É o ano da Copa. Aberta ou fechada, todas as TVs nos lembram disso, com programas e comerciais abordando o assunto, em qualquer dia e horário.
Narrador: “Mansão, você viu quem é o técnico da Mercedes?”
Comentarista 1: “Sim Tolueno, é o Aldo Costa, aquele que foi demitido da Ferrari. Ele é o responsável pelo chassis das Flechas de Prata desde 2012.”
Narrador: “Veja você, a Ferrari botou a culpa nele pela perda do título de 2011 e olha agora onde ele está, andando na frente da esquadra vermelha. E com sobra.”
Comentarista 1: “Pois é, Tolueno, se a coisa continuar assim até o final do campeonato vão tentar trazer ele de volta e pedir desculpas com um monte de milhão na conta bancaria.”
Narrador: “Assim como demitiram o Felipe. Vou dar muita risada se o Felipe terminar na frente da sua ex-equipe também. Olha, eu não quero falar mal de ninguém aqui, mas ô equipe pra fazer injustiça, hein… Faz tempo que eles fazem lambança… O Cuca de Fonteromulo precisava tomar uma atitude…”
Comentarista 1: “Dizem que o problema não é tanto que o “power unit” é mais pesado… eles priorizaram a confiabilidade, por isso pesa mais, cerca de 13 quilos, mas o maior problema é que essa “power unit” não consegue manter por muitas voltas o nível de potencia dos MGU. A Ferrari está atrás no quesito gestão eletrônica.”
Narrador: “Ansaldo, o que você achou de desclassificação do Ricciardo… eu pronuncio Ritchiardo, mas ele fala Riquiardo, é isso? Mas os italianos falam Ritchiardo, mas se a mãe dele fala Riquiardo… você viu o Andrea Stella falar Ritchiardo, não viu?”
Comentarista 2: “Vi sim, Tolueno. Ele tem ascendência italiana mas é australiano então melhor ficar de bem com a mãe dele, que é quem interessa… mãe é mãe e chama o filho como quiser… Mas voltando à desclassificação, a regra não é clara. A RBR não aceitou as determinações da FIA e usou uma sonda não oficial para regular o fluxo de combustível, depois de ter experimentado duas sondas oficiais. A FIA alegou que só podem usar sondas oficiais. E que tinha advertido durante a corrida que havia alteração no consumo de combustível. Agora a RBR alega que o fluxo de combustível ficou dentro do limite estabelecido, portanto a troca de sonda não a favoreceu. E parece que a Mercedes também foi advertida durante a corrida, por alteração no fluxo de combustível, e teve que reduzir o fluxo.”
Narrador: “Na Europa já está sendo chamada de Formula Consumo. Ser mais verde, ser mais sustentável é válido em uma porção de coisas mas, na categoria do automobilismo onde reinaram motores de 12 cilindros, motores de mais de mil cavalos, como na época anterior dos turbo, fica difícil aceitar que se evite acelerar fundo para não gastar combustível. Os pilotos começam a ficar como os motoristas de fim de semana que esqueceram de encher o tanque antes de sair de viagem, não acha, Mansão? … E agora, como solução, estão pensando em diminuir a duração dos GPs, tendo como limite 280 quilômetros de distância percorrida, ao invés de 305! Quer dizer, pra melhorar o espetáculo diminuem a duração do …espetáculo?”
Comentarista 1: “Tá bom, agora como se explica o Bottas ter atacado do início a fim na Australia? E a Mercedes tinha certeza de que ninguém iria ficar sem combustível nessa prova…”
Comentarista 2: “Esse assunto está mais pra detetive. O Horner declarou que nos testes no Bahrein usaram cerca de 10% da capacidade do motor. Na Australia estavam usando cerca de 60%. Que acontecerá quando chegarem aos 100%?”
Comentarista 1: “A telemetria indica que o Ritchiardo… Riquiardo… sei lá… era muito mais veloz em curva, era fácil o mais rápido no terceiro setor. Agora, e se isso tudo tiver ligação com a sonda FIA? Se o rendimento do motor efetivamente melhora com outra sonda?”
Narrador: “Ih, isso vai dar uma encrenca…”
Narrador: “E recomeça o jogo. O primeiro chute contra a meta defendida por Jean Todt é o decepcionante ruído dos motores. Parece um bando de MÁ-QUI-NAS DE COS-TU-RA DESEMBESTADAS é uma frase ve-ne-no-sa, cheia de efeitos, Mansão! Todt ES-PAL-MAAAAAAA, dizendo que para ele é um ruído fas-ci-nan-te, Mansão! E imediatamente repõe a bola em jogo, afirmando que tudo é culpa da imprensa, que vive reclamando…”
Repórter de campo: “Tolueno, consegui aqui uma entrevista com Alan Oldwey, o técnico da RBR. Ele alerta que as asas dianteiras atuais, que foram pensadas para evitar torpedear os carros em caso de batidas em T, podem gerar efeito “submarino”, ou seja, em uma batida como a do Kamui com o Felipe, a frente mais baixa entra por baixo da traseira do carro que vai na frente e a levanta. No caso desse acidente, estavam em velocidade relativamente baixa, mas em caso de batida em alta velocidade, o carro dianteiro pode decolar, ele alerta.”
