Panda
Se segura na cadeira: vamos falar de um assunto que você odeia com todas as fibras do seu ser: futebol.
Você diz que não assiste nem aos jogos do Brasil. Vou fazer de conta que acredito. Se, de fato, não os vê, assim como aos outros jogos da Copa, está perdendo uma oportunidade interessante de comparar Fórmula 1 e Futebol, Schumacher e Ronaldinho, Felipão e Jean Todt.
O que se vê nos jogos da Copa é um alternar de jogadas individuais eventualmente brilhantes e falhas bizonhas de craques festejadas no mundo inteiro.
Vamos considerar apenas Itália e Coréia, jogo ao qual acabei de assistir. Anotei algumas falhas até que desculpáveis num jogo entre os casados do Gptotal e os solteiros do www.grandepremio.com.br mas que não consigo aceitar numa partida envolvendo a seleção da Itália, tricampeã mundial e onde, supostamente, se disputa o maior dos campeonatos nacionais:
– dois zagueiros italianos cometem um pênalti logo no começo dojogo, um pênalti infantil, ridículo, desnecessário, indesculpável. Aliás, não um mais dois um pênaltis. Na mesma jogada, dois zagueiros cometem faltas grosseiras, separadas uma da outra por alguns metros.
– 1 x 0 para a Itália, jogo chegando ao fim, falta para a Coréia na cara do gol da Itália. O atacante coreano chuta rasteiro. Meia dúzia de italianos com a mão você sabe onde pulam, como se a bola viesse pelo alto. A bola passa mansamente pela barreira, rolando poucos milímetros acima do gramado. O goleiro italiano tem de fazer um pequeno milagre para mandar a bola para escanteio.
– Gol de empate coreano. O zagueiro italiano, dentro da área, 43 minutos do segundo tempo, tenta matar uma bola cruzada, se atrapalha como se fosse eu ou você e deixa a bola com açúcar nos pés do atacante coreano.
– No gol de ouro, o zagueiro italiano, 1,85m, deixa o atacante coreano, um tampinha dez centímetros mais baixo, saltar à vontade, cabecear e decidir o jogo.
Quer falar dos erros de Brasil e Bélgica? Ou de Senegal e Suécia? Vamos lá. É assim em todos os jogos. Um erro depois do outro. E alguma bela jogada aqui ou ali.
Me impressiona que os comentaristas que “entendem” de futebol consideram este suceder de erros normal ou algo próximo disso. Na verdade, nem acham que o que mencionei foram erros. Não vi ninguém menciona-los. Talvez tenham sido enganos, infelicidades, coisas que acontecem a quem joga.
Agora pense se os meus amiguinhos da Fórmula 1 cometessem o mesmo volume de erros que seus amiguinhos do futebol. No primeiro GP da temporada teríamos o grid reduzido à metade e na segunda corrida do ano o campeonato terminaria por falta de competidores.
Não que não pilotos de Fórmula 1 não cometam mancadas homéricas (diz a lenda que Piquet, numa corrida de Fórmula 3, engatou marcha a ré na largada…) mas elas são incomensuravelmente mais raras.
No campeonato deste ano, talvez a maior mancada – descontado as de Alex Yoong e Takuma Sato, que são café-com-leite – tenha sido cometida por Nick Heidelf no acidente no GP da Áustria: ele simplesmente não aqueceu o suficiente os freios a carbono do seu carro e vôo para cima do pobre Sato na primeira freada forte depois que o safety car deixou a pista.
Mas Nick Heidfeld não é exatamente um Ronaldinho do automobilismo. Quando você pega os mega astros da Fórmula 1, gente como Schumacher, verá que este praticamente não falham na condução dos seus carros.
Por que? Talvez porque estejam expondo seus delicados pescoços de uma forma que nenhum jogador de futebol jamais fez. Talvez porque se dediquem mais ao esporte, treinem mais, sejam mais concentrados, mais focados, mais dedicados.
Não quero defender Schumacher mas preciso tomá-lo como parâmetro. Nenhum jogador, nem mesmo Ronaldinho, tem um quarto dentro do estádio para passar as noites e chegar mais rápido aos treinos no dia seguinte. Pois Schumacher tem – um quarto completo, no andar superior da mítica casa atrás dos boxes da pista de Fiorano.
Nenhum jogador de futebol treina das 8h às 18h e depois vai parao ginásio fazer exercício puxadíssimos para fortalecer a musculatura do pescoço e ombros. Schumacher faz.
Neste sentido a Fórmula 1 está muitas copas do mundo à frente do futebol. Lá tudo foi exarcebado, da preparação dos pilotos aos recursos tecnológicos. No futebol, as coisas ainda ficam meio na zona do agrião – e tome erro…
É isso aí. Boa sorte para o Brasil na próxima sexta-feira
Eduardo Correa