Uma campeonato de 2022 totalmente diferente do que as mais diversas opiniões previam, um prova na Holanda como as mais diversas opiniões previam. O mesmo resultado que nos acostumamos em 2022.
As mudanças das regras em 2022 previam um campeonato embaralhado e disputado. Depois de Spa, esperava-se uma prova na Holanda dominada pela Ferrari numa pista “perfeita” pra seus carros.
A única coisa que não mudou: Max Verstappen e a Red Bull saem como grandes vitoriosos da pista holandesa. Não por um fator, mas por vários. Que passam pela competência do time, um executor e a inépcia dos demais.
Os treinos livres foram marcados por uma Red Bull um pouco fora do local de costume. Até o momento não se sabe se foi um erro no setup inicial do carro ou se estavam testando alguma coisa para 2023.
A suspeita desses testes ficou ainda maior com a confirmação que Perez anda com um carro assoalho diferente de Max desde a volta das férias. O assoalho de Perez é um conceito a ser explorado em 2023 e foi reprovado pelos dois pilotos na Hungria. A RBR decidiu que iria coletar mais dados em pista sobre o porque da reprovação, e cabe ao segundo piloto do time a função dessa validação.
Quem estava visivelmente emocionado era Toto Wolf. Havia uma esperança de briga pela vitória nos carros da Mercedes. O time tinha ritmo melhor que a Ferrari e ao menos melhor que uma Red Bull, exatamente a de Perez.
Por ser uma sequencia de três corridas em três finais de semana, a única explicação pra essa mudança de desempenho era a adaptação dos carros ao traçado. Não havia nenhuma grande atualização de nenhuma equipe. Uma coisinha aqui, outra ali, mas nada que mudaria a ordem do grid.
Enquanto isso o mundo teve a chance de conhecer os detalhes da saga contratual que envolvia Alpine, Oscar Piastri e a Mclaren. Depois de muitas afirmações pesadas e ofensivas entre todas as as partes – menos da Mclaren, vale ressaltar – o Comitê de Avaliação de Contratos da FIA decidiu: a Alpine pisou na bola.
Não colocaram no papel que Piastri era piloto da equipe e sim da sua academia de pilotos. Esperavam, longamente, uma definição sobre o futuro de Alonso. A equipe do piloto – e o próprio – viram na Mclaren algo mais sólido para o futuro e foram para lá.
Lembrando ao amigo leitor que Piastri esse ano está disponível para Mclaren e Mercedes utilizarem seus serviços como piloto reserva.
Voltando…. a Alpine pisou na bola feio em não garantir um contrato com uma das maiores estrelas da história da categorias de base da F1.
A última vez que a F1 viu um campeão da sua principal categoria de base passar pra F1 pela Mclaren foi com Lewis Hamilton. Será que teremos uma nova versão desse conto de fadas?
Já na classificação da corrida, as jogadas decisivas que mostram a superioridade de todo o conjunto da RBR. De Newey, passando por Horner e chegando a Max. Apesar do avanço da Red Bull nessa etapa do fim-de-semana, Leclerc ainda tinha a vantagem e era o favorito a pole. Na sua ultima volta rápida, aquela decisiva, aquela você precisa entregar o resultado sem erro, o erro veio. Na curva 10, um entrada mais forte, uma saída de traseira, uma correção e o décimo necessário pra pole position foi perdido.
Vamos encarar os fatos. Leclerc ainda não está preparado pra lidar com uma disputa de título. Max já teve que duelar com Hamilton (dentro e for a das pistas), está em outro patamar. Leclerc simplesmente falha nos momentos que mais se precisa do piloto fazendo a diferença. Imola, Paul Ricard, provas irrefutáveis.
Max garantiu sua pole position e graças a rodada de Perez, ninguém mais pode ameaçar o grid. Era possível uma primeira fila com Max e Hamilton. Mas acabou sendo a única surpresa do dia a 8° posição de Mick Schumacher e Vettel (do lado negativo das surpresas) em 19º.
Estava garantido um grid com Max e Leclerc na primeira fila. Em um cenário normal, tudo que queremos para uma disputa de título.
Para o domingo de corrida, um tempo nublado e fresquinho, muito diferente dos treinos livre e classificação. A única coisa mantida era o calor das arquibancadas para Max.
Olhando para o céu e relembrando o que passamos até aqui em 2022, a vantagem do tempo fresco pende par aa red bull, não tão gentil com os seus pneus. Também em tempos de “bom mocismo”, não havia de esperar nada diferente na primeira curva: Max totalmente limpo na frente e nenhuma tentativa de ataque de Leclerc.
Aqui cabe um parênteses.
