“One-Hit Wonder” é uma expressão inglesa popularmente usada para definir um grande sucesso pelo qual seu autor é conhecido e que se destaca do restante de seu trabalho, de modo que sua fama e notoriedade ficam para sempre ligadas a esse sucesso específico. A expressão, que poderíamos traduzir como “Maravilha Única” e começou a ser usado faz mais de um século no contexto do beisebol, logo foi atribuído a atuações notáveis em outros esportes, campos e atividades, mas que não foram mais repetidas por seus autores.
A música seria um dos campos em que o termo é usado com mais frequência para se referir a artistas com um único grande sucesso e, como bom exemplo disso podemos bem recordar a canção “San Francisco”, de Scott McKenzie, no final da década de 1960, e que acabou ofuscando o restante de sua carreira.
A literatura é outro campo em que essa expressão também é frequentemente empregada para se referir a escritores com uma única obra de sucesso relevante, e aqui podemos citar o caso de Oscar Wilde, uma grande figura da literatura britânica do fim do século XIX. Apesar de suas inúmeras histórias infantis assim como contos e peças teatrais, a obra de Wilde era considerada de gênero menor e foi só com o romance “O retrato de Dorian Grey” que o escritor alcançaria sua “Maravilha Única”. O livro logo teria grande sucesso e repercussão na sociedade puritana da época, alem de mostrar que Wilde também estava dotado para produzir obras não apenas menores. Os diversos filmes homônimos produzidos ao longo dos anos baseados na novela, também foram muito bem aceitos pelo público.
Na formula 1 também tivemos nossa “Maravilha Única” que nos foi brindada pelo piloto britânico Peter Gethin, no sempre recordado GP da Itália de 1971.
Peter Kenneth Gethin nasceu em 21 de fevereiro de 1940 em Ewell, Surrey, Inglaterra. Filho de um jóquei bem-sucedido, Peter tinha todas as condições de seguir uma carreira nas corridas de cavalos, assim como seu pai, mas os cavalos pelos quais ele se interessava não estavam no hipódromo, mas na pista. Deste modo, e sendo ainda muito jovem, Peter deixa os estudos e entra a trabalhar na oficina de um concessionário da Ford, situada no sul de Londres, onde sua grande paixão pelos automóveis e as corridas se complementaria com os conhecimentos que ali adquiriria.
Peter começa a competir nas populares “Saloon Racing”, com um Lotus 7 de segunda mão, que havia comprado do antigo piloto Harry Epps, pouco antes de cumprir 22 anos de idade. Com essa Lotus, Gethin começou sua carreira em Brands Hatch, onde fez a pole, mas, quando estava na liderança, teve de abandonar. Contudo conseguiria bons resultados nas corridas seguintes: 2º novamente em Brands Hatch e 3º em Goodwood.
Em 1963, Gethin competiu nos campeonatos BARC e BSRCC, como faria em 1964, com algumas vitórias e vários pódios, o que lhe rendeu um contrato para 1965 com a equipe de Fórmula 3 de Charles Lucas. Nesse mesmo ano também disputaria algumas corridas de Sport Cars pela equipe de Chris Williams, conseguindo vitórias e pódios com ambas as equipes.
Em 1966, se integraria na equipe de Rodney Bloor para a Formula 3 e na de Robert Ashcorft para os Sport Car, novamente com vitórias e pódios com a duas. 1967 seria outro ano movimentado, competindo tanto na F3, ganhando em Oulton Park, alem de alguns pódios, quanto na F2, onde seria 2º em Hockenhein.
Para 1968 tomaria parte do campeonato europeu de F2 pela equipe de Frank Lythgoe com um Chebron B10, que se mostrou pouco competitivo e só quando Frank decidiu comprar um Brabham BT23 para as últimas quatro corridas é que os bons resultados chegaram, com um 4º lugar em Zandvoort e outro em Vallelunga.
À época Gethin já havia chamado a atenção por seus bons resultados e versatilidade e, segundo uma reportagem publicada na revista Motorsport Magazine, em sua ediçao de abril de 1969, onde se analizava a vários pilotos, o autor chega a dizer: “Peter Gethin é o mais provável da dúzia de pilotos deste artigo a chegar à F1. Ele já fez um test drive com a BRM.“.
Porem nada se concretizaria e pouco depois Bruce McLaren, que também estava de olho em Gethin, o convida para pilotar um de seus M7A na “Corrida dos Campeões” em Brands Hatch, onde terminaria sexto… e último com volta perdida !
