10 + 1

Alonso não está com esta bola toda
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A cara de 2012
30/07/2012

A 1º metade da temporada de 2012 da F1 foi emocionante. Chegamos na Hungria, o que a 2º parte nos reserva?

Vencida a barreira da metade de um campeonato a tempos esperado. Corridas divertidas, nada previsíveis, vários vencedores e um líder se consolidando. Havíamos falado aqui no GPTotal que esse giro europeu seria, como diria o Teo José, a “hora da verdade” para as equipes e pilotos, e agora na Hungria vamos ter a definição desse cenário para o restante do campeonato.

A situação do campeonato é interessante. Parece que há um grande equilíbrio técnico entre as equipes. Nivelado por baixo, medroso, burocrático, mas nivelado. Eduardo Correa fala sobre isso na coluna dessa semana. Não temos carros massacrantes e até uma Ferrari que botou um carro ridículo na pista na Austrália, já oferece um nível de competitividade interessante para dar chance a Alonso beliscar o título. E agora? Começou a segunda parte, mais 10 provas até o campeão ou o Alonso garante a fatura antecipadamente?

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Independente disso tudo, chegamos a Hungria. Uma prova “8 – 80” na opinião dos pilotos. Alguns adoram a pista, outros odeiam de paixão. É o circuito mais lento, mais travado e um dos mais curtinhos do calendário (só é maior que Monaco, Canadá e Brasil). Pra ficar mais animado é sempre disputado com calor escaldante e a pista é estreita, como uma kartódromo. Apesar de termos visto provas na chuva, a primeira só aconteceu em 2006. Incrível.

O circuito está ininterruptamente no calendário desde 1986. Era o ápice de abertura capitalista em terrenos socialistas. Virou tradição. Sempre tem casa cheia na Hungria. Ninguém precisa pintar as arquibancadas com propaganda. Vem gente da Europa toda. Tudo pertinho e com muita emoção. Já vimos corridas épicas e corridas monótonas também, é verdade.

O circuito, em geral, não mudou muito desde 1986. Algumas alterações no final da reta para dar mais chances de ultrapassagens e mudanças menores em curvas. É muito sinuoso e aproveita muito bem as variações de altitude do terreno. Aqui não iremos encontrar as curvas de alta velocidade que demandam muita eficiência aerodinâmica. Na verdade você precisa ter um conjunto mecânico muito equilibrado para não maltratar os pneus enquanto fica virando de um lado pro outro. As mudanças de direção repetidas vezes, as subidas e descidas e a pequena reta deve elevar muito a temperatura dos pneus e provocar um desgaste elevado. Deve, essa é a palavra chave do fim de semana. Por quê? Mais uma vez a Pirelli é novata no tempo seco da Hungria. A corrida do ano passado teve condições de pista molhada. Mas pera lá, eu acabei de dizer que quase nunca chove nas corridas da Hungria, é um calor escaldante, um verão sem fim! Talvez eu deva corrigir ou adicionar a chuva como característica, porque a previsão é de chuva pra sexta e domingo. Um calor absurdo, mas com trovoadas no decorrer do período, diriam os técnicos. Em todo o caso, vou reforçar, são 26 corridas na pista húngara e só duas com chuva.

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Das corridas que nos lembram, vale lembrar duas especiais, separadas por 20 anos, 1986 e 2006.

A corrida de estréia do circuito no calendário presenteou um lance épico já descrito ‘n’ vezes por Eduardo Correa. Se você não leu nenhum relato deles sobre o evento, leia. Se não ouviu, peça para ele contar lhe contar ao vivo. Se você não viu, clique aqui. Aquele belo e ensolarado 10 de agosto de 1986 no presenteou com uma manobra épica do Nelson Piquet sobre um abusado novato brasileiro, o Senna. A Williams-Honda número 6 desenhou o asfalto com sua borracha em um derrapagem lateral impensável para um carro de 800 cavalos distribuídos em pouco mais de 500kg. Não havia efeito solo, não eram mais carros asa. E lá foi lá o Piquet domar esse trambolho todo em um movimento preciso e calculado. Senna, após a corrida, ainda tentava diminuir o feito. Disse que sofria com pneus e que seu pneu estava sujo quando Piquet fez o movimento capital. Ficou com cara de dor de cotovelo, ‘Seu’ Senna!

