Indianápolis Jones e a relíquia alemã

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Nosso arqueólogo automobilístico descobriu uma relíquia alemã.

Neste episódio, pilotando sua máquina do tempo, nosso arqueólogo  volta à Paris ocupada, final da 2a. Guerra.

Ele encontra 3 homens reunidos em um café, conversando animadamente em alemão.

Um deles, um sargento, é bem conhecido de quem gosta do esporte a motor: Georg “Schorsch” Meier, um extraordinário às do motociclismo alemão pré-guerra, entre diversas conquistas o primeiro não-inglês a vencer o English Tourist Trophy, a mais difícil competição motociclistica do mundo na época, e detentor do recorde mundial de velocidade, com uma BMW supercharged, que perdurou por muitos anos.

Também fez parte do esquadrão Auto-Union.*

“Schorsch” é reconhecidamente um sujeito orgulhoso, que mal cumprimenta seus superiores, incluindo o chefe máximo Almirante Canaris, e eles fazem vista grossa, conhecedores do seu valor na vida civil.

Ele tem uma função burocrática no serviço de inteligência alemão, e visivelmente não está interessado em uma carreira militar. Os demais também não, sequer usam uniforme.

Lorenz Dietrich tinha sido engenheiro da BMW por muitos anos e no momento estava encarregado de dirigir a fábrica francesa de motores de avião Gnome-Rhone, que agora supre a Luftwaffe produzindo os engenhos da indústria bávara.

O outro homem é Ernst Loof, também envolvido com os motores de avião BMW, particularmente os novos modelos 801, em configuração dupla estrela. Antes da guerra também esteve profundamente envolvido no esporte a motor, tendo sido oito vezes campeão alemão de motociclismo entre 1930 e 38. Depois disso tornou-se gerente do departamento de carros de corrida da BMW, tendo construído o carro esporte com que Huschke von Hanstein venceu as Mil Milhas, com uma velocidade média de 166 km/h.

A conversa era animada porque estavam fazendo planos para o futuro, seja lá qual fosse. Em 1º de março de 1947, o futuro desejado chegou. Nessa data eles iniciaram as operações da Veritas GMBH. Uma pequena empresa sediada em uma pequena instalação fabril na pequena cidade de Hausen, no sul da Alemanha. Ernest Loof, especialista em motores, ficou com a direção técnica e Lorenz Dietrich com a comercial.

Loof construiu um carro esportivo muito inteligente. Ele usou como chassi uma estrutura tubular autoportante coberta com uma pele de metal leve muito aerodinâmica. Suspensão dianteira independente, sistema de freios ATE, motor BMW 6 em linha de 2 litros, com 3 carburadores. Esse motor foi melhorado por Loof e entregava 125 HP a 5.500 rpm.

Na época era muito difícil produzir peças de carros, o parque industrial alemão tinha sido inteiramente destruído, por isso todos os aficionados interessados em construir ou reconstruir carros tinham que percorrer o país procurando peças guardadas ou escondidas. Uma tarefa de garimpeiro. Coube a Dietrich sair comprando tudo que podia de peças BMW.

O governo militar francês tinha também os seus entusiastas do esporte a motor, que trataram de ajudar a nascente empresa de diversas formas, inclusive oferecendo lugar para testes em Estrasburgo. A zona controlada pela França tinha menos restrições que a americana, onde era proibido construir carros com mais de 1.000cc, portanto era uma boa ajuda, e a Veritas mudou-se para aproveitar.

Em 1948 a Veritas vence o Campeonato Alemão de Estradas na classe até 2 litros, com Karl Kling no volante, e a Formula II Internacional com Georg Meier. Também obtém sucesso fora do país, um segundo lugar no GP da França, em Reims, com o francês Eugene Chaboud pilotando.

Em 1949 o sucesso é ainda maior. Os carros da Veritas se saem vitoriosos em todas as competições em que participaram na Alemanha.

Mas o fornecimento de peças ainda era tão complicado que a Veritas foi obrigada a desistir de uma corrida na França, em Cominges, onde ia estrear seu novo monoposto Meteor de Formula II, por falta de uma caixa de cambio. O carro e a equipe já estavam no circuito e foram informados por um telegrama de Dietrich que não tinha sido possível encontrar esse componente mecânico.

Esse carro era algo inteiramente novo naquele momento em que a Alemanha ainda não tinha condições de participar da Formula I.

Buscando sempre melhorar, Loof desenvolveu seu próprio motor de 6 cilindros, 2 litros, 3 carburadores Solex 40, entregando 140 HP a 6500 rpm. O carro completo, com pneus, água e óleo, pesava 560kg.

A estratégia empresarial da Veritas era a mesma da Ferrari: primeiro desenvolver carros esporte e de corrida competitivos para a partir deles construir e vender carros esportivos de luxo.

Este atendia pelo nome de Veritas Sport Coupé, vendido em três versões desse motor. A mais forte, com três carburadores, entregava 80 HP, permitindo uma final de 200 km/h.

O baixo peso e as formas aerodinâmicas era fatores decisivos para essa performance. A dirigibilidade e o desempenho nas curvas eram esplendidos. O acabamento excelente. Esta versão era vendida por 20 mil marcos, as versões menos potentes por 18 mil.

Talvez tenham sido excessivamente caras para aquelas condições econômicas pois a companhia não conseguiu se sustentar ao longo da década de 50.

Lorenz Dietrich deixou a Veritas em 1950.

Ernst Loof morreu de um tumor no cérebro em 1956.

Georg Meier voltou para as motocicletas BMW e em 1989 foi convidado a dar a volta de honra com sua supercharged no English TT.

Abraços e até a próxima!

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Fonte: “German Racing Cars and Drivers”, Floyd Clymer, Los Angeles.

*Passagem abordada em coluna anterior.

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

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