Futuro repetindo o passado

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Voltando nove anos no tempo, Lewis Hamilton liderava o Grande Prêmio da Malásia de 2016 e se aproveitando de um toque recebido por Nico Rosberg na primeira curva em Sepang, estava prestes a assumir a ponta do campeonato pela primeira vez, quando o motor Mercedes explodiu sem aviso. Lewis saiu do seu Mercedes inconsolável e pelo rádio ainda lembramos de sua frustração. Mesmo vencendo as últimas quatro provas do campeonato 2016, Hamilton foi incapaz de superar o zero ponto na Malásia e o título ficou com Nico.

Retornando para 2025 e mesmo sem sabermos quem será o campeão dessa temporada, podemos estar vendo o passado se repetindo. Lando Norris liderou todos os treinos livres, perdeu a pole por milésimos e fazia uma corrida equilibrada contra seu companheiro de equipe e rival pelo título Oscar Piastri quando o seu motor Mercedes, como nos tempos da briga Hamilton/Rosberg, abriu o bico quando faltavam sete voltas para o fim do animado Grande Prêmio dos Países Baixos.

Um zero ponto para Lando Norris que pode fazer toda a diferença a favor de Oscar Piastri, vencedor da prova desse domingo.

Nesse domingo a Formula Indy fechou a temporada 2025 com vitória de Josef Newgarden, com o tetracampeão Alex Palou terminando em segundo lugar, antes de levantar o belo troféu da Indycar. A temporada de Palou foi das mais dominantes já vistas na Indy. O conceituado jornal Indianapolis Star soltou na última segunda-feira uma possível negociação de Palou assumir o segundo carro da Red Bull em 2026, correndo ao lado de Max Verstappen, com quem correu na época do kart. Sem encontrar um piloto com um desempenho ao menos digno ao lado de Max, a Red Bull não teria muito a perder em experimentar Palou, que, sim, teria muito a perder. Ao chegar à Nashville, Palou não apenas negou qualquer negociação, como falou que essa notícia fora algo plantado por um empresário de um piloto da Indy, de olho em seu lugar na equipe Ganassi. Porém, essa não seria a única notícia de um possível crossover entre Indy e F1.

Nessa semana a Cadillac anunciou seus dois pilotos na estreia da equipe na F1 em 2026, com o retorno dos veteranos Valtteri Bottas e Sérgio Pérez, causando certa frustração na torcida brasileira, pois Felipe Drugovich estava de olho em uma dessas vagas. Contudo, olhando de forma bem pragmática, para uma equipe que chegará na F1 vindo do zero, quanto mais experiência tiver a disposição, melhor para ela. E experiência não falta para Bottas e Checo. No entanto, a jornada dos dois pilotos, que reestrearão na F1 com mais de 35 anos de idade, pode ser bem curta. Dito e havido como o piloto americano jovem mais talentoso dessa geração, Colton Herta estaria saindo da Indy e se mandando para a F2 em 2026, não apenas para garantir os pontos da superlicença, como se preparar melhor para a F1 em 2027 ou 28.

Pelo o que vem fazendo na Indy, entre Herta e Palou, o espanhol mereceria bem mais uma chance na F1.

O retorno da F1 das férias de verão, em Zandvoort, foi de um cenário bem parecido de antes do recesso. A McLaren dominou todos os treinos livres, com Lando Norris sempre à frente, enquanto Oscar Piastri ainda tateava o seu potencial na capciosa pista neerlandesa. Porém, na classificação, Piastri tirou a pole de Norris por muito pouco.

Max Verstappen fez de tudo para dar uma alegria para a sua torcida, que lotou as arquibancadas em Zandvoort, mas o máximo que o neerlandês fez foi conquistar o terceiro lugar, ou seja, o melhor do resto. Hadjar surpreendeu ao superar Russell e largar da segunda fila. Isso faria toda a diferença no domingo, enquanto a Ferrari se recuperou parcialmente de um final de semana que vinha sendo duro para os italianos, mas que não melhoraria no domingo.

A esperada chuva em Zandvoort, falada desde o início da semana nos três dias de Grande Prêmio dos Países Baixos ficou na ameaça e apenas alguns pingos caíram que pouca diferença fez para a corrida. Com nuvens carregadas no horizonte, a largada foi dada sem maiores problemas e Piastri quase que imediatamente foi para direita, cortando qualquer ameaça de Norris por dentro. Correndo em casa e tentando criar qualquer chance para fazer algo a mais, Max Verstappen optou pelos pneus macios e isso foi uma vantagem na largada, com o neerlandês pulando para segundo e chegando a ficar lado a lado com Piastri na primeira curva, que não teve maiores pudores em fechar o anfitrião do dia.

