GP da Malásia

RIDÍCULO!!!
17/03/2002
BEM-VINDO, GRANDE PRÊMIO
25/03/2002

Panda

Houve um tempo em que o pole largava para a frente. Mas este tempo ficou para trás. Hoje, o pole larga para o lado.

Em Sepang, o pole era Schumacher e, quando as luzes vermelhas se apagaram, ele jogou seu Ferrari uns oito ou dez metros para a direita, com o único intuito de cortar a trajetória de Juan Pablo Montoya, 2º colocado no grid. No meu bairro, isto se chamava fechada.

As coisas mudaram tanto talvez porque largar ficou muito mais fácil.

Antigamente, nos tempos de Emerson e Stewart, por exemplo, a primeira fila era constituída de três carros perfeitamente alinhados – e não um aqui, outro lá atrás e assim por diante.

E mais: ao largar, Emerson tinha de engatar a primeira marcha dois ou três segundos antes da bandeirada (não, nada de luzes seqüenciais), elevar o giro do motor sem ultrapassar o limite do motor, soltar a embreagem com precisão e trocar as marchas até a primeira curva.

Hoje, há carros de Fórmula 1 em que basta ao piloto soltar um botão no volante. O carro eleva o giro do motor, solta a embreagem e troca as marchas automaticamente até a primeira curva. Com tão pouca coisa para fazer no cockpit, o piloto se sente tentado a sacanear o pobre do 2o colocado, que já parte com uns quatro ou cinco metros de desvantagem em relação ao pole.

Pode ser que seja só isso. Pode ser também que haja mais dinheiro em jogo, mais vaidades, mais filha-da-putice, da mesma forma em que há menos esportistas na Fórmula 1 de hoje.

E tome fechada. Não canso de me impressionar com esta atitude, repetida pontualmente a cada largada. Para mim, cheira a deslealdade. Feio, muito feio.

O que Schumacher fez com Montoya na largada em Sepang foi um absurdo que, infelizmente, tornou-se comum. Por isso, nem notamos mais, como quando somos assaltados e sequer registramos queixa.

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Agora, punir Montoya pelo esbarrão na largada não é um absurdo; são dois.

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Michael Schumacher registrou sua surpresa com o tempo da pole em Sepang, mais lento do que o de 2001. Surpreendi-me também. Havia previsto aqui no GPTotal algo em torno de 1m34 e ele não foi além de 1m35, depois de ter baixado em 1,5 segundo o tempo da pole na Austrália.

Por que na Malásia os carros tornaram-se mais lentos? A Fórmula 1 ainda tem os seus mistérios que nem Schumacher é capaz de desvendar.

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A Ferrari percebeu cedo que a Williams seria um osso duro de roer em Sepang. Por isso, optou pelas duas paradas. Mas a coisa estava decididamente preta para os lados italianos. Rubinho sai na frente mas, ainda que estivesse mais leve do que Ralf não consegue abrir mais do que míseros cinco segundos de vantagem em 20 voltas. Tinha de abrir uns 20 ou mais.

Culpa do Rubinho? Nada indica. Os tempos de volta do brasileiro são, em média, semelhantes aos de Michael Schumacher. Creio que, na Malásia, mesmo ele não conseguiria tirar no braço a diferença para os Williams.

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Enquanto tecia minhas pobres previsões para a temporada 02, fiquei receoso em estar subestimando as chances da Williams no começo do campeonato. Lia que Berger, Ralf e Montoya consideravam que o carro precisava melhorar etc. Mas pensava também no que o Ricardo Divilla falou para você: eles escondem o ouro nos testes. Lembrei também que o Antonio Pizzonia explicou que era orientado a só abrir volta rápida na parte de trás do autódromo, de forma que pudesse fazer tempo sem precisar passar rápido duas vezes diante dos boxes.

Para quem gosta de teorias conspiratórias, está posta a mesa: sabedora dos problemas da Ferrari com o novo carro, a Williams simulou a própria fraqueza, estimulando a maior rival a se sentir segura com o carro de 2001.

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Agora, imagino eu, a Ferrari corre para preparar o novo carro para o GP do Brasil. Já pensou a fria se o carro não for aquilo tudo?

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Mas que bando de idiotas! Os jornalistas ingleses continuam reafirmando o favoritismo de Coulthard. Três dos mais reputados deles consideravam o escocês como favorito destacado à vitória na Austrália.

Caíram de quatro, inclusive Coulthard, que já se considera um azarão na corrida pelo título 2002.

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Para o autódromo da Malásia ser perfeito só falta uma coisa: público. É patético ver um elefante branco daqueles freqüentado por virtualmente ninguém.

Fica a sugestão para os organizadores malaios: importar público dos países vizinhos.

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Enrique Bernoldi tem todos os motivos para alimentar uma ponta de orgulho: afinal, ultrapassou Michael Schumacher. Nos últimos tempos, que me lembre, só Montoya e Coulthard conseguiram tal proeza.

Bernoldi não baixa a cabeça para os figurões, como Massa pareceu ter baixado quando foi ultrapassado por Schumacher. Está bem que o brasileiro é mais ou menos da mesma equipe, graças ao motor Ferrari que empurra o Sauber. Mas também não precisa facilitar tanto as coisas.

Como disse o próprio Bernoldi, na Fórmula 1, não se diz “passe, por favor”, e sim “passe se puder”.

Grande abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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