Panda
Piquet, Panda & Cia que me desculpem, fala muito besteira (diria que sua aptidão para falar é inversamente proporcional à sua capacidade de pilotagem…) mas ele foi genial ao dizer que pilotar em Mônaco é a mesma coisa que andar de bicicleta dentro da casa.
22 carros, mais de cem mil pessoas, os guard-rails dentro da pista, as ondulações do circuito, as grades, os muros e as arquibancadas, os postos de sinalização e, ainda, um túnel e uma piscina num espaço onde mal daria para construir os boxes de um autódromo moderno. De fato, é como andar de bicicleta numa sala atulhada de móveis.
E quem é que não gosta de andar de bicicleta dentro de casa – e bem rápido, ainda por cima? É uma delícia exatamente porque se está forçando os limites da natureza.
A Fórmula 1 em Mônaco é uma maneira glamurosa, milionária mas nem por isso menos doida de se forçar a natureza. Os deuses tem sido generosos com estes desvairados e cobrado um preço comparativamente baixo pela loucura toda.
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Os anacronismo de Mônaco são tantos que nem se fala mais neles. Mas deixa eu lembrar de um que me é especialmente doloroso: o “complexo” La Rascasse, a última ou as últimas curvas antes da “reta” de largada.
Você sai da Piscina a uns 80 km/h, acelera fundo até chegar a quase 190 km/h numa meio reta meio curva ridiculamente pequena. Aí, freia até chegar a uns 40 km/h, engata a 1a marcha, joga o carro para a esquerda, depois tudo à direita num grampo bem aberto, segue por um fragmento de reta até a Antony Noghes, uma curva tão ridícula que nem dá para descrever. Em alguns momentos deste “complexo, você desacelera o carro totalmente, coisa rara hoje em dia. O giro do motor cai de 18 mil RPM para 4 mil.
Ah! No meio disso tudo tem a entrada dos boxes
É incrível, decididamente incrível, que homens e máquinas passem ilesos pela La Rascasse.
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Nos treinos de quinta-feira, Trulli vôo, andando abaixo do melhortempo da corrida do ano passado – da corrida, não do treino. Certamente estava com pouca gasolina e vontade de arriscar. É incrível a capacidade deste italiano para andar rápido quando não precisa.
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E por falar nas minhas implicâncias, Takuma Sato está de volta. Cuidado, portanto.
O homem tem o braço duro e a cabeça também. Digo o que digo não pelo acidente na Áustria, onde o japonês foi vítima mas pelo conjunto da obra na Fórmula 1.
Quem sabe ele melhore no futuro – as pessoas, você sabe, têm a capacidade de aprender. Ralf Schumacher, por exemplo, teve um começo de carreira latrinária na Fórmula 1 e hoje manda bem, melhor que Montoya, na minha opinião. Mas, no caso de Sato, não sei não…
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A Ferrari? Claro que é favorita.
Schumacher sempre andou bem em Mônaco e pode igualar domingo o recorde de vitórias de Senna, o que é sempre um desafio para o alemão.
Creio ser pouco provável uma virada da Williams ainda que os ingleses venham treinando muito. Entre os dias 14 e 17 e 20, os Williams rasgaram 1.080 voltas (isso mesmo: 1.080 voltas) no circuito de Valência, com Pizzonia, Gene e Ralf amassando o traseiro de tanto testar.
Mas acho cedo para a Williams reequilibrar as coisas no Campeonato. Talvez daqui as umas duas ou três corridas.
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Ok. Se tudo correr dentro da ordem, a Ferrari ganha. Mas quem ganha dentro da Ferrari?
Já acostumada a emoções rasteiras e hiper-realistas, talvez a categoria assista neste domingo a uma resposta grosseira aos acontecimentos detonados no GP da Áustria, com Schumacher cedendo deliberadamente a vitória a Rubinho.
Na cabeça do alemão, deixar Rubinho ganhar em Mônaco talvez seja uma forma de fazer justiça, a justiça que esteve nas mãos dele na Áustria já que, como observei aqui, era o único que poderia recusar a ordem da equipe e restabelecer a verdade das pistas.
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Entro com meus comentários sobre a corrida por volta de meio dia do domingo, deixando as 500 Milhas de Indianápolis para você comentar mais no final da tarde.
Abraços
Eduardo Correa