GP da Austrália

PRIMEIRAS ACELERADAS
01/03/2002
AINDA MELBOURNE
06/03/2002

Panda

Vamos tentar nos limitar aos fatos, antes de pensar em malhar ou livrar a cara do Rubinho.

Ele larga e vai para o centro da pista, buscando defender sua liderança. Mas Ralf é bem mais rápido. Com muita decisão, joga o Williams para a direita e vê um espaço vazio à frente. Suas chances de chegar primeiro à curva são grandes, ainda que ele tivesse de toma-la de forma pouco favorável.

Rubinho parece que vigiava Ralf pelo retrovisor e imediatamente fecha-lhe a porta com uma manobra rude (muito rude, diga-se, e até condenável mas não pior do que as manobras que Michael Schumacher cansou de fazer, inclusive à frente do próprio irmão).

Ralf reage à manobra de Rubinho num átimo: torce o volante para a esquerda e volta para o centro da pista. Uma ultrapassagem torna-se menos provável mas Rubinho é quem fica, agora, com a tomada da curva totalmente prejudicada.

Por isso, nosso garoto volta ele também para o centro da pista e é atingindo em cheio por Ralf, que voa pavorosamente por sobre o Ferrari, desencadeando o acidente que vai custar a corrida de outros seis pilotos.

E aí? De quem é a culpa? Se Rubinho é culpado, não sei, mas acho que ele desacelerou o Ferrari antes do tempo, surpreendendo Ralf.

Note duas coisas: primeira, como a distância entre Coulthard, Raikkonen e Michael Schumacher se mantêm em relação à Ralf nos momentos imediatamente anteriores ao acidente. Se Ralf estivesse rápido demais o tivesse retardado a freada, a tendência seria a abertura de alguma distância entre ele e os carros mais próximos, o que não acontece.

Segunda: Coulthard, o único piloto que não teve de comprometer trajetória em função do acidente, só começou a frear alguns metros à frente, chegando mesmo a travar levemente os pneus.

Diante disso concluo que não foi Ralf quem acelerou demais e bateu na traseira do Ferrari mas que foi Rubinho quem tirou o pé antes da hora e bateu na frente do Williams.

Esta é, repito, uma impressão, não um julgamento. A largada é um momento em que os escrúpulos são escassos. Estando na frente, Rubinho pode ter optado por jogar uma cartada arriscada mas que é usada com frequência por outros pilotos. O que aconteceu de fato, só quem está lá dentro pode saber.

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E só quem está lá dentro pode dizer o que se passa na cabeça de um piloto quando vê um colega decolar dois metros do chão.

Na verdade, houve dois acidente na primeira curva: o de Rubinho e Ralf e outro, que começou quando Heidfeld, provavelmente assustado com a batida à sua frente, jogou seu carro para o acostamento interno. Naturalmente não pode frear adequadamente e voltou a pista sem controle, atingindo Fisichella que atingiu Massa (que ficaria com o 4º lugar se tivesse escapado do acidente). Button, McNish e Panis não conseguiram desviar e ficaram por ali mesmo.

Interessante observar também a reação de Raikkonen e Schumacher à batida. Eles, sem dúvida, assustaram-se e simplesmente deixaram seus carros deslizarem para fora da pista. Na grama, Raikkonen quase foi atingido pelo Ferrari de Rubinho.

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Por estas e outras, acabamos vendo uma corrida de nível técnico muito baixo, com tempos de volta bastante altos e a vitória fácil de Michael Schumacher. McLaren e Williams não eram páreo para o velho Ferrari e alemão, descontando a resistência inicial de Trulli e a exuberância irracional de Montoya, não precisou forçar para ganhar.

Sorte da Jaguar, Minardi e Toyota que conquistaram pontos que nem o analista mais otimista seria capaz de prever.

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E, de novo, Montoya passa Schumacher por fora. Este Montoya…

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Encerro expressando meus parabéns a vários pilotos e equipes pelo seu desempenho no GP da Austrália. Deixo a você e aos leitores o trabalho de decifrar onde estou ou não sendo irônico.

– Parabéns à equipe Arrows pela dupla falha na largada. Me lembrou a gloriosa McLaren do ano passado.
– Parabéns ao Jarno Trulli, que fez tudo para reforçar a opinião daqueles que o consideram um dos grandes cheques sem fundo da Fórmula 1 atual.
– Pelos mesmo motivos, parabéns ao David Coulthard, que deixou o McLaren escapar para a grama sob bandeira amarela. Espero que os jornalistas ingleses estejam comendo, neste momento, as intermináveis reportagens do tipo “este ano vai” que escreveram nas últimas semanas. Quanto ao Coulthard, este rapaz ainda vai acabar na Fórmula Indy.
– Parabéns ao Jacques Villeneuve extensivos à equipe Bar, que conseguiu a proeza, enquanto se agüentou na pista, de comer poeira do Mark Webber e seu poderoso Minardi.
– Por falar em Minardi, a equipe merece também nosso calorosos parabéns pelo apuro técnico do seu carro, que teve o bocal do combustível aberto com auxílio de uma chave de fenda.
– Finalmente, parabenizo as almas pias que acharam que Rubinho seria páreo para Schumacher na corrida.

Grande abraço

Eduardo Correa

PS: confira o resultado da corrida na nossa super tabela e aguarde o álbum de fotos do GP da Austrália para esta 2ª-feira.

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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