Interlagos

Mistério
21/11/2001
INTERLAGOS ESTÁ ACABANDO
26/11/2001

Panda

Como dizia em minha coluna da segunda-feira, acho que muito em breve veremos a Fia, sempre obediente a Bernie Ecclestone, pressionando por reformas em Interlagos ou, em caso extremo, até mesmo tirando daqui o nosso GP.

Não acho que isso vá acontecer em 2002 mas creio que é apenas uma questão de tempo até que as pressões comecem porque:

1º) qualquer reclamação da Fia significa uma oportunidade nova para eles cobrarem mais pela nossa corrida. E, justiça seja feita, eles sabem como tomar o nosso dinheiro pendurando na Prefeitura paulistana a conta das reformas do autódromo e organização da prova.

2º) Interlagos está verdadeiramente um caco. O conforto para o público em geral é pequeno ou inexistente. Tente, estando nas arquibancadas, ir a um banheiro. Para equipes, pilotos e vips, creio que as condições são melhores mas acho que há uma falta geral de espaço, inclusive para áreas nevrálgicas para a corrida como a entrada dos boxes, estacionamento e heliporto.
Outro fator importante a considerar: Interlagos é um autódromo equipado para receber um público comparativamente pequeno, cerca de 30 mil pessoas e, mesmo assim, lhes proporcionando poucas facilidades e conforto. Um autódromo moderno, hoje, deve estar equipado para receber cem mil pessoas ou mais. Não vamos falar de Indy, que recebeu em 2000 um público de mais de 300 mil pagantes. Em Silverstone, este ano, só domingo, havia 90 mil pessoas; em Hockenheim, 120 mil, em Hungaroring e Monza, 110 mil, e, em Suzuka, 150 mil. Pergunte aos organizadores do GP do Brasil se eles não gostariam de reduzir em um terço o preço dos ingressos e multiplicar por três o números de ingressos vendidos.
E mais. Acho que a pista, fora a questão das irritantes imperfeições do asfalto – nada diferentes das que enfrentamos em nossas ruas e avenidas -, tem pontos bastante perigosos. A ausência completa de áreas de escape na reta de largada, por exemplo, me lembra assustadoramente Tamburello. Sim, porque a reta de largada de Interlagos é aquilo que Nelson Piquet chama de reta torta, com duas curvinhas, bem leves mas ainda assim curvas.

3º) A Fia está muito bem impressionada com a nova geração de autódromos, Indy, Barcelona e Sepang à frente, Austrália, Áustria, Magny-Cours, Nurburgring e Suzuka em plano ligeiramente inferior.

Dos autódromos que faltam mencionar, restam Imola e Hockenheim, que passam por reformas no momento, Interlagos, Mônaco, Montreal, Silverstone, Hungaroring e Spa – este também sujeito a grandes congestionamentos de trânsito.

 

Mônaco, você sabe, é um caso à parte. Nada a ver com fascínio, tradição etc. É que se trata de uma corrida tremendamente rentável em vários sentidos para todos, organizadores, equipes e chefões da Fórmula 1. Sobre Montreal e Spa, nunca ouvi críticas, além do que Montreal segurou as pontas da Fórmula 1 por anos a fio na América do Norte.

Sobram Silverstone – a bola da vez, como vimos na coluna de segunda-feira passada -, Interlagos e Hungaroring. Acontece que Brasil e Hungria são corridas organizadas por Ecclestone – não é por coincidência que as equipes de organização das provas têm tantas gente em comum.

Este é um ponto à favor do Brasil, além do que resta a constatação cabal de que somos um dos principais mercado da Fórmula 1 em todo o mundo, que a Rede Globo é muito influente junto aos organizadores e que faz questão de manter uma corrida por aqui e também que um campeonato sem uma corrida brasileira representaria uma perda notável para o esporte. Não ria não. Não esqueça que somos o país que mais ganhou campeonatos de Fórmula 1, se você descontar aquela marotice dos ingleses de contar como uma coisa só os títulos de pilotos nascidos na Inglaterra e na Escócia.

Espero que isso seja o bastante para quando nossa hora chegar.

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Você falou sobre um dos grandes mistérios da Fórmula 1 em sua última coluna. Pois aqui vai outro: como é que a Mercedes-Benz perdeu o passe de Michael Schumacher?

Você sabe que toda a formação do piloto alemão foi feito às expensas da Mercedes, assim com outros jovens alemães e austríacos. No momento em que Schumacher põe os pés na Fórmula 1, graças à compra de uma vaga para ele na equipe Jordan e depois na Benetton, a Mercedes deixa escapar entre os dedos o passe da maior barbada de todos os tempos. O que teria acontecido?

Abraços e bom final de semana

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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