Panda
As primeiras luzes da manhã penetram timidamente pela janela do escritório, anunciando mais um dia nublado lá fora.
Um olho no laptop, outro na TV – onde revejo a fita do recém encerrado GP da Malásia -, me recosto em minha poltrona favorita e pergunto: que merda aconteceu nesta corrida?
Por que a Ferrari tomou este vareio? Por que Schumacher acabou reduzido a disputar o 5º lugar com Jarno Trulli e perder!
De onde apareceu este surpreendente Renault e este não menos surpreendente Fernando Alonso, liderando e se mantendo na pista sem erros, até o pódio?
Por que Rubinho demonstrou tamanha impotência, sendo tão mais lento do que Raikonenn?
Foram os pneus, idiota, digo a mim mesmo enquanto um vento frio entra pela fresta da janela.
A Michelin, sob o calor malaio, deu outro banho na Bridgestone, repetindo o feito do ano passado e acendendo algumas dezenas de lâmpadas de alarme nas cabeças da Ferrari.
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Já se sabia que os pneus franceses eram mais eficientes em pistas quentes. Sabia-se também que o Ferrari tem uma dificuldade crônica, dada a sua distribuição de peso, para aquecer convenientemente os Bridgestone, fazendo-os atingir o ponto ótimo de aproveitamento.
Mas o que vimos há pouco ultrapassa o razoável. A única explicação alternativa seria algum problema técnico no carro de Rubinho, que o impediu de ser mais rápido entre o primeiro e segundo pitstops, quando corria com menos combustível que Raikonenn e Alonso e, mesmo assim, não conseguiu abrir vantagem para ao menos voltar próximo ao finlandês depois da parada final.
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A sorte do campeonato mudou?
É cedo para dizer, mas Schumacher tem agora de descontar oito pontos para o líder do campeonato, o que vai lhe demandar duas ou três corridas, na melhor das hipóteses. Isso se não fizer muito calor em São Paulo e se o F 2003 estrear bem em Imola. (Ou será que a Ferrari vai antecipar a estréia da nova máquina).
Considerando que a McLaren vem bem neste ano, não se pode descartar a hipótese de chegarmos ao meio da temporada com o campeonato embaralhado.
E, pelo amor de Deus, nem me perguntem se o novo regulamento está certo pois já estou com um pouco de saudade daqueles corridas chatas do ano passado.
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Merecidíssima a vitória de Kimi Raikonenn. Comentaristastradicionalistas diriam que ela estava amadurecendo já há algum tempo e que o finlandês merecia um resultado destes desde o ano passado.
Eu, que não sou nem um pouco tradicionalista, não embarco nesta. Ganhar uma corrida de Fórmula 1 não é pra qualquer um. Creio que Raikonenn venceu na hora certa, vai ganhar outras corridas e pode muito bem vencer um ou dois campeonatos. Dizem que ele só perdeu o GP da França do ano passado por causa do óleo deixado pelo carro de não sei quem. Desculpem companheiros. Schumacher estava colado nele, passou sobre a mesma mancha e não rodou. Kimi sim.
Agora agüentem nos próximos dias os tradicionalistas saudando o finlandês com o eminente sucessor de Schumacher, enquanto relegam Montoya ao lixo da história.
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Uma palavrinha sobre os treinos.
A pole de Alonso não pode ser justificada apenas pelo fato de carregar gasolina para quatro voltas de corrida a menos do que Rubinho e, supõe-se, também Schumacher. Erraram os ferraristas em suas voltas rápidas? A Renault deu um salto repentino de qualidade? Os pneus Michelin são tão melhores assim?
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Bem feito. Villeneuve está pagando a língua com o Jenson Button.
Além de ver seu companheiro fazer duas boas corridas, Villeneuve pagou o mico do final de semana tendo de correr como um trouxa box acima e depois box abaixo atrás do carro que, no final das contas, nunca foi capaz de largar.
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Se Villeneuve foi o mico, sobra para Trulli o título de idiota não apenas da corrida como da temporada inteira.
O que este camarada tremendamente superestimado pela imprensa aprontou durante as 50 e poucas voltas da corrida justificaria não só a cassação da sua licença de piloto como também a de motorista de automóvel e de carrinho de supermercado. E quer saber: acho que ele se assustou naquela segunda curva, freou forte demais e pegou Schumacher distraído, talvez dando uma olhadinha de lado para ver onde andava Coulthard.
Trulli errou tanto na corrida que nem tem graça ficar contando. Até ao entrar no box, na sua segunda parada, ele deu um jeito de perder o ritmo. Especialmente humilhante foi a ultrapassagem que tomou de Schumacher lá pela 40ª volta e a saída de traseira quando perseguia Button.
Enfim, uma besta…
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Pizzonia e seus defensores que me perdoem, mas não vi ninguém tocar na traseira do seu Jaguar antes que ele batesse em Montoya (que largou muito mal e havia caído para 10º).
Pizzonia, em compensação, deu uma boa arrancada, saltando de 15º para 11º ainda na reta de largada, tendo passado milagrosamente no meio de dois carros na freada da primeira curva, chegando mesmo a tocar em um Minardi.
Depois, perdeu completamente o controle do seu Jaguar, pegando Montoya mais ou menos do mesmo jeito que Sato pegou Fisichella ano passado. E Pizzonia ainda espalhou de leve para cima do mesmo Minardi que havia tocado segundos antes.
Não creio que o resto da corrida do amazonense mereça ser comentado, inclusive o ato final, que fechou com chave de ouro um fim de semana latrinário para a Jaguar.
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Por falar em latrinário, que tal a qualidade da transmissão da TV da Malásia?
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Sobre da Matta, só podemos dizer uma coisa: ele terminou a corrida. É uma melhora considerável sobre seu resultado na Austrália.
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Rubinho foi cruelmente azarado na largada mas creio que não poderia ter disputado a vitória. Basta comparar seus tempos de voltas aos de Raikonenn. Ele se de algumas falhas no motor do Ferrari mas não dos pneus. Será que o idiota aqui não entendeu nada do que viu?
Bom domingo a todos
Eduardo Correa