Merda!

WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
25/02/2005
Micos brasileiros III
02/10/2008

Defina-o como quiser: surreal, insano, gongórico. Prefiro o bom e velho Panda: o regulamento é uma m… Aliás, m… não; é uma merda mesmo, com todas as letras.

Tanto fizeram, brigaram e enrolaram que pariram um regulamento ainda mais idiota, que descaracteriza de vez a briga pela pole, que arrisca a jogar fora a corrida de um piloto após uma simples travada de pneus nos treinos, multiplica a insegurança, sem contar as regras ainda pouco claras sobre uso dos pneus e motores (estes válidos por dois GPs num campeonato com número impar de provas).

Tudo parece ter sido feito por alguém que quer acabar de vez com a Fórmula 1, sem qualquer noção de segurança e sem conseguir reduzir custos, muito menos conter o desempenho dos carros – o que descamba no ridículo porque eram estes os objetivos maiores da revisão do regulamento.

E mais: tudo transpira precariedade e incerteza. Um pequeno exemplo: em meados de fevereiro, ainda não estava claro se um pneu danificado por uma pedra poderia ser substituído sem punição para a equipe. Uma definição para estas e outras dúvidas foi prometida pela Fia apenas para os dias anteriores ao GP da Austrália.

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E saiba o leitor que toda a enrolação na definição das regras, além da idiotice nelas implícita, acabou produzindo uma situação que reputo de enorme perigo para os pilotos e que me lembra sinistramente aquela de 94, quando de forma igualmente intempestiva foram proibidos vários recursos eletrônicos nos carros, dando origem a uma série macabra de acidentes.

Segundo declarações de Pierre Dupasquier, diretor da Michelin, os pneus que serão usados pelas suas equipes em 2005 só começaram a ser testados para valer na segunda semana de fevereiro, pouco menos de um mês antes da abertura do campeonato. Os pneus para a segunda prova do ano, na Malásia, segundo o mesmo Dupasquier, sequer estão definidos.

Não tenho informações para precisar a situação da Bridgestone mas até o começo de fevereiro, segundo a revista Autosprint, a Ferrari não havia cumprido uma verdadeira simulação de uso de motores.

Ainda que não se pudesse esperar por uma declaração diferente, vinda de quem veio, Dupasquier não teme propriamente pela duração dos pneus, lembrando que até os anos 80 os pneus de Fórmula 1 eram feitos para durar a corrida inteira, com os carros largando com três vezes mais combustível do que largam hoje, sendo empurrados por motores igualmente potentes e sem qualquer tipo de suporte eletrônico.

Mas Dupasquier não garante o rendimento dos pneus, que pode variar enormemente de carro para carro, piloto para piloto. Alerta que muitos deles terão de mudar sensivelmente o seu estilo de pilotagem – caso, por exemplo, de Mark Webber. Dupasquier explicou que se sente responsável apenas pela duração da carcaça dos pneus, sendo que a durabilidade e rendimento da banda de rodagem cabe às equipes e aos pilotos. Os pescoços que se arriscarão para chegar ao final da corrida com a eficiência dos pneus em seu limite, naturalmente, é destes últimos.

As declarações do francês a Autosprint gelaram-me os ossos. Eu já andava meio desconfiado destes testes porque o leitor mais atento certamente se deu conta que, de acordo com o regulamento atual, para testar pneus em situação de uso real, as equipes precisam idealmente desdobrar seus ensaios, permitindo assim que pneus passem pelo ciclo exato de aquecimento e resfriamento a que serão submetidos nos sábados e domingos de GP. No caso dos motores, o ciclo é ainda mais complexo já que valem por duas corridas, numa alternância de aquecimentos e resfriamentos de enlouquecer.

Só que descobrimos agora, às vésperas do primeiro GP do ano, que a Michelin não considera confiáveis os resultados dos testes levados a cabo com os carros de 2004. Assim, as suas equipes chegarão à Austrália com pouquíssima curva de experiência acumulada, tanto mais que os novos pneus nunca foram usados em pistas sob temperaturas mais altas.

Não sei de vocês mas eu passarei esta semana rezando para que a competência e a prudência de técnicos e pilotos produza um início de campeonato a salvo de sobressaltos.

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E depois de ter de engolir a seco esta merda de regulamento, descobre-se que as equipes já arregaçaram as mangas para desenvolver câmbios aparentados ao CVT, que a Williams tentou emplacar no começo dos anos 90 e que foram proibidos pela Fia.

Explica-se: câmbios deste tipo são grandes economizadores de pneus, ainda que o seu desenvolvimento certamente custe alguns milhões de dólares. E o regulamento, repito, foi concebido para gerar economia para as equipes…

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Ao longo das últimas semanas, as declarações de Frank Williams sobre a situação da sua equipe e a política na Fórmula 1 lembraram-me Lula: ambos têm a capacidade de dizer bobagens como se fossem verdades e verdades como se fossem bobagens.

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Odeio o óbvio. Quanto escrevo alguma coisa óbiva – e é inevitável que o faça – sinto-me como se tivesse roubando o leitor. Por isso elegi Ralf Schumacher como minha aposta (não meu favorito) para o título de 2004.

Hoje, preciso apostar de novo. Acho, a partir da precária base de dados disponíveis, que Michael Schumacher e a Ferrari emplacarão o seu sexto título consecutivo. Mas, para fugir do óbvio, obrigo-me a apostar em alguém diferente.

Sei que a supremacia Schumacher-Ferrari vai desmorar da forma como desmoronam as supremacias: de uma vez só. Há muitos pilotos capazes de assumir esta condição: a dupla da McLaren, Jason Button e Fernando Alonso. Tempos atrás, colocaria Mark Webber nesta lista mas perdi um pouco a minha confiança no australiano.

Entre as equipes, Renault e McLaren parecem mais próximas do que Bar e Williams de romperem os anos vermelhos.

Com tantas variáveis, como definir uma aposta minimamente consistente? Se tivesse de individuar um piloto, diria Button; um carro, Renault. Mas acho que não é por aí. Melhor buscar um compromisso intermediário e assim chego na minha aposta para o título de 2005, certamente menos exótica do que a do ano passado: Kimi Raikonenn e seu McLaren Mercedes.

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A festa de lançamento de O Boto do Reno, terça-feira passada, representou para nós, do GPTotal, um momento de extrema felicidade, principalmente pela presença maciça dos nossos leitores.

Parabéns ao Flavio e à Alessandra e muito obrigado pelo carinho dos leitores, presentes ou não à festa.

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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