Norris por pouco recuperou a segunda posição, mas Verstappen mostrou sua magia ao se manter na posição carregando muita velocidade entre as curvas 2 e 3, mas perdendo a aderência do seu carro, porém, Max segurou seu Red Bull e a posição com maestria. O único incidente aconteceu com Bortoleto, que ficou sem potência na largada e imediatamente caiu para último. Leclerc mostrava suas credenciais ao ultrapassar Russell na primeira volta, iniciando o dia de muita pressão em cima do incrível Isack Hadjar, sempre com alguém lhe enchendo os retrovisores.

Com Verstappen o separando de Norris, Piastri aproveitou para abrir o máximo que podia, mas não demorou para que os pneus macios de Verstappen começassem a perder ritmo e antes da décima volta Norris efetuou uma bela ultrapassagem sobre Max, por fora na curva Tarzan. Nesse momento Piastri liderava com 4s de vantagem e ao se livrar de Max, Lando tirava a diferença aos poucos.

A corrida ficou estática, com as notórias dificuldades de se ultrapassar em Zandvoort ficando claras, mas um ligeira garoa (ou neblina, se você for do Ceará…) se abateu sobre a pista às margens do Mar do Norte, tornando o asfalto ligeiramente escorregadio, mas ninguém pensou em pneus intermediários. Porém, nesse momento Lewis Hamilton coroou mais um final de semana nada frutífero em 2025 e bateu na curva 3, ao passar pela parte verde e estatelar sua Ferrari no lugar. O Safety-Car apareceu, mexendo com a estratégia das equipes, mesmo que na frente não tivesse tantas mudanças. A McLaren escolheu a bola de segurança e trouxe seus dois pilotos ao mesmo tempo, colocando pneus duros, mesmo que Norris quase levou o mecânico do macaco dianteiro junto.

O SC trazido por Hamilton acabou atrapalhando Leclerc, que tinha acabado de fazer sua parada e o monegasco acabou ultrapassado por Russell. Na tentativa de dar o troco, Leclerc efetuou a manobra do dia, ao arriscar um ‘dive bomb’ na apertada chicane e após se esfregar com Russell, completar a manobra. O inglês da Mercedes ficou uma arara, reclamando via rádio, mas a investigação ficou para depois da corrida.

Com os dois pilotos da McLaren andando mais próximos, a corrida ficou mais tensa, com Oscar e Lando sempre separados por menos de 1,5s. A corrida seguia seu fluxo normal, quando a Mercedes resolveu mudar a estratégia de Andrea Kimi Antonelli e colocou pneus macios no carro do italiano faltando vinte voltas. Temendo ver Leclerc atacado por Antonelli nas voltas finais, a Ferrari imediatamente trouxe Charles para os pits e colocou os mesmos pneus de Kimi.

Leclerc voltou à frente de Antonelli, mas o que o ferrarista não contava era que Antonelli resolvesse ultrapassa-lo numa manobra para lá de otimista na curva 3, resultando num toque entre eles e Leclerc ficando no mesmo muro que Hamilton batera voltas antes. Zero ponto para a Ferrari no mesmo local. Antonelli teve um pneu furado, foi punido em 10s pelo toque em Leclerc e posteriormente mais 5s por excesso de velocidade nos boxes quando visitou os pits pela terceira vez. Zero ponto para o jovem italiano.

Isso motivou a McLaren trazer seus dois pilotos para os pits e mesmo num processo longe de ser perfeito, os dois se mantiveram na ponta rumo a mais uma dobradinha. O motor Mercedes já tinha quebrado nos carros da Williams, Aston Martin e da própria equipe Mercedes em 2025, faltando apenas a McLaren. Faltando sete voltas para o fim, Lando reportou fumaça no cockpit e quando a câmera abriu, a fumaça estava em todo lugar na McLaren de número 4. O motor Mercedes completara a cartela em 2025 e todas as equipes que usam a usina de Stuttgart abandonaram pelo menos uma vez. E Lando Norris foi o ‘escolhido’ da McLaren.

Obviamente Lando Norris saiu do carro arrasado, enquanto o SC voltava à pista, mas a corrida estava ganha para Oscar Piastri, que completou seu primeiro ‘Grand Chelem’ da carreira. O australiano não começou o final de semana de forma prodigiosa, mas apareceu no momento certo na classificação e após uma boa largada, controlou as 72 voltas do Grande Prêmio dos Países Baixos. O australiano venceu de forma sóbria e ainda teve a sorte (de campeão?) de ver seu rival mais próximo ter uma rara explosão de motor, fazendo com que a diferença entre os dois primeiros colocados no campeonato suba para 34 pontos. Piastri começa a se colocar numa situação de, na mesma forma como controlou a corrida de hoje, a controlar o campeonato até o fim.

