O autódromo de Interlagos traz sempre uma corrida especial.
O circuito paulistano novamente se encarregou de fornecer a chave de ouro para encerrar um campeonato. Uma corrida cheia de reviravoltas para um campeonato idem.
Não é à toa que gente como Hamilton e Schumacher gosta de correr aqui.
Kimi também, pelo jeito, e pareceu ter muita vontade de andar no lendário circuito original.
Já levantei aqui no GP Total a bandeira de um movimento de recuperação desse traçado estupendo, espero que um dia apareçam seguidores. Seria uma alternativa para outras categorias, e até poderia ser uma atração turística, para pessoas comuns darem uma volta no circuito-berço da maioria dos pilotos brasileiros de fama internacional. Conheço um sem-número de brasileiros que fazem questão de percorrer a pé as subidas e descidas de Monaco. Será que não se disporiam a pagar para dar uma volta lá e entender que era aquele Interlagos e não a água que bebiam que tornava os pilotos brasileiros tão competitivos?
Como os seguidores do GP Total sabem, este traçado sempre foi elogiado pelos pilotos, de todas as nacionalidades e, em outro momento da F1, era obrigatório na pré-temporada para se encontrar o acerto ideal. Para mim é um mistério porque este trecho essencial da história do automobilismo permanece inativo.
O que falta falar sobre essa corrida, a mais “exciting” que Nelson Piquet já viu? (Será mesmo? Mistério.)
Sendo coerente com a tese de que os pneus continuam sendo a mais importante chave para o sucesso nesta categoria, proponho dar mais uma olhada na coisa preta.
Vamos começar pela fase anterior à corrida.
Todas as equipes estavam cientes da previsão do tempo indicando chuva no domingo. Mas, pouco antes da corrida a possibilidade de chuva baixou para 40%.
Isto deixou os estrategistas das equipes trabalhando com a possibilidade de correr sem chuva. Tudo iria depender da temperatura. Se continuasse amena, como estava pouco antes da largada, o desgaste seria pequeno. Se aumentasse, iria obrigar os carros mais gulosos a trocas inesperadas.
Com essas condições, a estratégia ideal seria duas paradas, a primeira entre as voltas 20 e 25, calçar então pneus duros e, conforme a resposta deles, optar por médios (usados) ou novamente duros (novos) na parte final.
Mas no domingo as condições da pista antes da chuva eram diferentes das condições de sexta, quando a temperatura da pista chegava quase aos 50º. Estando a menos de 25º antes da largada, obrigava a uma mudança de estratégia. Os duros, que atuavam visivelmente fora do seu ecossistema na sexta, apresentando bolhas inclusive, pareciam ser a escolha lógica para o primeiro stint.
Um parentesis a respeito da suposta desmotivação de Rosberg. Ele se classificou em 9º, bem à frente de seu companheiro de equipe. Deu a impressão de estar correndo mais que o carro. Fecha parentesis.
E como estava o estoque de pneus dos principais competidores? A Ferrari dispunha de um único set de duros novos, McLaren e Red Bull dois sets. No long run da sexta, Alonso testou os duros e Massa os médios e os dados colhidos devem ter indicado que os médios seriam a melhor opção para seus carros, pois ninguém mais, exceto os Lotus fez essa escolha.
Com a chegada da chuva, o fator determinante passou a ser quem aguentaria mais na pista com os slick e para conseguir isso seria preciso manter a temperatura deles dentro da faixa ideal de trabalho.
Como vimos, Button e Hulk se destacaram no quesito. Button fazer isso não era nenhum mistério, mas o alemão surpreendeu. Sim, ele tinha feito aquela famosa pole justamente aqui mas… que outra façanha extraordinária debaixo de chuva ele cometeu nesse intervalo?
A Red Bull resolveu experimentar intermediarios e chamou o Webber. Deve ter achado bom o resultado, pois fez o mesmo com Vettel pouco depois. A McLaren seguiu seu exemplo com Lewis apenas, provavelmente confiando na notória habilidade e capacidade de julgamento de Jenson nessas condições.
Mas os intermediários começaram a se desgastar antes do esperado e foi assim que Button e Hulk abriram mais de 40’ dos demais.
Essa vantagem foi anulada pelo SC, uma injustiça involuntária com a exibição de talento dos dois em conseguir respeitar rigorosamente os limites da estreita faixa de pista seca e ao mesmo tempo manter os pneus em temperatura adequada. O número de rodadas ou meia-rodadas, do celebradíssimo Alonso inclusive, mostra o quanto estes dois estavam mandando bem.
Entre as voltas 18 e 20 tornou-se necessário voltar aos slick e Ferrari e Lotus novamente escolheram pneus médios, enquanto os demais passaram para os duros. Uma escolha um tanto arriscada para a rossa uma vez que costuma gastar mais os pneus dianteiros, o que não ocorre com os Lotus.
