De Volta para o Futuro

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Essa nova temporada da MotoGP promete ser realmente um clássico, relembrando momentos maravilhosos da história da categoria.

Alguns filmes, como os clássicos da série “De Volta Para o Futuro”, consideram trinta anos o tempo mais ou menos necessário para se saltar uma geração. Ou, colocando de outra forma, para a história repetir seus padrões, com os filhos assumindo o papel dos pais. No esporte, no entanto, podemos identificar o surgimento de novas gerações espaçadas por intervalos de tempo muito menores, e é sempre muito enriquecedor ter a chance de apreciar os duelos entre competidores de épocas diferentes. Juventude e ímpeto testados contra malícia e experiência… O jovem atrevido que aos poucos amadurece, destrona os campeões, chega ao topo, e num piscar de olhos já está velho e tendo que se defender de jovens leões, que afiaram as garras mirando seu sucesso.

Pois bem, agora consideremos por um instante o que está acontecendo este ano na MotoGP.

Valentino Rossi, 34 anos e vivendo os últimos momentos de competitividade ao mais alto nível, tem a missão de resgatar a mística de sua incrível carreira, abalada pelos sérios acidentes de 2010, e os anos de ostracismo na Ducati, em 2011 e 2012. E, para mostrar a todos, e a si mesmo, que o inédito mau desempenho tinha origens mecânicas, terá que lutar pelo título numa Yamaha que hoje pertence a Jorge Lorenzo, seu antigo e talentoso aprendiz.

Percebem o simbolismo da coisa?

E o cenário só melhora. Não bastasse a enorme competência de Lorenzo, a armada espanhola inclui ainda a dupla da Honda, formada por um Dani Pedrosa com a carreira em xeque, tendo de se impor diante do mais novo fenômeno revelado pelo motociclismo de velocidade mundial: Marc Márquez, de apenas 20 anos.

Agora afastemos um pouco o olhar. Salvo problemas de percurso, o normal é que daqui a 10, 12 anos, Márquez ainda esteja aí acelerando e brigando por vitórias. E então todos poderão olhar para trás e agradecer a Deus por ter permitido que ele e o grande Valentino Rossi tenham dividido, ainda que por pouco tempo, as pistas do mundo. E isso está acontecendo agora, a cada 15 dias.

Por toda essa carga simbólica, a atual temporada da MotoGP evoca algumas das maiores estórias já escritas, com seus dramas ligados ao envelhecimento; aos ritos de passagem; a retiros de reciclagem; renovação e renascimento. E o que é melhor: tudo isso sendo escrito ao vivo, em cima de algumas das máquinas mais espetaculares já concebidas, a mais de 300 km/h.

Tecnicamente, a batalha não é menos interessante. De um lado, Lorenzo leva pequena vantagem sobre Rossi no que se refere a rapidez pura; de outro, o italiano é um piloto mais forte quando em luta direta. Para completar, em ritmo de prova os dois são fortíssimos e não existe qualquer diferença significativa entre o que ambos são capazes de fazer. Assim, podemos dizer que Lorenzo tentará repetir ao longo do ano o tipo de estratégia que lhe rendeu a vitória no Qatar. Ou seja: largar na ponta e sumir na liderança, evitando possíveis disputas com Valentino nas voltas finais. Já para o italiano, a chave do sucesso se encontra nos treinos e no posicionamento nas voltas iniciais.

Para quem ama a velocidade este é, sem dúvida, o grande campeonato a ser acompanhado em 2013.

Mas o que mais me remete aos filmes de Robert Zemeckis e Bob Gale é que, exatamente 30 anos atrás, a motovelocidade vivia situação bastante semelhante.

