando a 15ª posição na bandeirada, mas ainda duas posições à frente do seu fraco companheiro de equipe Stroll. Bortoleto nem precisou esperar Alonso ser punido para assumir a 11ª posição, mas o brasileiro não teve condições de atacar Hadjar e brigar pelos pontos. Num final de semana abaixo da Sauber, Gabriel fez o que pôde, enquanto Hulkenberg bateu em Ocon na primeira volta e ficou perdido no meio do pelotão. A Haas teve um final de semana ruim, longe da zona de pontuação, enquanto a Alpine foi a única que viu seus pilotos tomarem volta numa corrida onde apenas Piastri abandonou. Briatore terá bastante trabalho…

Numa corrida sem sal, Max Verstappen está tentando colocar tempero num campeonato em que a McLaren parece querer estragar com seus ‘Papaya Rules’, sem contar seus dois pilotos que parecem não querer magoar o outro para manter a harmonia dentro da equipe, além de uma falta de carisma alarmante.

A distância de Max Verstappen para a dupla da McLaren ainda é grande, mas o neerlandês está de olho em mais vacilos de Piastri e Norris. Que com o final do campeonato se aproximando, as gafes da dupla da McLaren parecem aumentar. Max agradece!

Abraços!

João Carlos Viana

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    O circuito de Baku assistiu talvez a corrida mais chata desde que passou a fazer parte do calendário da fórmula 1.
    E mais uma vez Verstappen levantou poeira.
    Sobre a corrida vc disse tudo.
    O baixo rendimento das McLarens talvez tenha sido a grande surpresa deste fim semana. Piastri irreconhecível e Noris disperdisando uma grande oportunidade recuperar os pontos perdidos no Canadá.
    Que a McLaren abra os olhos … é zero a chance perder o título de Construtores mas chegar ao fim da temporada sem fazer um dos seus pilotos campeão seria algo decepcionante. Podem ter ressuscitado o Verstappen nesse sentido. E nesse caso vejo como essencial priorizar Piastri como o piloto a ser o campeão .
    Os treinos foram difíceis para Bortoleto. Mas seu desempenho no Q 1 e 2 permitiram ele poder ter um desempenho bem decente na coŕrida.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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