MÔNACO!

MÔNACO!
24/05/2002
CERTO POR LINHAS TORTAS
29/05/2002

Panda

David Coulthard, com aquela cara de paralelepípedo dele, deve ser o mais surpreso de todos com sua vitória em Mônaco.

Ele não só ganhou como ganhou com méritos, fazendo um excelente tempo nos treinos, dando a melhor largada da temporada até agora e percorrendo todo o GP de forma não menos do que perfeita, a despeito de ter atrás de si, ou mais apropriamente em cima dele, Montoya, Schumacher e Ralf.

Do começo até o meio da prova, Coulthard tinha o ritmo mais lento entre os ponteiros. Pouco antes da sua parada nos boxes, ele disparou – aquelas coisas da Fórmula 1 que ninguém entende direito – e abriu 15 segundos sobre Schumacher. Foi isso o que lhe garantiu a vitória.

Uma corrida nota dez, em suma, dias depois de Ron Dennis ter dado entrevista à imprensa inglesa dizendo que a equipe já pensava na temporada 2003 porque, neste ano, nada mais havia a fazer.

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Mas não pensem que a supremacia da Ferrari foi por água abaixo.

Creio que em qualquer outra pista do campeonato, Schumacher teria deixado Coulthard para trás e vencido fácil, com Rubinho num provável 2º – as voltas mais rápidas do brasileiro no final da corrida não deixam margem à dúvida sobre a saúde do seu carro.

Fica a dúvida, é verdade, de quanto café os Williams tinham no bule para acompanhar o ritmo de Schumacher. Será que os pneus Michelin fizeram tanta diferença assim? Resposta daqui a 15 dias, no Canadá, uma pista invocada, que exige muito dos carros em termos de freios e consumo.

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E ainda tem a sorte de campeão de Schumacher. No dia em que chega em 2º, a corrida é vencida pelo seu adversário mais inofensivo, com Montoya ficando pelo caminho.

O colombiano segue fazendo corridas opacas – não más corridas mas certamente abaixo do que se esperava do homem que fez Schumacher tremer na temporada passada.

Faltou um pouco de tração na largada a Montoya mas faltou também um pouco mais de convicção que lhe permitisse cortar a frente de Coulthard e garantir a liderança da corrida. Com se viu, isso poderia ter decidido a corrida. Montoya repetiu em Mônaco sua tibieza de Interlagos. Comportamento ético, dirão alguns. Comportamento de perdedor, dirão outros, você escolhe.

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Ah, as primeiras dez ou quinze voltas da corrida. Coulthard, Montoya, Schumacher e Ralf correndo junto, colados no câmbio um do outro, sem ver nada à frente ou dos lados. Coisa de gente grande!

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O que nos lembra que Massa ainda tem muita coisa a aprender na Fórmula 1.

Sua corrida hoje foi abaixo da crítica. Fiquei com a impressão que, quando o Bernoldi o ultrapassou, deu-lhe uma fechadinha como que tirando um sarro. Massa se atrapalhou com a provocação e perdeu o ponto de frenagem, empurrando ridiculamente Bernoldi para fora, num incidente felizmente sem conseqüências, fora a barbeiragem.

Já a batida no final da corrida assustou a todos, menos o Cleber Machado.

Deu a impressão que Massa apagou dentro do carro, sucumbindo ao cansaço. Ele disse ter tido problemas de freios, o que é possível mas pareceu mais falta de habilidade do jovem brasileiro para conduzir rápido num corrida tão longa e tão exigente.

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Pistas intrincadas como Mônaco acabam pondo a nu as fraquezas de muita gente. Fora os suspeitos de sempre, citaria a dupla da Toyota e Kimi Raikonenn que vem fazendo um péssimo campeonato.

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O 6º lugar de Frentzen pela segunda vez em três corridas é má notícia para Bernoldi pois mostra que o Arrows tem lá suas qualidades – qualidades que Bernoldi não está sabendo explorar.

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Nota baixa também para Rubinho. Largou mal, precipitou-se na tentativa de ultrapassagem sobre Raikonenn, perdeu a cabeça nos boxes. Pelo menos, no final, não atrapalhou a bela corrida de Frentzen.

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E depois falam mal de Interlagos. Aquela descida que sai do Cassino em direção a Loew´s tem um calombo tão grande que os carros têm de desviar. Foi exatamente neste lugar que o McLaren de Coulthard começou a soltar fumaça.

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Tem se falado bastante que Schumacher e a Ferrari podem sofrer uma punição pelos acontecimentos da Áustria. Não é, de forma nenhuma, impossível.

É verdade que não há base legal para punir a Ferrari pelos acontecimentos de pista mas a Fia pode tentar fazer justiça por linhas tortas usando como desculpa a “falta de decoro” de Schumacher e Rubinho no pódium.

Neste caso, a Fia usaria de um artifício para punir a Ferrari com o propósito duplo de dar uma satisfação a quem abominou a troca de posição (ou seja, 99% da humanidade) e – não menos importante – tentar dar um pouco mais de cor ao campeonato, descolorido pelas seguidas vitórias vermelhas.

Só lembrando que foi mais ou menos isso que as autoridades esportivas fizeram em 94, quando sabiam que a Benetton se utilizava de softwares ilegais no carro de Schumacher.

Como não conseguiam detectar a irregularidade, perseguiram implacavelmente a equipe até que descobriram uma medida irregular. Aí, suspenderam o alemão por duas corridas (se não estou enganado) e permitiram a Damon Hill diminuir a diferença para o alemão no campeonato.

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Vendo os Jaguar se arrastando nas pistas à frente apenas do patético Yoong, me lembrei de meu avó dirigindo o seu Mercury serra abaixo em direção à Santos: devagar e sempre!

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É isso, Panda.

Indy fica por sua conta. Aguardo pelos seus comentários no final da tarde.

Grande abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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