Roberto Agresti seria a pessoa mais indicada a lembrar aquela inesquecível temporada de 1983, uma vez que teve a sorte de cobrir in loco parte da disputa. Mas, apesar de minha falta de credenciais, não me furto a lembrar superficialmente o ano que marcou a memorável disputa entre dois fantásticos americanos de gerações diferentes: “The King” Kenny Roberts, naquela altura já tricampeão mundial, e o fenomenal Frederick Spencer, o “Fast Freddie”, fazendo apenas sua segunda temporada completa. Como coadjuvantes – imagine! – gente do quilate de Franco Uncini, Eddie Lawson e Randy Mamola…

Agora o contexto. Antes do ano começar, Roberts anuncia que aquela seria sua última temporada, qualquer que fosse o resultado. A pressão para que ele se despedisse das pistas com um quarto título era enorme, agregando um valor imenso a uma disputa que, por si só, já seria espetacular contra o poderio do conjunto Honda-Spencer. Roberts, para quem não se lembra, defendia a Yamaha.

No início do ano Spencer sobra. Vence na África do Sul, na França e na Itália, enquanto Roberts, sofrendo com problemas de superaquecimento e na suspensão traseira, soma apenas um 2º lugar, um 4º (liderava até ter problemas de motor) e um abandono (caiu a 3 voltas do fim, quando liderava).

Na Alemanha Roberts reage, com Spencer fazendo apenas um 4º lugar, ao passo que na Espanha Freddie volta a vencer, naquela que considerou uma das corridas mais duras de sua carreira. Roberts chegou logo atrás.

O campeonato começa a virar na Áustria, quando Roberts vence e Spencer abandona com problemas no virabrequim. Na antiga Iugoslávia Spencer vence de ponta a ponta, com Roberts fazendo uma corrida de recuperação após uma largada problemática para terminar em 4º. A Yamaha a esta altura tinha a moto mais rápida do grid, e Roberts irá vencer três corridas seguidas, na Holanda, na Bélgica e na Inglaterra, com Spencer somando dois segundos e um terceiro.

A tensão estava nas alturas, agora que o campeonato parecia apontar na direção de uma grande virada. Quando o circo aportou na Suécia, penúltima etapa do ano, Spencer tinha apenas dois pontos de vantagem, e aquela seria uma prova decisiva para quebrar a sequência do rival e manter vivas as esperanças de título.

Amigos, que corrida!

Abrindo a última volta Roberts liderava com Spencer logo atrás. Na reta oposta o piloto da Honda consegue o vácuo e, na penúltima curva, um cotovelo à direita, os dois mergulham lado a lado no limite do possível, Spencer por dentro. A pista ficou pequena para tanto apetite, e na aceleração ambos os pilotos espalharam para além do asfalto. Freddie levou a melhor e conseguiu tracionar antes, vencendo o GP de forma dramática. No pódio, escutou acusações por parte do compatriota, que julgou a manobra “estúpida e perigosa”.

E então Ímola. Basicamente, Roberts precisava vencer e Spencer não podia ser segundo, o que jogava um enorme peso sobre os ombros do novato Eddie Lawson, promissor 2º piloto da Yamaha. O futuro tetracampeão (e campeão já no ano seguinte), no entanto, ainda não tinha forças para enfrentar Spencer, e conseguiu apenas a 3ª colocação, decepcionando a equipe e o próprio Roberts, que numa corrida soberba encerrou a carreira no topo do pódio.

Passada a régua, números impressionantes. Nos pontos, vantagem de Spencer por 144 a 142. E nas 12 corridas do ano, seis vitórias e seis poles para cada um.

Roberto Agresti estava lá em Ímola naquele dia, e ficarei muito honrado se quiser comentar o texto, dividindo suas memórias a respeito daquele dia e daquele ano.


Voltando para questões mais atuais, esta semana fomos todos presenteados com o primeiro trailer do aguardado filme Rush. E acho que falo em nome de todos quando digo que valeu a espera.

Está surgindo um novo clássico aí.

Para encerrar, umas palavrinhas rápidas a respeito de nossa página no Facebook.
Desde que começamos a série sobre as vitórias do Ayrton, mais de cinco mil novos amigos curtiram nossa página, fazendo do GPtotal a 2ª maior referência numérica sobre o assunto no Brasil – ou a 1ª, se pensarmos em sites independentes.

Lucas e Marcel têm tocado um trabalho de pesquisa sem paralelo por aqui, brindando os amigos com informações as mais curiosas ou inusitadas a respeito desse esporte que amamos. E o que é melhor, tudo dentro de um ambiente colaborativo, enriquecido pelos leitores mais qualificados da mídia esportiva nacional.

