Despedida em velocidade pura

Já diria o narrador preferido do brasileiro “É teste pra cardíaco, amigo!”. São duas corridas espetaculares, seguidas, clássicas, dentro de um campeonato feroz e cheio de variáveis. Volto a repetir: baita campeonato! E nesse nível de campeonato, a pista sagrada de Monza vem fechar a temporada europeia em grande estilo. Depois de domingo a F1 embala seus pacotes para viajar o mundo com o seu circo. Pra botar mais pimenta no molho, não deu tempo de esfriar a cabeça com as barbeiragens dos pilotos. Seja na pista ou nas redes sociais. Todo mundo querendo mostrar serviço!

Chegamos a Monza! Seus quase 80% de pé em baixo. Chegada na beirada dos 340km/h no final da reta. Tudo para, parece que para, quando reduzem para 75 Km/h e contornam a traiçoeira chicane. Por mais duas vezes na volta vão passar de 300 km/h. É uma emoção pura pra quem gosta das corridas clássicas, o último circuito de alta de verdade da história da F1, nos presenteia com corridas de velocidade pura desde o primeiro mundial.

Em 2004, Edu Correa escrevia sobre sua visita em Monza alguns aninhos antes. Já falei bastante do circuito no ano passado (Monza, o traçado mágico) e de algumas das suas histórias. Monza é daquelas pistas que parece que tudo já foi dito, mas sempre alguém tem alguma boa lembrança de alguma boa prova pra acrescentar. Foram 62 edições do Grande Premio da Itália disputados em Monza, só em 1980 deu lugar a Imola.

Para mim, as duas maiores lembranças vem de Rubens Barrichello. Sua volta mais rápida que dura até hoje em 2004 e sua última vitória na F1, em 2009. São dois momentos geniais de Barrichello. Velocidade pura. Como Monza.

Schumacher, como sempre, é o maior vencedor do Grande Premio da Itália. Tem troféu de 1º por alemão em 1996, 1998, 2000, 2003, 2006. Piquet é o segundo maior vencedor, com 4 (1980/Imola, 1983, 1986, 1987)! Aí a lista de 3 vitórias cresce exponencialmente: Juan Manuel Fangio (1953, 1954, 1955), Kingdom Stirling Moss (1956, 1957, 1959), Ronnie Peterson (1973, 1974, 1976), Alain Prost (1981, 1985, 1989) e Rubens Barrichello (2002, 2004, 2009).

O grande Schumacher também é responsável pela corrida mais rápida da história da pista. Completou as 53 voltas em 1:14’19.838!

Já falamos que a volta mais rápida da pista é de Barrichelo, mas em 2009 Adrian Sutil marcou a volta mais rápida daquela prova a bordo do seu Force India. É a única volta mais rápida computada pelo piloto e pela equipe. O maior detentor de voltas mais rapida na pista é o velho bom de guerra Ford Cos. DFV 3.0 V8! Aquele blocão que dominou a F1 durante tantos anos entre as décadas de 70 e 80. Foram 12 voltas mais rápidas em Monza das 141 (!) conquistadas pelo motor em diversas equipes.

Ainda “no ramo” das curiosidades dessa pista mágica, ela nos presenteou com o pódio mais jovem da categoria na Vitoria de Vettel com a Toro Rosso em 2008. 23 anos, 11 meses e 16 dias era a média de idade de Sebastian Vettel, H.Kovalainen e Robert Kubica!

Voltando ao campeonato de 2012, só ingredientes fantásticos pra essa corrida.

As equipe não tiveram tempo de mexer nos carros depois de Spa. Mas não significa carros sem atualização para essa prova. Na verdade todo mundo chega com kit especialmente desenhados para essa pista. é verdade, acredite. Sim, até a HRT tem um pacote pra essa pista. Inclusive o release da equipe afirma categoricamente que o circuito é bom para o carro desse ano, já que não precisa de muito downforce (sic)!

A Lotus fez um super barulho com seu DRS duplo, não o usou em Spa (por conta da chuva nos treinos que impediu os testes), não vai usar em Monza (parece que o trambolho não funciona bem na asa minúscula de Monza), não vai usar em Cingapura (não dá vantagem significativa, de tanta curva que tem) e, se der sorte, se São Pedro permitir, vai usar a jabironga em Suzuka. Enquanto isso a equipe corre atrás de sua primeira vitória. Não vou falar da batida de Grosjean, nem de seu cabelo, nem de sua cara de bobo na entrevista. Marcio Madeira comenta isso pra gente na coluna dele de Segunda. Pra substituir o personagem criador da maior batida do ano, Jerome D’Ambrosio. tereceiro piloto da Lotus. Esse tá acostumando a largar de trás e não bater em ninguém. Já é uma melhora.