Guarde o vídeo, pule pra 2006. Um caos de classificação e punições. Muitas punições. Esqueça a vitória de Button, mesmo que tenha sido a primeira dele e a primeira do retorno da Honda. O Show era de Alonso. Da classificação, veio a punição e o 15º lugar no grid. Mas no dia da corrida, chuva! Alonso, lá de trás viria numa estratégia diferente, largando com muito combustível para ficar na pista enquanto os outros paravam e assim ganhar algumas posições. O que vimos na largada, na verdade, foi algo semelhantemente impressionante como o que Senna fez em Donnington 13 anos antes. Claro que dessa vez temos festival de câmeras onboard (na coluna passada falei da nossa alegria de termos a tecnologia a disposição pra nossas corridas, esse é um dos motivos) e podemos acompanhar a primeira volta de Alonso, de 15º para 6º. Tem ultrapassagem na freada, por dentro, por fora, sanduíche, pelo meio. É uma aula! Pena que depois do pit uma porca solta acabou com a corrida do rapaz, bem quando ele liderava. Tem gente que vai me dizer “Os pneus Michellins eram bons na água”, verdade, eram sim! Mas só ele fez isso, não?

httpv://www.youtube.com/watch?v=cEPgPWIbAzA

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Tenho receio das novas regras de motores. Vamos ter novamente aquela clara divisão de forças com as grandes investindo muito em simulações para ter o melhor pacote e as nanicas correndo atrás – literalmente – por alguns anos para chegar “no bolo”.

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Para o campeonato de 2012 a Hungria vai ser a 1º “do resto”. Que tal uma vitória pra ir curtir o verão europeu? A turma da F1 anda sem paciência com o clima das últimas provas. Tem gente que ainda não conseguiu testar todas as atualizações de seus carros, prontas desde Silverstone!

A McLaren está animada com seu pacote revisado na Alemanha. Espera estar forte na Hungria também para uma boa avaliação de como estará na disputa do título. Pra ela, se chover, tá tudo certo, afinal de contas Button foi o único vencedor na Hungria quando choveu (2006 e 2011).

A Ferrari vem em estado de graça com Alonso. Concordo com o Edu na sua coluna sobre a qualidade dos carros e técnica. Mas ainda coloco Alonso nos grandes da F1. Não é o maior de todos, mas está num ano bom. E se tem um cara que tem o mesmo carro que ele e está sofrendo, o Massa, isso nos dá uma ideia da dificuldade de se pilotar o carro. Massa não é gênio, mas não é um Alex Yoong da vida. Veja também, digo que o carro é difícil, não ruim. Aí sim acho que o Alonso faz a diferença por se adaptar melhor. Pra melhorar a situação, é uma pista especial pro espanhol. Foi aqui que ele se tornou o mais jovem piloto a ganhar uma corrida, lá em 2003. Vem inspirado o espanhol! Falta trazer um caneco pra equipe de Maranelo!

Na turma do meio do grupo, vem todo mundo embolado. Lotus sonha com sua primeira vitória e sua nova asa DRS dupla pode ajudar a posicionar o carro em uma posição melhor na classificação. Torcem desesperadamente para uma classificação normal no seco. A Mercedes, bem a Mercedes é sempre uma incógnita de tantos altos e baixos que teve nessa temporada. Podemos apostar que terá um desempenho semelhante a Mônaco? Talvez, mas ninguém arrisca mais. Sauber vem numa boa crescente, esperem uma estratégia de poucas paradas. Os carros suíços conservam muito bem o pneu esse ano e podem dar uma boa estratégia pra seus pilotos. A Williams espera que seus pilotos melhorem. Simples assim. Trazem atualizações mas as corridas de Maldonado e Senna estão recheadas de problemas e desculpas que não refletem o potencial do bom carro inglês.

E a RedBull? Está em último aqui porque é um capítulo a parte. Coitado do Adrian Newey, teve uma solução genial para o mapeamento de motores. O que aconteceu? As equipe chiaram. Reclamaram com a FIA. A FIA foi lá, avaliou e veio o veredicto: nós (FIA) não sabemos escrever um regulamento. Newey entendeu bem o que estava escrito e fez sua magia. A Autosport explicou de forma simples. O curso pressionado do pedal deve gerar exatamente o correspondente de torque no motor no ponto 0% e 100% pressionados, diz o regulamento. Mas não especificou o que precisa ser feito nesse intervalo. Pronto, Newey entendeu que ele poderia brincar nesse pedaço, foi lá e alterou o mapeamento do motor pra manter um fluxo de ar bacana saindo dos escapamentos. Isso melhora a dirigibilidade do motor e o fluxo de ar sobre a carenagem se mantêm contínuo. Simples e elementar. Enfim, foi banido! Agora não pode mais e a FIA prometeu escrever melhor, ou contratar um redator bom. Conheço alguns, se precisar. Nesse cenário, Vettel explicou que não muda nada, o “pacote” é forte, não dependente desse mapeamento e eles vem forte.

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Informações da Pista

Circuito: Hungaroring
Voltas: 70
Comprimento: 4.381 km
Distância: 306.630 km
Recorde da Pista:
1:19.071 – M Schumacher (2004)

Programação

Sexta-Feira
5h – 1º treino livre
9h – 2º treino livre

Sábado
6h – 3º treino livre
9h – Classificação

Domingo
9h – Corrida

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No final das contas, passamos por 10 provas de ouro. A primeira metade do campeonato foi agitadíssima e a 1ª corrida da segunda parte vem antes da pausa de verão. Todos querem uma vitória para ir em paz para as férias. A RedBull e a McLaren vem juntas na missão de parar Alonso. Não duvidem, a disputa vai ser intensa em busca do líder nas 10 provas que restam!