O abandono de Norris fez com que Max Verstappen chegasse num bom segundo lugar, coroando mais um final de semana em que o neerlandês andou bem mais do que o potencial do carro. Tsunoda fez uma corrida anônima na maior parte do tempo e que só lhe rendeu pontos pelas entradas do SC, que acabaram favorecendo ao nipônico voltar a marcar pontos depois de bastante tempo. Bem melhor do que ele fez Isack Hadjar. Após uma classificação estupenda, o jovem francês da Racing Bulls segurou a pressão de Leclerc e Russell a corrida inteira, não se intimidando pelos nomes que o perseguia. Hadjar fez uma prova correta, seu time fez uma estratégia sem maiores invencionices e com a quebra de Lando, Isack conseguiu o primeiro pódio da carreira, além de se tornar o francês mais jovem a subir ao pódio da F1. O problema disso é se Hadjar for ser promovido. Lawson estava marcando bons pontos para a Racing Bulls, mas na primeira relargada se envolveu num toque com Carlos Sainz e a corrida de ambos acabou ali. Sainz foi punido pelo incidente e ficou cuspindo maribondo via rádio, se dizendo inocente pelo toque.

Russell teve seu assoalho danificado com o toque recebido por Leclerc e por isso teve sorte em manter o quarto lugar e marcar importantes pontos para a Mercedes, que luta com a Ferrari pelo vice-campeonato no Mundial de Construtores. Albon fez uma ótima largada, se manteve nos pontos o tempo inteiro, andou no ritmo da dupla da Mercedes e com os problemas que ocorreram ao seu redor, garantiu bons pontos com um quinto lugar.

A Haas largou com seus dois pilotos com pneus duros, esticou ao máximo seu primeiro stint e colocou os médios apenas no segundo SC, fazendo com que seus pilotos parassem nos pits uma vez e com os pneus certos na segunda metade de prova. Mesmo largando do pit-lane, Bearman conseguiu um ótimo sexto lugar, seu melhor resultado na F1 até agora, com Ocon fechando a zona de pontuação. A Aston Martin começou o final de semana dando pinta que poderia brigar por algo acima do que vinha fazendo em 2025, mas a classificação mostrou que não era bem assim, ainda mais com Stroll batendo no Q1, o segundo acidente de Lance no final de semana. Largando em último, o canadense foi o primeiro a fazer pit-stop e depois colocou o terceiro set de pneus na hora certa e ficar em sétimo na bandeirada. Alonso teve uma corrida mais conturbada, onde se estranhou com seu engenheiro de pista via rádio, mas a experiência do espanhol prevaleceu e Alonso foi oitavo, no entanto, mais uma vez, ficou a sensação que a Aston Martin acertou na estratégia com o piloto errado.

Já a Sauber errou à vontade na estratégia dos seus pilotos e mesmo Bortoleto relargando em décimo, o brasileiro estava com os pneus errados e foi engolido pelo pelotão. A Alpine tentou fazer o mesmo com Gasly, que resistiu o quanto pôde, mas teve o mesmo destino de Gabriel. Já Colapinto tentou um ‘all-in’ no último SC e quase garantiu um ponto, mas a corrida acabou e o portenho teve que se conformar com o 11º lugar.

Zandvoort viu uma corrida acima das expectativas e o grande vencedor foi Oscar Piastri, não apenas pelo triunfo no domingo, como pelo abandono infeliz de Norris, que saiu dos Países Baixos mais de trinta pontos atrás no campeonato e sua situação ficando bem complicada.

Como seu compatriota Hamilton nove anos atrás, podemos esquecer todos os erros que Lando Norris cometeu durante o ano, mas a quebra de motor em Zandvoort poderá ser lembrada como o grande diferencial que poderá ter dado o título à Piastri no final do ano.

Abraços!

João Carlos Viana

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J.C. Viana,

    Eu acho o Piastri melhor do que o Norris mas o inglês deu muito azar com o berro do seu motor … agora penso que ainda tem muitas corridas pela frente e muito chope pra rolar.
    A disputa pelo título ainda está em aberto.

    Quanto a corrida, valendo da dinâmica que virou regra na fórmula 1 para um leigo leitor como eu, foi chata.

    Quanto ao Bortoleto foi uma pena seu problema na largada …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. RAFAEL FRIEDRICH disse:

    Rapaz, que azar, depois de andar anos com uma McLaren capenga e melhorar o carro o companheiro que vai ganhar o título? A Vida e seus desígnios. Como os carros hoje não são de muito quebrar Lando se ferrou. Boa semana a todos.

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