Lewis Hamilton dormiu de orelha quente e deve ter levado umas palmadas do Ron Dennis. O jovem bretão testou e não gostou da asa nova da equipe. O Button acreditou no seu engenheiro que disse que era uma melhoria e foi até o fim. Mandou um caminhão de 0.8s pro companheiro de equipe e ganhou a prova. O jovem Lewis colocou a telemetria da equipe no Twitter e virou aquela zona. Tirando isso, juro que torci pra uma troca de sopapos dele com Grosjean. Ia ser divertido. Pra melhorar a vida da equipe, mais uma vez, mais um ano, mostram como desenvolver um carro e chegam para essa prova com duas vitórias em dois circuitos opostos em características.

No time austríaco da Red Bull, Vettel salvou a lavoura e talvez seu título. Edu Correa aposta no Tri desde sempre e Vettel teve uma atuação coroar essa previsão. O segundo lugar salvou seu lugar na disputa do título, está somente 24 pontos atrás de Alonso. Com o gênio Grosjean na pista ou com a ajuda de Maldonado, mais uma corrida não terminada por Alonso e essa diferença vai pro vinagre. OS carros de Newey pra esse ano não são de outro planeta. Mas são competentes em todos os traçados, especialmente nas corridas. Essa pode ser a chave pro título do alemão: consistência.

Depois de Spa fique coma sensação que a Mercedes esqueceu da vida. Rosberg apático me sugere duas hipóteses: Schumacher renovou e ele nunca vai ter o espaço merecido ou a Mercedes vai abandonar o barco e só vender motores. É impressionante como “a coisa” não flui pra Mercedes, mesmo na pista que precisa de motor e Schumacher conhece como ninguém. A coisa não anda muito boa nas finanças européias e já não duvido se o pessoal desista desse projeto e foque nas demais presenças da marca.

Na Ferrari, todo mundo ‘comemora’ o quinto lugar de Felipe e a quantidade de pontos que ele retirou de Webber. Na imprensa blogueira brasileira muito se falou de uma retomada de Felipe, de uma corrida forte, varias felicitações pelo seu papel impecável no fim de semana. Sem querer ser chato demais, mas discordo. Tirar pontos de Webber não é necessário, ele se embanana sozinho. Segurar Webber também não tem sido sinônimo de uma pilotagem de encher os olhos. Não posso também considera-lo um bom escudeiro. Tirou dois pontos de Webber, ok.

Mas e os pontos de Räikkönen e Vettel? Se ele tivesse chegado a frente desses pilotos estaria aqui batendo palmas por um bom desempenho. Na realidade, Massa livrou frente, tirando Webber, para duas SRT, uma Mercedes e uma Force India. Pouco pra uma Ferrari que tem um piloto líder de campeonato. Não entendo também a “boa vontade” com Massa. Suas entrevistas são irritantes. Sempre seco, puto, nos resultados negativos e com o discurso pasteurizado de “errei, meu guaraná veio sem gás, o carro não tinha aderência, prefiro TNT a Red Bull, os pneus não esquentam, colocaram pimenta no macarrão, vamos pra próxima que vai ser melhor”. Quando faz uma “boa” prova, vem com as gracinhas/macaquices de sempre. Do lado técnico, a falta de ritmo dos carros vermelhos na classificação e o modesto 5º lugar de Felipe, alertam a equipe e confirmam as mais pessimistas previsões de Alonso: a Ferrari não tem o carro que gostaria de ter nessa altura do campeonato. Parecem entre os que disputam o título, ter o pacote mais fraco pra fase final.

Pra turma do meio pra trás, Force India vem no bolo para alguns pontos junto com a Sauber. Williams pode ter alguma surpresa como teve em Spa com uma velocidade de reta incrível. Catherham continua se aprimorando. Melhorando pouco a pouco pra se juntar ao pelotão do meio. Marrussia e HRT, que pena, de Cosworth em Monza não há santo que salve a colheita!

Logicamente, eu escrevi isso e ele vai ganhar Monza.

Quem dos amigos do Gptotal vai nas 6 Horas de São Paulo? Uma corrida imperdível! Um monte de carros de F1 disfarçados. Evento primeira linha, não pode perder!

Informações da Pista

Circuito: Autodromo di Monza
Voltas: 53
Comprimento: 5.793 km
Distância: 306.720 km
Recorde da Pista:
1:21.046 – R Barrichello (2004)

Programação

Sexta-Feira
5h – 1º treino livre
9h – 2º treino livre

Sábado
6h – 3º treino livre
9h – Classificação

Domingo
9h – Corrida

A primeira metade do campeonato foi agitadíssima e voltamos das férias de verão mais agitados e cheios de expectativa. A RedBull e a McLaren chegaram próximas de alonso Alonso. Será que terão fôlego para passar?

Nos despedimos da europa, não há cenário que represente melhor a velocidade pura desses bólidos!

Bom fim de semana e boa corrida!

Abraços
Flaviz Guerra – @flaviz