Pessoalmente, fico muito satisfeito pela chance de conhecer mais e mais leitores, e muito feliz de poder aprender e debater com tanta gente boa. Aos que já colaboram com a página, portanto, meu muito obrigado. E aos que ainda não nos visitaram, fica a dica e o convite.

Aquele abraço a todos,
Márcio Madeira

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

8 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    O Randy Mamola pode não ter sido campeão mas dava um show nas pistas.
    Com relação ao Mundial de Motos GP, é bom ver novamente o Valentino Rossi com uma moto competitiva. Aí sim saberemos ser o J. Lorenzo e o D. Pedrosa são bons realmente de verdade. Com relação ao MArc Marques, este já tem a minha torcida especial. deve ser um primo distante … hehehehehe

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Marcio Sergio disse:

    Olha foi sensacional esta primeira corrida com o retorno do Valentino na Yamaha. Esse
    jovem piloto Marc Marques provou que é diferenciado, assim como J. Lorenzo. Apenas eu na minha humilde opinião acho que o Pedrosa não esta no mesmo patamar, você observa
    comparando a tocada dos outros três porque existe sim uma diferença. Sem duvida o Valentino Rossi é o melhor piloto na luta corpo a corpo que eu já vi, e quando ele tem uma moto capaz de brigar o cara não desiste. Se ele tivesse se livrado daquele pelotão no inicio da corrida, talvez brigaria com o Lorenzo. Eu tenho certeza que esta temporada vai ser sensacional e quem gosta de corridas não pode perder, são grandes pilotos fazendo a historia debaixo do nosso nariz.

  3. Allan disse:

    Excelente lembrança – parece que to lendo um texto da saudosa Motoshow cujo reporter era, salvo engano, o próprio Agresti… Pena Fast Freddie ter sucumbido a uma tendinite e, depois, a comida…

    • Muito bem lembrado, Allan!
      Spencer foi uma daquelas estrelas de brilho intenso e curto, em função dos problemas que você mencionou.
      E, assim como você, eu sou um eterno fã da saudosa Motoshow. Minha coleção, que inclui o nº 1, eu não vendo por nada.
      Abraço!

      • Allan disse:

        Tive vários exemplares, e a revista foi o azo de minha paixão pelas motos – que não piloto, diga-se. Ver um embate entre a Honda CB1100R e a Kawa GPZ1100, lá pelos idos de 1981, ou testes estupendos como da Honda VFR 750 de 86, da Kawazaki GPZ600R, da Yamaha FZ 750… Que tal a matéria sobre as 24h de Le Mans 1986, no embate Honda RVF versus Yamaha OW 74? Bem, se deixar vou parar exatamente quando ocorreu a fatídica transição para a menos-que-mediana Motorshow…

  4. wladimir duarte sales disse:

    O título no Brasil é “Rush, no limite da emoção”. Segundo o site Omelete já tem estréia marcada aqui: 13 de setembro. O trailer já mostra cenas impressionantes como o acidente de Niki Lauda no Nurburgring Nordschlief, a espera angustiante de Marlene(esposa de Lauda) no hospital e uma entrevista coletiva de Lauda após o acidente mostrando-o disposto a defender o título. Chris heimsworth mostra notável versatilidade para um ator que muitos consideram limitado. De super herói (Thor) a campeão de f1 passando por um personagem deprimido e bêbado que abraça uma causa (Branca de neve e o caçador). Já com a experiência de trabalhar com grandes nomes do cinema: Kenneth Branagh, Ron Howard, Charlise Theron, Nathalie Portman, Robert Downey Jr. e Samuel L. Jackson. Mostrou ser algo mais que outro fortão do cinema que não sabe atuar.

  5. Mauro Santana disse:

    Belo texto amigo Marcio e sem duvida, que temporada fantástica a de 1983 no mundial de Moto Velocidade.

    Os anos 80, tanto nas Motos como na F1, foram Tops!

    E sem duvida, vamos assistir no cinema e depois comprar o DVD deste futuro clássico do cinema, RUSH.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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