FANGIO EM SUA ÚLTIMA CORRIDA, REIMS, 58
Durante muito tempo, imaginei que o Velho Maestro estava apenas cansado quando foi alvo desta foto extraordinária. Hoje, penso diferente. Talvez ele estivesse com raiva, talvez ele tivesse lido Dylan Thomas:
Não entre sem resistência pela noite da boa morte
A velhice tem de arder e imprecar quando o fim estiver próximo
Fúria, fúria contra a luz que se apaga.
MIKE HAWTHORN E SEU FERRARI EM SPA 58
O marketing já estava lá, nos cartazes publicitários ao longo da pista, mas não os cintos de segurança nos carros, que só entrariam pra valer na F1 no final dos anos 60. Pilotos, não raro, eram jogados para fora dos seus carros. A cena com Sarti em Monza, como vimos em Grand Prix, não era ficção.
E, sim, também os fotógrafos podiam arriscar a pele com mais liberdade naqueles tempos selvagens.
JIM CLARK E SEU LOTUS EM INDY 65
Ele parece um garoto imerso em carro imenso, difícil e ameaçador, como deveria, de fato, ser. A coragem exposta em uma foto singela, provavelmente a que mais me marcou em meus mais de 50 anos de automobilismo.
Certamente há uma conexão entre a foto e meus devaneios infantis que misturavam carros e naves espaciais, corridas e a conquista do espaço. Talvez visse em Clark a emulação de um astronauta e, num caso e em outro, o destemor levado ao extremo, a exposição da vida – como se viu, plenamente veraz – em troca de um ideal romântico e muito, muito, humano.
MAURO BIANCHI, LE MANS 68
Esta foto me assombrou por anos. Não lembro quando a vi pela primeira, tampouco quem era o piloto e o que aconteceu com ele. Só tempo depois soube que se tratava de Mauro Bianchi, avô de Jules, falecido depois do acidente em Suzuka 14.
Mauro corria em 6º lugar em Le Mans 68 quando bateu seu Alpine, que explodiu em chamas, uma bola de fogo assustadora. Milagrosamente, Mauro escapou apenas com queimaduras no rosto e nas mãos.
MONZA, 55
Como Maria Callas no alla Scalla, os Mercedes 196S de Moss e Fangio brilham nas curvas inclinadas de Monza, na única vez em que passaram por lá. Imagino o som que produziam nos bosques de Monza. Fangio ganhou sem dificuldades, a Mercedes fez também o 2º lugar com Taruffi, mas dois carros seus – Moss e Kling – ficaram pelo caminho.
DAYTONA, 67
A mais linda chegada de todos os tempos, a mais doce vingança da história do automobilismo. Uma parada de Ferraris no quintal da Ford em plena guerra entre os fabricantes. Amon e Bandini em 1º, Parkes e Scarfiotti em 2º – as duas duplas com Ferrari 330P4, um dos mais belos carros de todos os tempos –, Rodrigues e Guichet em 3º, com Ferrari 412P.
Meses depois, a Ford teceria a sua vingança em Le Mans…
LE MANS, 69
Naqueles tempos selvagens, era assim que se largava em Le Mans, os pilotos atravessando a pista correndo, se jogando dentro dos carros, ligando os motores e arrancando do jeito que desse.
Zero preocupação com cintos de segurança, sequer com a trava das portas. Ainda que espetacular, este estilo de largada foi abandonado em 70.
CLERMONT FERRAND, 70
As acomodações, para o público e as equipes, eram bem mais simples naquela altura. Na foto, o que se pode chamar de garagem da equipe Lotus no GP da França 70, disputado no magnífico e perigoso circuito de Clermont Ferrand, em 5 de julho.
O Lotus 72 de número 6 ganhou a corrida, com Jochen Rindt ao volante.
Bom ano, com vacina para todos
Eduardo Correa
7 Comments
Edu,
ver fotos dos bons tempos do automobilismo raiz não tem preço.
Elas por si só já contam uma bela história onde a coragem dos pilotos se alinham com a beleza dos carros.
Momentos certamente inesquecíveis para quem pode ver ao vivo.
Momentos, que com estas fotos, ficam inesquecíveis por estarem retratadas.
Fantastica a sua coluna
Fernando Marques
Niterói RJ
Grande Edu! Cara só não gosto mais de você porque aparece pouco. Mas não deixe de aparecer. O amor pela velocidade está em baixa. Obrigado.
Grande Edu!
Que belas fotos e lembranças você nos trouxe, muito obrigado!
Ao ver a foto do MIKE HAWTHORN E SEU FERRARI EM SPA 58 com o fotógrafo bem próximo da pista, lembrei do GP da Argentina de 1960, em que um fiscal de pista com um recipiente cheio de água, arremessa na direção do rosto do piloto argentino Roberto Bonomi, que com a boca aberta tenta matar a sede.
E também, ao ver a foto dos mecânicos da Lotus trabalhando em CLERMONT FERRAND, 70, lembrei daquela cena clássica do Filme Grand Prix, em que os pilotos estão almoçando no TABAC Bar Restaurant.
As fotografias tem a magia de nos fazer parar no tempo, e, da mesma forma, viajar no tempo.
Feliz 2021 com vacina a todos nós!
Grande abraço!
Mauro Santana
Delícia de texto !