Feliz 2003!

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10/01/2003
O VINHO BRANCO DA GARRAFA AZUL
17/01/2003

Caro Panda

Esta é a minha primeira carta do ano. Por isso quero começar desejando a você e a todos os leitores um Feliz 2003.

Para nossa sempre crescente comunidade aqui do GPTotal, desejar um Feliz Ano Novo significa desejar uma Fórmula 1 disputada e interessante. Temos o direito de almejar tanto? Partindo da mais arbitrária das retrospectivas – a dos campeonatos disputados em anos terminados em três, temos um intrigante empate.

1953: numa das duas temporadas em que o Mundial de Pilotos foi disputado com carros de Fórmula 2, tivemos a continuação da ditadura Ferrari/Alberto Ascari, que vinha vencendo tudo desde o GP da Bélgica de 52. Foram seis vitórias seguidas naquele ano e mais três nas três primeiras corridas de 53, descontando Indy.

Ascari vai ganhar mais duas corridas, totalizando cinco vitórias em nove corridas. A Ferrari ganhou sete das oito corridas que disputou. No ano seguinte voltou-se a disputar o Mundial de Pilotos com carros de Fórmula 1. Será que o regulamento mudou por causa da ditadura Ferrari/Ascari (que romperam no final de 53) ou seria por pressão da Mercedes, que desembarcaria na Fórmula 1 em 54 para estabelecer a própria ditadura?

1963: dez corridas, sete vitórias – seis delas de ponta-a-ponta –de Jim Clark com o maravilhoso Lotus Climax 25, um dos mais elegantes carros que já passaram pela Fórmula 1.

Clark podia marcar teoricamente 90 pontos; marcou 73 pontos mas só pode usar 54. Naquela altura, ainda vigorava a regra dos descartes de pontos. Em segundo no campeonato ficou Graham Hill. Aconteceram algumas boas corridas no ano mas, no geral, foi um porre de Clark. Não sei se, por coincidência, dois anos mais tarde, a Fórmula 1 passava por uma das suas maiores alterações de regulamento.

1973: aqui temos vinho de outra pipa. O campeonato começa com um dos mais intensos duelos da história Fórmula 1, opondo Emerson, campeão de 72, e Stewart, campeão em 69 e 71. Emerson ganha três das seis primeiras corridas e marca mais dois terceiros lugares e um segundo. Depois, emenda o pior período de azar da sua carreira em carros competitivos e marca apenas um ponto nas seis corridas seguintes. Jackie Stewart aproveita-se para construir uma sólida liderança, ajudado pela equipe. Tendo como companheiro Ronnie Peterson, Emerson não se beneficia de nenhum jogo de equipe.

Quando chega a Monza, corrida que a Lotus domina inteiramente, Colin Chapman não dá a ordem para Peterson, líder, inverter posição com Emerson, 2º colocado, o que manteria o brasileiro na luta pelo título. Ninguém, até hoje, entendeu direito porque Chapman agiu daquela maneira. Talvez Emerson estivesse exigindo muito dinheiro para renovar com a Lotus, talvez Chapman achasse que valia apostar em Peterson. De qualquer maneira, as chances de Emerson na luta com Stewart eram apenas teóricas. Se fiz as contas direito, ele precisaria vencer, além de Monza, as duas corridas seguintes sem que Stewart marcasse um ponto sequer.

A história terminou assim. Emerson não renovou com a Lotus, foi para a McLaren e se deu muitíssimo bem, inclusive em termos financeiros. A Lotus ficou chupando o dedo. O seu carro para 74 era uma draga, um dos maiores fracassos da história da equipe. A carreira de Peterson mergulhou na obscuridade. Stewart ganhou seu terceiro título mas teve o mais triste dos finais de carreira: em sua última corrida, o GP dos Estados Unidos de 73, viu morrer durante os treinos seu companheiro e sucessor na Tyrrell, quase um filho, François Cevert.

1983 – Piquet sensacional. Ele e o projetista da Brabham, Gordon Murray, jantaram um bando de franceses – Alain Prost, Rene Arnoux, Patrick Tambay e a equipe Renault inteira – só no sapatinho. Foi de dar dó, principalmente na corrida final onde Piquet e Murray bolaram uma estratégia diabólica de corrida, largando com pouco combustível e fazendo uma primeira fase da corrida em ritmo de classificação. Depois apenas administraram a vantagem e caçoaram de Prost, atrasado por inúmeros problemas de motor.

Até hoje os franceses choram, tadinhos, alegando que Piquet usou gasolina adulterada na corrida final, como se eles não tivessem parado o GP da França 81 no meio, alegando chuva forte demais, quando Piquet estava disparado na liderança. O campeonato foi pau puro. Quinze corridas, Piquet ganhou apenas três corridas, a primeira, a antepenúltima e a penúltima, quando Prost já estava comemorando o título por antecipação.

1993: o título parecia já decidido em setembro de 92, quando Alain Prost foi indicado primeiro piloto da Williams. Eu, com aquele carro, seria considerado favorito. Jornalistas franceses previram que Prost poderia ganhar as 16 corridas do ano. Pois é. Prost confirmou o favoritismo vencendo sete das dez primeiras corridas mas sofreu duras humilhações por parte de Ayrton Senna (este foi o ano de Interlagos e Donington) e até de Damon Hill, segundo piloto da Williams, que ganhou três corridas seguidas e mostrou que tinha café no bule.

Prost saiu de fininho com o título debaixo do braço para uma lamentada aposentadoria (lamentada porque deveria ter acontecido muito antes…), Hill voou para um merecido estrelato (digo merecido sem ironias) e Senna foi para o Céu, deixando saudade.

+++

Cinco temporadas terminadas em 3, duas delas bailes de um homem só, duas entre as mais eletrizantes da história da Fórmula 1 e uma quinta, onde o idiota do favorito se confirma mas temos, ao final de tudo, uma ano interessante de se ver, com corridas inesquecíveis, gente nova no pedaço, bom humor, muito diversão. Prova de que um dominador absoluto pode conviver com um Feliz Ano Novo.

Srs Michael Schumacher, Ross Brown e Jean Todt, está nas mãos de vocês: o que nos reserva 2003?

Enquanto aguardamos a resposta, renovo os votos de Feliz Ano Novo!

Eduardo Correa

P.S.: Pensando bem, não podemos deixar de considerar como excelente presságio o fato de, em 73, 83 e 93, pilotos brasileiros terem ido muito bem no campeonato. Alô, alô, Rubinho. Um feliz 2003 para você!

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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