Bruce também quer que Gethin pilote um de seus M10A no campeonato de nova criação para 1969: A Formula 5000. A McLaren forneceria os carros à sua equipe cliente Church Farm Racing, que atuava como uma equipe semi oficial. Com essa equipe Gethin se consagraria campeão, conseguindo quatro vitórias nas doze provas de que constava o campeonato.
Em 1970, Gethin manteve o título com mais oito vitórias, derrotando pilotos como Mike Hailwood, Trevor Taylor (seu maior rival em 1969), Howden Ganley, etc. Já liderando o campeonato com sete vitórias, a McLaren, que havia agendado uma sessão de testes de seu novo M8D no circuito de Goodwood em 12 de junho, com o qual a equipe participaria do campeonato Can-Am que estava prestes a começar, chamou Peter para testar o novo M14A com o qual corria na Fórmula 1, visando sua possível participação no Grande Prêmio da Holanda no dia 21.
Enquanto Gethin se preparava e os mecânicos ainda continuavam a fazer os ajustes finais no M14A, Bruce foi para a pista dar algumas voltas no M8D, mas acabou morrendo num acidente pouco antes da curva Woodcote, deixando todos chocados. Sem Bruce, seu grande valedor, e já com 30 anos de idade, Gethin pensou que a Fórmula 1 era um trem que ele já havia perdido.
No entanto, como Gethin era um piloto “da casa”, ele seria inscrito no Grande Prêmio da Holanda, ao lado de Dan Gurney, que substituiu Denny Hulme, ainda convalescendo das queimaduras sofridas quando treinava em Indianápolis. Gethin retornaria para as seis últimas corridas ao lado do recuperado Hulme. O M14A não era muito competitivo e as maiores atenções, logicamente, eram dispensadas a Hulme. Mesmo assim, Gethin obtém um meritório sexto lugar no Canadá.
Gethin também assumiria o lugar de Bruce na Can-Am (que vinha sendo ocupado por Gurney) e, em sua primeira participação em Edmonton, acaba em segundo lugar, atrás de Hulme, para vencer em Road America, depois de terminar em nono lugar em Mid-Ohio. Com um sétimo lugar em Road Atlanta e outro segundo em Donnybrook, Gethin terminaria em terceiro lugar no campeonato.
Em 1971, Gethin continuou na McLaren, mas apenas na Fórmula 1. No entanto, o novo modelo M19A de Ralph Bellamy, no qual todos tinham grandes esperanças… Logo decepcionou, e a melhor colocação que Gethin conseguiu com ele foi um oitavo lugar na Espanha. No meio da temporada, Gethin é informado de que prescindiriam dele nos dois últimos GPs da temporada, no Canadá e nos EE.UU., pois Teddy Meyer havia chegado a um acordo com Roger Penske para que Mark Donahue ocupasse o seu lugar. Assim mesmo e ao que tudo parecia indicar, Peter Revson, que naquela temporada ocupava o seu lugar na Can-Am, também entraria a formar parte da equipe de Formula 1 para 1972, portanto parecia que a aventura de Gethin na máxima categoria estava prestes a terminar.
No entanto, quando já não abrigava esperanças e apenas alguns dias antes do GP da Áustria, Gethin recebeu uma ligação do chefe da BRM, Louis Stanley, oferecendo-lhe assumir o lugar de Pedro Rodriguez, que havia perdido a vida durante uma corrida da Interserie em Norisring, da qual Gethin também havia participado. A oferta era para os dois últimos GPs do ano, onde Stanley já sabia que Gethin não participaria. Como Gethin estava correndo com a McLaren em uma base informal e não havia contrato em vigor, Gethin lhe diz que pode se incorporar à BRM de imediato e, apenas alguns dias depois, Gethin já estava ao volante do BRM P160 em Osterreichring, onde a corrida seria dominada por seu novo companheiro Jo Siffert, provando o bom momento do carro, que estava bem melhor do que o M14D.
A prova seguinte, o GP da Itália, teria lugar em Monza, e seria a sua segunda participação com um BRM e também a segunda vez que corria em Monza. De sua primeira vez lá; o ano anterior com McLaren, Gethin não guardava boa lembrança, pois nem foi incluído entre os classificados, ao terminar a oito voltas do líder. Porem, desta vez as coisas se desenrolariam de forma muito diferente, pois Gethin, finalmente, seria capaz de demonstrar que não apenas podia vencer em categorias menores.
A continuação da saga de Peter no automobilismo e Fórmula 1 será publicada no dia 07 de fevereiro
Ate lá e fiquem bem
Manuel