Narrador: “Quer dizer, além de feia ainda é perigosa? Epa! E agora entra em campo Dieter Mateschitz… O kaiser da RBR entrou em campo… Ele vem direto até Todt e informa… estamos longe mas dá para entender pelo movimento dos lábios – nossa câmera exclusiva opera em superclose – que ele está dizendo que há um limite para a RBR em seu compromisso com a F1. Tem umas palavras ali que não podemos repetir mas está claro que tudo depende do resultado do julgamento do recurso do Ritchiardo… Riquiardo…”
É o ano da Copa.
Aberta ou fechada, todas as TVs nos lembram disso, com programas e comerciais abordando o assunto, em qualquer dia e horário.
A bordo trazem todos os tipos de chavões, clichês, que nós, brasileiros, devemos adorar, pois jamais nos cansamos.
Há uma escola de narradores que, certamente baseada nos antigos colegas do tempo em que só havia rádio, não apenas contam exatamente o que todos estamos vendo, como carregam nas tintas das interpretações. No rádio isso era compreensível pela ausência de imagem, era preciso entusiasmar o ouvinte.
Talvez seja preciso manter o conceito “vendedor de emoções”, diante da barragem de críticas ao novo regulamento da F1.
O cenário é sombrio, a audiência vem caindo no mundo todo, graças às experiências vindas do laboratório Balestre, Mosley, Todt & Ecclestone, que vem conseguindo dominar o mundo há décadas.
Talvez esses narradores apelem para uma transferência ainda mais fiel das fórmulas testadas e aprovadas em estádios para injetar algum entusiasmo na plateia sonolenta.
Melhor ir se preparando.
7 Comments
Sinceramente? Concordo com o Todt no quesito barulho dos motores e a imprensa colocando lenha na fogueira depois dos executivos do GP da Australia reclamarem. Não, não é pq existem pessoas no GPTotal (diga-se de passagem que o leio desde 2004) que não gostam que eu também não irei gostar. Barulho dos motores ficou bem interessante ao meu ver e os prefiro mais grave do que os antigos agudos, a única coisa que piorou na fórmula 1 desde 2004 até hoje é o regulamento onde comissários aplicam penas severas porque alguém tentou fazer uma ultrapassagem mais arriscada, e em muitos dos casos a pena dura até o pŕoximo GP, o que me parece que piloto realmente já não existe faz tempo desde que Rubens e Michael (pertencentes da ultima geração de pilotos que considero não ser criados com a vó) se aposentaram. Repito: Sim, gostei do barulho dos motores, o Galvão precisa se aposentar logo, o Felipe fez o que achava correto ao não dar passagem para o Bottas e não vejo problema algum nisso e o Ecclestone está demorando para morrer assim como Balestre tinha ido tarde e o Mosley saiu da F1 tarde também.
Pois é, mexem tanto no regulamento para desfazer o domínio de uma equipe que acabam deixando brechas inesperadas. Mas acho que o ponto de desequilíbrio é que está se dando pesos cada vez maiores para engenheiros ao invés de pilotos. Até o ano passado o predomínio era dos aerodinamicistas. Neste momento é dos eletrônicos e de TI. Problemas de software para o Vettel, gestão eletrônica para a Ferrari, para dar dois exemplos conhecidos. Nada muito emocionante para quem quer ver os carros em ação e não se interessa por esses ramos da engenharia, não?
Chiesa,
pelo visto o que mais se vende na Formula 1 são teorias conspiratorias …
Fernando Marques
NIterói – RJ
Fernando, o nivel de espionagem entre as equipes é extremamente sofisticado. Na época do McLarengate ficamos sabendo que usam satélites, inclusive. Por isso não espanta quando vem a público que “a Mercedes tinha certeza de que ninguém iria ter problemas de combustível” (como o Bottas provou), por exemplo. As conversas clandestinas com mecânicos das outras equipes são apenas uma parte, quase anacrônica, do esquema.
Chiesa,
o que espanta é um regulamento ter uma regra que não vai valer de nada pois pelo visto não haverá pane seca nas corridas … e aí a RBR ganha o recurso? …
Fernando Marques
Concordo contigo Fernando!
Do jeito que a tecnologia esta avançada e as equipes com cada vez mais um batalhão de TIs, acho bem difícil ocorrer pane seca como ocorria nos anos 80.
Será mais provável vermos pilotos encostando os carros no box igual fez o Hamilton para poupar o motor.
Abraço!
Fernando
em acréscimo ao teu raciocinio, eu já venho comentando que esse ano não veremos duas cenas bem comuns quando os turbos começaram seu domínio nos anos 80, o primeiro será queles estouros de motor com espessa fumaceira saindo dos carros e o segundo já comentado será cenas de pane seca, no atual nível de telemetria e a interferência quase que a cada segundo dos boxes aos pilotos haverá muito rádio pedindo ou para o piloto parar de imediato ou dosar o acelerador, só uma situação faria esse cenário ser diferente, limitar ou proibir o rádio, mas até eu admito que numa época de comunicação ilimitada isso seria de muita insensatez
abraços
Mário