Bom fim de semana e boa corrida!

Abraços
Flaviz Guerra – @flaviz

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

7 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Nunca gostei da pista da Hungria, e olha que de 86 a 88, logo depois da curva 1, era uma sequência de curvas lentas em decida para esquerda, direita, esquerda, direita, e isso deixa a pista ainda mais travada.

    Mas com toda a certeza, Hungaroring é muito, mais muito melhor que os Tilkodromos!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Lucas dos Santos disse:

    Esse fim de semana do GP da Hungria de 2006 foi bastante marcante. Era o primeiro GP da Hungria que eu assistia – sim, eu comecei a acompanhar a Fórmula 1 em 2006 – e lembro-me que quando comentei isso com alguns amigos um dia antes e eles disseram: “Se prepare porque essa corrida vai ser um parto. GP da Hungria é a corrida mais chata do calendário”. E no fim das contas foi uma das melhores daquela temporada.

    O mais bacana é que a chuva no dia da corrida foi apenas um dos ingredientes para torná-la interessante. As punições recebidas por Schumacher e Alonso deram o toque especial. Foi interessante ver ambos fazendo estratégias na hora da classificação para tentar largar o mais na frente possível, pois sabiam que teriam segundos acrescentados a seus tempos. Foi excepcional vê-los pela primeira vez fora do Q3.

    No dia da corrida lembro-me de que perdi a hora, mas acordei exatamente no horário da largada da corrida. Saí da cama e fui direto para a sala ligar a TV. Os carros já haviam feito a volta de apresentação e estavam prontos para largar. Para a minha surpresa, chão molhado. Seria o primeiro GP com chuva que eu assistiria, pois na temporada inteira até então não tinha chovido em nenhuma corrida.

    A largada do Alonso foi sensacional. Aquela ultrapassagem sobre o Schumacher pelo lado de fora da pista então nem se fala.

    Houve algumas surpresas também. Lembro-me que no meio da corrida, o áudio do Galvão Bueno falhou e puseram o Eduardo Moreno, do SporTV, para narrar a corrida por alguns minutos! Teve também aquela trapalhada do Kimi Raikkonen, que, literalmente, passou por cima de outro carro, que eu não me lembro agora de quem era.

    O desfecho da corrida também foi supreendente. Depois de lutarem intensamente durante o fim de semana todo, Alonso e Schumacher acabam fora da corrida. E, como foi dito no Jornal Nacional, “a zebra subiu os três degraus do pódio”, com Button em primeiro, De La Rosa em segundo e Heidfeld em terceiro.

    Enfim, para quem esperava uma corrida monótona, foi na verdade uma corridaça!

  3. Cassio disse:

    Desde sempre tive pouca simpatia pelo GP Húngaro e seu kartódromo, mas nos últimos anos, com o aumento do número de traçados “tilkeanos” na lista, até o Hungaroring passou a ter seu charme, com subidas, descidas, curvas cegas, etc.
    ///
    A primeira volta de qualquer GP é geralmente a mais dificil. Com chuva mais ainda. E largando no fim do grid, complica ainda mais. Mesmo assim, Alonso fez uma primeira volta magistral, do nível de Donnington-93! Foi pressionado para fora da pista ainda na largada, passou por dentro, por fora, em curvas que normalmente não se passa, e ainda deu um passão em Schumacher (rival na disputa do título naquele ano)! Como disse o Flaviz, aidna bem que desta vez havia disponível um show de cameras on-board!

    Abraços

    Cassio

  4. Moy disse:

    Apesar de achar o Adrian um gênio, considero ele mestre na arte de “interpretar” o regulamento. Burlar seria pesado demais.
    Já imaginou se a FIA tivesse de escrever: Se o acelerador estiver a 26,78% de pressão, o torque deve estar a 26,78% do total. Se o acelerador estiver a 26,79% de pressão, o torque deve estar a 26,79% do total. Se o acelerador estiver a 74,53% de pressão, o torque deve estar a 74,53% do total … e assim por diante.
    Enfim, ele faz o que um bom advogado faz: acha brechas.
    Mas isso em nada tira o mérito dela ser um baita engenheiro.

  5. Rodrigo Felix disse:

    E o passadão em cima do “mestre”Schumi??? por fora na curva mais difícil do traçado… só isso.

  6. Fernando Marques disse:

    O Nelson Piquet pelo menos na Willians,sempre andou muito bem na Hungria. O gozado é que ele sempre preferiu pistas rapidas e não travadas. O Mansell andava bem lá também.
    Eu de certa forma estou um pouco decepcionado com as RBR’s … anda bem quando acho que não vai andar bem e vice e versa.
    Neste domingo vou apostar em Button.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  7. Jay Cutler disse:

    Essa prova de 2006 é épica. As primeiras voltas do Alonso nessa prova são as melhores que eu vi – sim, eu vi 1993. Essas voltas tiveram lances impressionantes, como colocar os pneus na grama e não perder o controle do carro, logo na largada (1:07) e a espremida que ele leva por todos os lados na segunda curva.

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