Mistério ainda sem revelação: por que Alonso diz que a equipe não errou na estratégia quando, em Montreal, na tentativa de um primeiro trocou um segundo lugar quase garantido por um modesto quinto, coisa que deixou meu amigo Gigante, experiente chefe de equipe, indignado. Talvez tenha sido esse suposto erro em escolher o momento da troca de pneus que tenha efetivamente tirado a taça das mãos de Alonso.
Mistérios a serem desvendados o ano que vem: conseguirá a Red Bull manter a Supremacia Newey? Conseguirá a Ferrari criar um carro à altura da sua tradição? Conseguirá Fernando repetir uma temporada tão brilhante? Conseguirá Jenson se mostrar competitivo o ano inteiro?
Quem fez a aposta errada em Perez, Ferrari ou McLaren?
8 Comments
Fernando e Lucas: acho difícil o Hamilton saber algo que não sabemos, a não ser o compromisso da M-B com a busca de um campeonato. Não tenho a menor dúvida de que um dia ela chegará lá. Se vocês tiveram a oportunidade de ler uma das minhas colunas na pele de Indianápolis Jones, o arqueólogo da F1, terão visto um certo GP de Tripoli, em que a Mercedes ganhou com carros que nem tinha tido tempo de testar, contra carros italianos favoritissimos. A eficiencia está no DNA dela. Não é à toa que o motor Mercedes é considerado o melhor do grid. Acho que o Hamilton se arrisca, sim, acho muito provável que ele consiga outro campeonato em algum dos próximos 3 anos.
Só não sei se será em 2013, porque bater a Supremacia Newey não é nada fácil, mesmo para um Ross “The Fox” Brawn.
Vamos por partes:
1) A ideia do Chiesa é muito boa com relação ao aproveitamento do antigo traçado de Interlagos. … bem melhor do que manter o que restou largado no meio do mato … o que falta para isso acontecer; vontade politica seria o caso? …
2) A temporada de 2012 foi sensacional e pode ser analisada de varias maneiras … a analise a respeito das estrategias da Ferrari serem as principais razões pela perda do campeonato pelo Alonso faz sentido … a meu modo de ver a baixa competividade das RBR’s na primeira parte da temporada ajudou o Alonso subir para a liderança assim como as inconstancias da Mclaren. Se analisarem sob ponto de vista quesito velocidade o titulo deste ano deveria ter sido entre o Vettel e o Hamilton …
3) Com relação aos questionamentos no final da coluna penso que
– as RBR’s estarão na frente em 2013
– a maior incógnita será a Ferrari ter um carro novamente vencedor …
– Fernando Alonso vai carregar certamente novamente a equipe nas costas
– o Jason Button terá tudo para ser competitivo em 2013 … se não for se aposenta …
– Com relação ao Sergio Peres quem se deu bem foi a Sauber … o cara não é uma brastemp
Fernando Marques
Niterói RJ
Chiesa,
faltou uma grande pergunta: a Mercedez vai dar um carro vencedor para o Hamilton?
Fernando Marques
Niterói RJ
Sei não. Às vezes essa ida do Hamilton para a Mercedes me passa uma sensação de “ele sabe algo que não sabemos”.
A equipe está investindo bastante em mudanças internas e acredito que a contratação do Hamilton seja apenas “a cereja do bolo” dessa mudanças.
Acredito firmemente na possibilidade da Mercedes surpreender no ano que vem.
Carlos levantou um bom ponto: as escolhas táticas da Ferrari.
A Ferrari tem obtido excelentes resultados quando se trata de táticas defensivas, onde ela marca o carro que está mais próximo. Entretanto, quando ela sai desse tipo de tática ela erra. Em Silverstone Alonso perdeu a prova por escolher pneus diferentes de Webber e ainda assim ficar marcando o australiano. O mesmo ocorreu em Montreal quando eles decidiram não marcar Hamilton e arriscar tudo pela vitória. Nesse sentido creio que a Red Bull esteja a frente da Ferrari também.
Arlindo, meu amigo Gigante lembrou também da vitória de Maldonado, que poderia ter sido de Alonso se… a Ferrari estivesse mais bem equipada no item estratégia. Portanto o problema não foram as corridas sem pontuar mas os erros em momentos decisivos com relação às 4 coisas pretas.
Carlos… que a Fórmula 1 vá ao infermo se houver meios de fazer com que Interlegos volte ao seu traçado original.
Um grande abraço.
Walter, não espero que a F1 volte a usar o traçado original. Mas isso não impede que outras categorias possam fazer uso dele. Autódromos ingleses costumam ter os “club circuit” e Monza original também tinha outras opções.