GP da Itália

REVELAÇÕES DO CAMPEÃO
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18/09/2002

Panda

Uma vitória nota 8 para Rubens, menos pelo que ele fez na pista – foi correto, limpo, veloz – e mais pela falta de oposição com a qual se defrontou.

Monza confirma à perfeição aquilo que venho insistindo aqui: não é só o F2002 que é um grande carro; os outros também são uma m…

O sonho da Williams BMW em combater a Ferrari durou cinco voltas e custou um preço altíssimo, não só em dinheiro. Ralf torrou seu BMW em cinco voltas e Montoya tentou fazer seguidos malabarismos para se segurar num distante 3o lugar. Nem isso conseguiu. McLaren? Que vexame! Terminar a corrida disputando o 7o lugar com um Jordan deve ter custado alguns dias da vida de Ron Dennis – que ainda teve de agüentar bronca de Takuma Sato, depois do acidente nos treinos de sábado com Kimi Raikonenn.

Visto de outro ângulo: Rubinho assumiu a liderança na 5a volta e mesmo tendo ficado preso pelas Williams até então, já acumulava doze segundo de vantagem para o 4o colocado.

É o caso de se dizer: com um Ferrari na mão, até eu faria bonito…

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Afinal: o Rubinho correu bem?

Correu mas, independentemente dos adversários e do próprio Schumacher, podia ter corrido mais. Rubinho se segurou para não fazer uma bobagem, forçando uma ultrapassagem precoce sobre Montoya. Passou e, aí sim, fez uma belíssima seqüência de voltas, andando em ritmo de classificação e abrindo uma avenida sobre Schumacher e os demais. Parou pela primeira vez (a estratégia de duas paradas para Rubinho e uma para Schumacher mostra que a Ferrari superestimou as possibilidades da Williams), voltou e tinha a responsabilidade de continuar em ritmo de classificação. Aí, ele não foi tão bem. No final das contas, só se manteve em primeiro depois do seu pit stop final graças à uma mãozinha de Schumacher.

Não chega a ser motivo para criticar o bons Rubens mas já é o bastante para lhe negar a nota dez que ele mereceu na Áustria e em Nurburgring.

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Quem não correu bem, pelo menos não como estamos habituados a ver, foi Schumacher.

Note como ele beliscou mais zebras do que deveria, foi menos incisivo nas ultrapassagens, menos constante durante a corrida, da mesma forma que na corrida do ano passado, quando foi apenas um distraído 4o colocado.

Pilotos como ele, quando largam sabendo que em condições normais não podem vencer, fazem mesmo destas coisas. A um grande campeão, só interessa a vitória.

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Montoya correu mal. Exagerou na largada, com já fez em outras ocasiões, preocupando-se tanto em cortar a frente de Schumacher que perdeu a ponta para Ralf. Exagerou também nas freadas, quase perdendo o controle do carro por duas vezes e provavelmente comprometendo sua suspensão dianteira.

Pilotar carro ruim é fogo!

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E olha a Jaguar aí, gente. A evolução da Jaguar mostra que as pessoas ainda são capazes de aprender com os próprios erros. A equipe foi bem nos treinos, melhor na corrida, trazendo Irvine ao pódium, o que não acontecia desde Mônaco 01, quando chegou em 3o, atrás da dupla da Ferrari.

Imagino o nível de tensão da equipe nos últimos meses, trabalhando sobre pressão máxima, correndo o risco de ver a equipe ser rifada pela Ford, a cabeça de todo mundo a prêmio, a começar por Niki Lauda que, como chefe de equipe, tem se revelado um grande piloto.

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Vai se tornando distante o sonho de Peter Sauber em repetir o 4o lugar no campeonato de construtores obtido em 2001.

Com o 4o e 5o lugares da Renault em Monza, a equipe abre nove pontos de vantagem sobre a Sauber e se firma na 4a colocação. Acho que Heidfeld e Massa não têm café no bule para descontar esta vantagem em duas corridas.

Peter Sauber disse que considera uma distinção ficar atrás apenas de algumas das maiores fabricantes de automóveis do mundo.

Ele tem razão. Eu também ficaria orgulhoso mas é inegável que a sua equipe andou para trás este ano. Depois do GP de Monza, em 2001, a Sauber contava 20 pontos. Hoje tem pouco mais do que a metade disso. Culpa de Massa? Você pode dizer que sim, se quiser ser maldoso. Mas olhe para Heidfeld. Ele tinha onze pontos depois de Monza. Hoje tem sete, graças a um presentinho que lhe foi dado por Massa, meio a contragosto…

É verdade que a Sauber perdeu seu projetista de 2001, Sergio Rinland, mas tenho a impressão que o esperto Peter investiu menos este ano, guardando para si um pouco do dinheiro que ganha dos seus generosos patrocinadores malaios. Eddie Jordan fez a mesma coisa anos atrás e hoje está pagando seus pecados. Será que a Sauber de hoje não é a Jordan de amanhã?

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As primeiras voltas de Monza foram uma festa de ultrapassagens que, graças à péssima transmissão da TV italiana, ficamos sem ver. Para se ter uma idéia da festa, note que, além da troca de posição nas primeiras posições, tivemos McNish saltando de 13o no grid para 7o ao final da primeira volta.

Ao final da segunda, Trulli, que largou em último, já estava em 12o, Panis, que largou em 16o, estava em 9o, Heidfeld, que largou em 15o, estava em 10o enquanto de la Rosa – que se ferrou legal na primeira chicane – caiu para 15º.

“Culpa” da primeira chicane mas “culpa” também das longas e belas retas de Monza que tornam as ultrapassagens possíveis.

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Ninguém te contou o que aconteceu ao Coulthard, que parou nos boxes ao final da 1a volta? Pois eu te falo: ele bateu na traseira do carro de Raikonenn logo na primeira chicane e perdeu o bico do McLaren.

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Um close da TV italiana no Ferrari de Schumacher freando para a primeira chicane mostra ondas de calor se desprendendo dos freios dianteiros.

Uma coisa que subestimamos – ou simplesmente não podemos imaginar – é a dificuldade de frear um carro de Fórmula 1. Dizem que o pedal praticamente não se move, exigindo controle e força descomunais do piloto. Você e os leitores devem saber que os freios de carbono de um Fórmula 1 só funcionam bem a temperaturas altíssimas (por isso os discos ficam incandescentes) e são terrivelmente eficientes. Dizem que este foi um dos motivos pelo qual Michael Andretti não conseguiu ser rápido na Fórmula 1. Acostumado aos freios de aço dos Fórmula Indy, ele simplesmente não conseguia acreditar que um Fórmula 1 era capaz de desacelerar num espaço tão curto de pista.

Abraços e boa semana a você e aos leitores

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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