Pouquíssimos pilotos defendem suas posições hoje contra conjuntos mais fortes. Exceções gloriosas e honrosas a Stroll e Perez. Stroll por ser mimado mesmo e não quer ceder nem um milímetro no que ele considera dele por direito. Perez lutou tanto pra ter algum protagonismo na F1 que não pensa duas vezes em tentar garantir que ninguém lhe passe.
Não há uma fechada de porta, ocupar o meio da pista. E Max tem a leitura perfeita desse cenário, onde ele coloca o carro, mesmo que fora dos limites do aceitável, do outro lado ele vai encontrar alguém disponível para ceder.
Fecha parênteses.
Tirando as tradicionais batidas de roda para trás do pelotão, o GP da Holanda era uma prova sonolenta. Literalmente de dar sono para o espectador no sofá. O circuito é lindo. O posicionamento das cameras finalmente dando a sesação correta de velocidade. Um traçado com mudanças de relevo significativas. Tudo par aum lindo espetáculo de velocidade que até a volta 15 não aconteceu.
A partir da volta 15 começaram os pitstops. Primeiro Sainz e Perez. Depois na 18, Leclerc e Norris, depois vieram Max e o restante do pelotão, menos as Mercedes.
Olhando assim parece simples. Tudo caminhava para uma para única da Mercedes e o resto iria para duas paradas. Mas nada é simples com a Ferrari na pista (ou no pit). Sainz entrou no seu box onde somente 3 pneus lhe aguardavam. Sim. Isso mesmo. O serviço de box começou com apenas 3 exemplares do pneu Pirelli. Foram 12.7 de parada para o espanhol.
Qualquer chance de pódio ia pelo ralo. Para piorar, na sua volta, a Mercedes de pneus velhos continuava a andar em tempos ligeiramente mais rápidos.
Na volta 27, finalmente Max chegava em Russel para ultrapassagem. Nenhuma singela tentativa de dificultar por parte do inglês. E até o fim da volta 32 todos os pilotos haviam parado, o que deixava clara e evidente a tentativa da Mercedes de fazer uma parada só e manter seus pneus duro/faixa branca vivos eternamente.
Nesse momento, a vantagem de Max para Leclerc é de gigantescos 8 segundos. No box da Red Bull, todos atentos ao Heptacampeão caçando Perez. Esse inglês da Mercedes calçado com pneus duros encontra por uma longa volta alguma resistência de Perez. Alargou curva, freio antes das retas, abriu a saída de curva, em resumo, lutou. Custou a Hamilton alguns segundos preciosos, algum desgaste extra de uma pneu que deveria durar o restante da prova. Perez fez o básico! Apesar de ultrapassado a Red Bull percebeu que era hora de testar os pneus duros em seu carro e foi isso que fez nas voltas seguintes chamando o mexicano pro box. Era fundamental entender esse pneu para traçar a estratégia de Max.
Falando em estratégia. Reginaldo Leme e amigos da Band: qual o proposito de falar durante a transmissão “vamos ver se a menina da Red Bull está certa”? Vocês chamam o engenheiro do Hamilton de menino?
Chegando nas voltas 44, 45 e 46, começaram os pits da rapaziada que estava na estratégia de duas paradas. Tudo normal, conforme o planejado. Menos pro Tsunoda.
O piloto japonês ainda não se acostumou com o carro da Alpha Tauri e na volta 47 parou o carro na pista. Disse que não tinha um pneu corretamente fixado ao seu carro. Seu engenheiro mandou pelo rádio, sem rodeios, uma mensagem bem clara que o carro numero 22 tinha claramente 4 pneus fixados. Por conta desse devaneio, ele foi ao box. Apertou o cinto (sim, não é figura de linguagem) e voltou pra pista pra depois dizer que o carro então estava quebrado.
Para a retirada de seu carro, foi acionado o Virtual Safety Car.
Virtual Safety Car está empatado com a regra de 3 motores por temporada como regras estúpidas da F1 moderna.
Não havia magia, os ponteiros precisavam parar. Verstappen mergulho nos pits e colocou os maravilhosos pneus duros testados por Perez. Hamilton e Russel acompanharam o movimento. Durante 3 voltas os carros desfilaram pela pista em velocidade reduzida.
Na volta 50, Bottas estaciona seu carro na reta dos box, exatamente na zona de frenagem para a curva 1. Inexplicavelmente a direção de prova demora uma volta inteira pra acionar o Safety Car. Não dá pra entender nadinha.
Verstappen automaticamente para para trocar pneus e se proteger de qualquer estratégia aventureira. Na volta seguinte a direção de prova determina que todos passem pelo pit e aí acontece um ponto determinante da corrida.
