Normalmente, meus queridos amigos Lucas Giavoni, Márcio Madeira e eu revezamos as “coberturas” dos GPs de F1: procuramos sempre intercalar nossos textos sobre as corridas, de modo a ninguém ficar com mais nem com menos. Num ano com 21 etapas, portanto, divisão perfeitamente igual.
Pela sequência do ano, o GP da Europa (sim, o Azerbaijão é na Europa – informação que eu só conhecia por ver alguns jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo) seria de Giavoni, e a próxima etapa, Áustria, seria minha. Porém, a corrida coincidiu com o maior evento automobilístico do planeta: as 24 Horas de Le Mans aconteceram nesse mesmo fim de semana.
E aí veio a proposta indecorosa do Lucas: “podemos trocar, você fica com o GP da Europa e eu da Áustria? É que neste fim de semana tem 24 Horas de Le Mans”. Sabendo quão apaixonado Lucas é pela mitológica prova de turismo, não titubeei.
Tenho certeza que o texto que Lucas nos trará sobre Le Mans (mais uma edição histórica!) será muito mais inspirado e rico do que este que irei vos apresentar.
Mas o Baku era do Lucas, que fique bem claro!
Antes, falemos da pista.
Confesso que gostei, relativamente. Em termos visuais, é extremamente bela, lembrando Mônaco em bons trechos – especialmente nas subidas e descidas – e no contraste do design dos prédios e a arborização.
Em termos técnicos, pouca contribuição: as dificuldades de pilotagem e os riscos previstos minguaram na corrida. Nenhum acidente (que bom!), mas também não se viu um esforço ou inventividade incomum da parte dos pilotos.
A longa reta e as partes mais estreitas (eu esperava muito mais da subida em meio ao “castelo”) lembra Macau, como salientou o Edu em conversa.
Resumindo, Azerbaijão não é lá essas coisas mas dá de 10 na falecida Valência.
A corrida começou a ser decidida já no sábado.
Depois de tantas críticas a Nico Rosberg, parece que o alemão conseguiu se recuperar e, até certo ponto, restabelecer alguma tranquilidade na liderança do certame.
Em um campeonato tão longo, decretar campeões ou derrotados com menos de 40% concluído é um pouco de nonsense.
Das características que o circuito de Baku herdou de Mônaco, a dificuldade de ultrapassagem é o principal – Cingapura, por exemplo, traz mais possibilidades. E a largada foi parte fundamental para que Rosberg vencesse sem riscos, sem incômodos. Aliás, ele levou de ponta a ponta.
Hamilton, apesar de ter de escalar o pelotão, teve voltas iniciais muito ruins – não alterou sua posição até o terceiro giro, salvo engano.
A batida do inglês nos treinos só pode ser colocada em sua conta: um erro reflexo do famoso “querer andar mais que o carro”
httpv://youtu.be/5bMOXBYBGZ8
Sebastian Vettel, segundo colocado, fez uma boa prova, sem nenhum brilhareco desnecessário, mas sendo extremamente eficiente, mais uma vez.
Prova disso é que nas últimas quatro corridas (desde o GP da Espanha) Vettel somou 63 pontos. No mesmo período, Hamilton totalizou 60 e Rosberg, 41.
Verdade que ambos os pilotos da Mercedes tiveram alguns contingentes especiais para somar menos que o ferrarista desde então, mas é fato que Vettel tem feito a lição de casa perfeita – não cito Prost, mas Fernando Alonso, que levou a Ferrari com chances de título na última corrida duas vezes.
Vettel achava que poderia levar a Ferrari ao nível de desempenho das Mercedes. Não dá. Então, usemos as armas que temos. E o resultado está excelente, até aqui.
Kimi Räikkönen também fez uma boa prova, mas sua corrida novamente foi mais importante por conta das conversas via rádio.
– I’m sure you can say ‘yes’ or ‘no’!
– Sorry, Kimi, we can’t.
Perez foi o nome da corrida: ultrapassagem sobre Kimi na última volta e mais um pódio, o segundo nas últimas duas provas.
Perez, aliás, monopoliza números: 4 dos 5 pódios da história da Force India são seus, e metade dos pódios de mexicanos também.
O pódio de Perez também foi um alento ao povo mexicano: não, nada do 7 a 0 de ontem, e sim da morte de Rúben Aguirre, o famoso “Professor Girafales”. Obviamente, ele não poderia fazer uma homenagem como quando da morte de Bolaños, mas prestou sua homenagem ao ícone local.
Felipe Massa sendo Felipe Massa: larga em quinto, termina em décimo. Bottas, melhorzinho: larga em oitavo, termina em sexto. Na temporada, Massa agora é nono, um ponto atrás do supracitado Perez.
Comecei falando da beleza da pista e do local, e fiquei sabendo – sinceramente, não lembrava – que Baku foi candidata a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Mais detalhes sobre a candidatura da capital do Azerbaijão podem ser vistos aqui.
De fato, especialmente por conta da pouca tradição em esportes (primeira participação olímpica do país foi em 1996) e da visível deterioração de algumas áreas urbanas da cidade (era parte da falida URSS), é compreensível que Baku não se classificasse para as 4 finalistas.
Porém, num fim de semana em que somos torpedeados com a notícia de que “o Rio de Janeiro decreta estado de calamidade pública” menos de 50 dias antes do inícios dos jogos, e quanto já não foi dito sobre os problemas pré, durante e pós a realização do evento, não tem como não lembrar de Robin Williams no show de David Letterman falando sobre o porquê de o Rio de Janeiro ter sido escolhido no lugar de Chicago como sede das Olimpíadas de 2016.
httpv://youtu.be/k57u9-jRj1w
Como disse à época: a piada de Robin Williams ofende muito mais, na verdade, os membros do COI do que “nós, brasileirinhos, contra esse mundão aí”.
Diante da notícia do RJ, o que disseram os membros do COI?
O mesmo que a Ferrari em resposta a Kimi: “Desculpae, não podemos falar“.
Abraços e boa semana a todos.