Panda
Sem patriotada, que não sou disso: reafirmo aqui minha aposta em Rubinho para o GP de amanhã. Sem motivos técnicos, porque eles não existem. Apenas palpite, chute, feeling, chame lá como quiser.
Claro que, do ponto de vista técnico, Schumacher, Ralf e Montoya estão quilômetros à frente do bom Rubens mas não tem a menor graças prever que um dos três vai ganhar.
Digo Rubinho com a “autoridade” de quem acertou Hakkinen na cabeça no GP dos Estados Unidos do ano passado e também pelo prazer de desafiar as convenções e cravar num azarão – e bota azarão nisso.
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Ralf pintou como pole mas esta acabou nas mãos de Montoya. Schumacher tirou leite de pedra e ficou em 2º, seguido de Ralf, as McLaren, as Renault e Rubinho, apenas em 8º. O forte calor impediu que os tempos caíssem mais.
Confira os tempos do treino de hoje no www.grandepremio.com.br.
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Espere por grandes corridas de Montoya, Schumacher e Ralf, rápidos, afiados, motivados, com grandes carros nas mãos. Eles terão de ser derrotados pelos deuses da pista para que meu palpite dê certo. Atenção especial para a largada. A Williams tem, de longe, o melhor sistema de largada mas Schumacher sai mais leve e pode chegar junto do colombiano no S do Senna. Se sobreviver à primeira curva mas ficar atrás, pode ultrapassar Montoya no final da reta oposta. Mas lembre-se de que Ralf largou em 3º na Austrália e voou para cima de Rubinho. |
Mais para trás na zona de classificação, vale a pena apostar na Renault, Sauber e Toyota que, contrariando todas as previsões de um temporada latrinária, vem fazendo bonito.
Já a McLaren vale apenas como zebra. Reafirmo que Coulthard tem lá suas chances mas terá de superar a falta de potência do motor Mercedes. Com cavalos de menos, a equipe tem de arriscar mais na regulagem do carro em busca de velocidade, tornando-o extremamente difícil de ser pilotado. Talvez por isso, Coulthard e Raikkonen rodaram tanto nos treinos de sexta.
Pode contar também com alguma bobagem de Takuma Sato, o piloto da Jordan. Que me perdoem os japoneses mas Sato leva todo o jeito de ser um digno sucessor dos braço-duros vindos do Oriente .
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Schumacher deve fazer dois pit stops amanhã, a não ser que engane todo mundo com um truque tirado da cartola. É que o novo Ferrari tem um tanque de combustível 10 litros menor do que o do ano passado. As paradas devem acontecer perto das voltas 25 e 45. As Williams, pelo que demonstraram em Sepang, vão tranqüilas para uma única parada, bem tardia, entre as voltas 40 e 45.
E Rubinho? Muito provavelmente terá de fazer duas paradas mas seria mais prudente parar uma única vez. É que Rubinho não é muito bom com a estratégia de duas paradas, que obriga o piloto a pisar mais.
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Para mim, continua sendo um mistério o por quê a Ferrari trouxe um único F2002 para Interlagos. A explicação oficial: apesar de ter três carros 2002 prontos e um em fase de finalização, a Ferrari não conseguiria revisar os três chassis e deixá-los prontos a tempo de embarcá-los para o Brasil, depois de uma semana de testes pesados em Barcelona, quando apenas Rubinho rodou o equivalente a quatro GPs.
Estranho que uma equipe de organização impecável como a Ferrari tenha se atrasado tanto assim. Uma hora, a verdade aparece.
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Por falar em versão oficial, a imprensa italiana, de leve, põe em circulação a explicação da Ferrari para a quebra de Rubinho na Malásia.
Os italianos, você sabe, se orgulham da durabilidade do seu motor que quebrou pouquíssimas vezes desde a temporada passada. A explicação: Rubinho talvez tenha exigido demais do limitador de patinamento das rodas traseiras.
Usando o sistema em demasia, Rubinho teria elevado excessivamente a temperatura dos cilindros do motor, separados dos condutos de água para refrigeração por dois milímetros ou menos. Resultado: o cilindro se rompeu, a água invadiu o cilindro e tudo saiu pelo escapamento na forma de uma nuvem branca de vapor e óleo.
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Outra informação pescada na imprensa italiana: não se surpreenda se Schumacher se classificar com o F2002 mas correr com o carro do ano passado.
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Não acredite nas notícias de que Rubinho já está fora da Ferrari em 2003, cedendo o seu lugar para Massa.
Creio que o diz-que-diz dos últimos dias é apenas mais um lance da novela da renovação do contrato do brasileiro com a Ferrari, ele querendo mais dinheiro, a equipe querendo gastar menos.
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Dói no coração de um discreto nacionalista como eu a chuva de críticas da imprensa internacional – principalmente inglesa – contra São Paulo e o GP do Brasil.
De críticas muito justificáveis à violência da cidade e à pobreza que cerca o autódromo a outras menos explicáveis (como a falta de conforto das instalações), a imprensa chega a críticas absolutamente injustificadas, como “ao trânsito mais caótico do mundo”.
Reluto em dar razão a eles. O trânsito de São Paulo não é pior do que o de Paris e é certamente muito melhor do que das cidades italianas em geral e de Roma em particular. Quanto à pobreza, não há muito o que dizer mas lembro que fui assediado nos semáforos de Milão por menores limpadores de vidro e ciganos bastante agressivos nas ruas de Firenze.
O fato é que os jornalistas não criticam a Malásia, onde certamente os níveis de pobreza são superiores aos de São Paulo. Minha conclusão: a Prefeitura paulistana e cada um de nós precisa fazer mais relações públicas, maquiando a cidade e paparicando os visitantes. As imediações do autódromo estão um pouco melhor este ano, com a quase extinção da enorme favela, substituída por cingapuras, e a melhora na limpeza das ruas. Mesmo assim, é difícil ver um muro sem pichações.
É isso, Panda. Amanhã, estarei em Interlagos e aguardo pelos comentários lá pelas 18h.
Grande abraço e boa corrida para todos
Eduardo Correa