Com todos passando pelo pit, abre-se uma janela de oportunidade para trocar pneus e perder menos tempo e posições. Com um tempo de troca de no máximo 3 segundos (para todos os times, menos a Ferrari) é possível organizar alguma distância entre os competidores pra fazer essa troca.
Pois é. Verstappen, George e Leclerc vão relargar com maravilhosos pneus macios, atrás de um Hamilton com pneus médios usados.
Verstappen e a RBR garantiram a vitória num movimento preciso e perfeito. Hamilton perdeu o pódio, por uma indecisão da Mercedes. Dizer que iria vencer, é um exercício difícil demais de criatividade.
Leclerc conseguiu seu segundo pódio nas duas ultimas 10 corridas. E ele é o maior adversário do Max?
Na relargada, um erro de estratégia de Hamilton. Vamos aceitar os fatos: Hamilton errou.
Podendo só ultrapassar na linha de largada, com carros que não perdem tanta pressão aerodinâmica nas curvas, o ideal é você chegar na reta em velocidade de bandeira amarela.
Hamilton acelera antes da ultima curva e aí acontece o o óbvio: Max chega na linha de largada com o carro DO LADO do carro de Hamilton. Não atrás.
Duraria mais uma volta? Provavelmente isso. Max passaria de qualquer jeito, mas poxa vida, um pouquinho de combate seria interessante para a torcida.
O que sobra dessa corrida? A Red Bull emula a era Schumacher-Todt.
Um excelente carro. Um time afinado e com estratégias certas perfeitamente entregues. Sem deixar de lado o fato irrefutável: um piloto em grande fase que executa o que precisa ser feito. Decisivo. Sem falhas.
Max caminha para seu segundo título, sem sustos. A próxima prova deve favorecer o time da Red Bull e deixar as duas mãos de Max na taça.
Sem tempo para respirar, vamos pra Monza no final de semana que vem!
Abraços
Flaviz
3 Comments
Muito bom , pois além de descrever a corrida , relata os bastidores , interpreta as expectativas e resume as negociações do entorno. Parabéns
Flaviz,
vi os melhores momentos da corrida … a tendência de todas as demais corridas serem no nivel chato e sonolento que foi o GP da Holanda é muito grande, por que não há um conjunto capaz de parar o banho que Verstappen/RBR está dando no resto da turma … Para algo diferente acontecer, ou a RBR quebra ou então algueque trate de jogar o cara pra fora na largada …
A Ferrari já deveria estar com vergonha de tanta bobagem que faz nas corridas … no caso deste domingo querer fazer um pit stop com apenas 3 pneus parece até caso de jogador de futebol quando quer derrubar um treinador e só faz besteira dentro de campo pra perder o jogo … é tudo muito estranho o que acontece na Ferrari … aquele pit foi sacanagem …
Daqui pra frente vou torcer para que o Hamilton ao menos ganhe uma corrida, obviamente após um bom trabalho de mandinga pra RBR teer uma pane …
Fernando Marques
Niterói RJ
Flaviz, há sempre uma 1ª vez para tudo, no meu caso e nesse GP foram 2 coisas. Você diz que o GP foi sonolento, pois bem, pela primeira vez dormi no sofá numa corrida de F1, ocorreu quando Max sumiu na frente de Leclerc no inicio. Ainda bem que acordei antes do fim.
Também não me recordo de um erro tão grosseiro em troca de pneus como esse cometido pela Ferrari, com um pneu de reposição deixado no interior do Box.
Eu estava ansioso para que Leclerc colocasse um pouco de água no Chopp do tal “exercito laranja”, pelo menos na disputa da pole, onde estão suas maiores chances, o que por pouco não aconteceu.
Leclerc é rápido, talvez mais do que Max, mas comete vários erros, muitos dos quais bobos, o que quase não ocorre com seu principal oponente. Além do mais a Red Bull é a equipe mais eficiente do grid, sendo a Ferrari nesse ano exatamente o oposto.
Max está guiando o fino, só uma catástrofe para ele perder esse campeonato. A aposta agora é se ele vai ou não quebrar o recorde de Schumi e Vettel de 13 vitorias numa temporada. Já está com 9 vitórias, a 4ª seguida, faltando 7 Gp’s.
E estamos próximos ao estabelecimento de um novo multicampeão sequencial, como sempre gestado por mudanças de regulamento, praga que se estabeleceu na F1 a partir dos anos 2000, para desespero de quem gosta de competitividade e para delírio dos fanáticos por pilotos.
E não será surpresa se a Mercedes ultrapassar a Ferrari e ficar em 2º lugar nos construtores. Já estão bem próximos