“Inho” ou “nhão”

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13/08/2003
Feliz aniversário!
18/08/2003

Geraldo Tite Simões

Por que tinha de ser Rubinho? Porque não Rubão, Barricão, Barrichelão. Nada disso, tinha de ser Rubinho, no diminutivo. Meu pai, ex-jogador de futebol, costuma dizer que o problema de alguns times é o excesso de “inhos”: é um tal de Toninho, Zinho, Luisinho, Huguinho e Zezinho. Segundo ele, se fosse todos “ões”, os zagueiros iriam ficar muito mais precupados. Imagino a conversa no vestiário.

– Aí, quem é o centroavante do time adversário? – pergunta o zagueiro
– É o Betinho…
– Ah, então vai ser moleza…
E se fosse assim:
– Aí, quem é o centroavante do time adversário?
– É o Ditão!
– Chih, vai ser f…

Lembram da Copa do Mundo de 1998, quando Ronaldinho amarelou na final contra a França? Em 2002, ele adotou o nome Ronaldo e entrou para o olimpo dos deuses futebolísticos com honras e glórias ao fazer dois gols na final contra a Alemanha. Deixou o “inho” para o gaúcho e correu para o abraço mais do que merecido de todos os amantes de futebol do planeta. Hoje ele é conhecido, reconhecido e amado apenas pelo nome de Ronaldo.

Pois é. Veja como nossos pilotos mais vitoriosos na Fórmula 1 eram todos com nome finalizando em “on”, como Emerson, Nelson, Ayrton, que muita gente pronuncia “Emersão”, “Nélsão” e “Ayrtão”. Viu como soa diferente?

Tem mais, se fosse chamar o Rubinho pelo diminutivo, em italiano, ficaria “Rubinetto”, que significa torneira, na língua de Dante. Ou seja, aquela choradeira tradicional quando vence, ou quando perder, pode ser em função dessa torneira que abre e fecha a todo instante.

E nem adianta culpar o Galvão Bueno pela adoção do “inho” no nome do Rubens porque ele já chegou no kart com o nome no diminutivo, certamente reflexo da família e da baixa estatura que sempre o acompanhou na infância e adolescência.

Você pode até me chamar de louco por fazer uma analogia absurda dessas, mas cuidado: quando Felipe Massa estava na F 1 ouvi várias vezes o Galvão chamando o rapaz de “Massinha” – e o piloto sumiu das largadas. O Cristiano da Matta tem sorte de não ser “Inho” como seu pai, Toninho, sempre lembrado pelos locutores da Globo pelos 12, 15, sei lá quantos títulos brasileiros – um piloto de qualidades gigantescas, mas que ficou para sempre lembrado como “Inho”.

Acho realmente que depois da prova de Silverstone todos deveriam chamar o Rubens de Rubão, porque ele foi grande e merece o aumentativo. Que bom se os jornais e sites estampassem a manchete “Rubão vence grandiosamente na Inglaterra”.

Alguém já se perguntou por que nenhum outro piloto da F1 ou Indy têm nomes no diminutivo? O filho de Al Unser chama-se Al Unser Jr e não “Little Al”. Teve gente que tentou apelidar o Ralf Schumacher de “Schumaquinho” e ficou tão ridículo, quanto se fosse em alemão: Kleines Schumacher, argh!

Normalmente, na Europa e EUA eles abreviam o nome. Emerson virou Emmo, Schumacher virou Schumy, Richard vira Ricky e, para sorte do soteropolitano Tony Kanaan, ele já nasceu praticamente com o nome abreviado, senão iria virar desgraçadamente Toninho Kanaan.

Agora é a vez do filho do Nelson Piquet chegar à F1 com a carga psicológica de salvar a pátria. E como estão chamando o rapaz? NELSINHO!!! Pronto, mais um condenado a ser um “Inho” eternamente. Nem vou entrar nas questões neurolingüísticas que envolvem alguém que passa a vida inteira sendo chamado pelo diminutivo, porque isso iria ocupar muito espaço e é um tema chato pacas. Aliás, parece até que uma vez o Piquet (pai) disse que preferia que chamassem o filho de Nelson Angelo. “Nelsinho já sai em desvantagem”, disse ele (se não disse isso, foi algo muito parecido e com esse sentido). Por isso, aconselho a todos os que gostam de automobilismo e querem ver um representante brasileiro desafiador na F 1 a chamá-lo de Nélson Jr ou Nélson Ângelo, que soa até mais adulto. Mas se começar essa frescura de Nelsinho… Sei não, acho que não convém arriscar!

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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