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A vitória de Nico Rosberg em Suzuka representa um grande passo para a definição do Mundial.

Apesar de ter dado continuidade à longa série de etapas decididas nos primeiros metros em 2016, o GP do Japão – em grande parte pelo méritos da fabulosa pista de Suzuka – foi uma corrida interessante, que justificou o esforço de quem, como eu, ainda se atreveu a ficar acordado até quase 4h da manhã para ver uma corrida de automóveis.

A prova em si teve oito protagonistas, e alguns coadjuvantes de luxo. As principais ações, desde o início, ficaram restritas às duplas de Mercedes, Red Bull, Ferrari e Force India. Já as restantes, encabeçadas por Haas, Toro Rosso e Williams, tiveram seus momentos de fama sempre que atrasaram alguma troca de pneus ou, mais ao fim da disputa, eventualmente se encontraram na condição de retardatárias.

Partindo da segunda posição, Hamilton mais uma vez largou muito mal, e era o oitavo quando o pelotão mergulhou na rapidíssima Curva 1. Rosberg mantinha a liderança, seguido por Verstappen, Pérez, Ricciardo, Vettel, Hülkenberg e Räikkönen, desenhando um cenário que deixaria o filho de Keke com uma das mãos no título mundial.

As primeiras mudanças nesta ordem seriam protagonizadas por Vettel, que, justificando seu excelente retrospecto na pista nipônica, e também mostrando que a Ferrari está muito boa de reta, superou tanto Ricciardo quanto Pérez ainda nas voltas iniciais. Sua progressão, no entanto, não iria além deste ponto. Apesar das constantes reclamações via rádio quanto ao equilíbrio do carro, o jovem Max Verstappen entregou mais uma exibição de enorme consistência e, mesmo tendo sido o primeiro a trocar pneus, conseguiu pressionar Rosberg até os instantes finais da corrida, defendendo-se primeiro de Vettel e depois de Hamilton, para conquistar mais uma segunda posição.

A proximidade de Max e as dificuldades que Hamilton teve para superar seus adversários nas primeiras voltas, por sinal, foram os sintomas mais visíveis do conservadorismo da Mercedes em relação à utilização de seus motores, após o trauma da quebra que custou a vitória a Hamilton na Malásia. Um ingrediente que acabou tanto um pouco mais de emoção à prova, uma vez que obrigou Rosberguinho a suar o macacão até o fim, e não deu moleza a Hamilton na hora de atacar, sobretudo em seus competente segundo stint.

Tendo levado os pneus ao limite de sua vida útil, Hamilton – que já havia superado Hülkenberg na sétima volta – deixou Kimi e Pérez para trás quando fez sua troca, e então atacou com decisão a Red Bull de Ricciardo e as Williams de Massa e Bottas, que haviam largado com pneus médios e ainda não tinham ido aos boxes. Outro momento interessante desta fase da corrida ocorreu quando Hülkenberg superou Bottas num preciso e raro mergulho pelo lado de fora na primeira perna da chicane. A ordem, a esta altura, era Rosberg, Verstappen, Vettel e Hamilton, com 13s separando os dois últimos.

Quando Verstappen novamente inaugurou a rodada de pit stops, sua proximidade foi suficiente para levar a Mercedes a uma postura defensiva e chamar Rosberg aos boxes, por garantia. Mais atrás Vettel e Hamilton seguiram na pista, assumindo as duas primeiras posições. Para desespero do tetracampeão da Ferrari, que perdeu a compostura no rádio ao reclamar dos retardatários, Lewis aproximava-se a cada volta, e ao fazer sua última parada iria alcançar o último degrau do pódio, para não mais perder.

As voltas finais da corrida reservaram a perseguição de Hamilton a Max, cujo resultado iria se definir na freada para a chicane na penúltima volta, quando Lewis perdeu a curva e teve de seguir pela área de escape, numa manobra que deve ter feito Balestre se revirar no túmulo.

Com a vitória – a 23ª da carreira, igualando a marca de Nelson Piquet – o eficiente e opaco Nico Rosberg abriu 33 pontos na tabela de pontuação, e já não precisa mais vencer para conquistar seu primeiro título mundial, restando quatro etapas para o fim da temporada.

A prevalecer a lógica, 2016 tem tudo para ser uma temporada decidida não por vitórias, mas por abandonos. E, cá entre nós, nada mais justo, para um ano que praticamente não apresentou lutas diretas entre seus dois protagonistas, na maioria das vezes um deles perdendo posições nos metros iniciais.

O estouro de motor em Sepang custou 28 pontos a Hamilton, ou o mesmo que quatro vitórias consecutivas, com o rival terminando na segunda posição. Não dá nem para reclamar. Quando um abandono gera o mesmo efeito que quatro vitórias, parece claro que é este o tipo de desfecho “emocionante” que a organização da categoria tem buscado resguardar.

A boa corrida em Suzuka deveria nos lembrar a todos que pistas estreitas, repletas de curvas de média velocidade e dependentes de pressão aerodinâmica ainda podem render boas disputas na F1.

Aliás, é animador notar como os carros finalmente estão voltando a ser visivelmente rápidos, não apenas graças ao enorme torque dos conjuntos turbo-elétricos, mas também em curvas, com as constantes evoluções a explorar melhor o potencial aerodinâmico do regulamento atual. Nos treinos, o carro de Rosberg chegou a registrar acelerações da ordem de 5,2g na 130R, como nos anos mais rápidos da categoria. Fórmula 1 é isso aí, extremo do humanamente suportável.

Com o resultado do Japão, a Mercedes confirmou o título de Construtores, com 20% de antecedência, apesar do GP da Espanha e do esforço dos dois pilotos por dificultarem as próprias vidas. São três títulos consecutivos, e a essa altura já podemos dizer que o retorno dos prateados demorou, mas se tornou tão bem sucedido quanto haviam sido suas passagens anteriores pelo mundo dos grandes prêmios.

E aí: será que desta vez eles também vão se retirar enquanto estão por cima?

Uma ótima semana a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

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