Nem Interlagos para Max

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Interlagos é palco de várias corridas caóticas por variados motivos ao longo dos anos na F1 e por isso, a pista paulistana já presenciou inúmeras surpresas, até mesmo em momentos de domínio, algo tão frequente nos trinta e três anos desde que a F1 voltou ao mutilado Autódromo José Carlos Pace. No meio da Era Ferrari, tivemos uma vitória maluca de Giancarlo Fisichella em 2003. No meio da primeira Era Red Bull tivemos vitória de Jenson Button na eletrizante final de 2012. Quando a Mercedes desfilava, Max Verstappen triunfou em 2019.

Porém, o mesmo Max Verstappen que interrompeu o domínio da Mercedes no final da década passada não dá chances à ninguém nesse domínio protagonizado por ele e a Red Bull. Interlagos foi apenas mais um capítulo dessa saga austro-neerlandesa que vem desde 2022, onde Max Verstappen segue impávido rumo à história da F1. Contudo, o circuito paulistano viu outra corrida movimentada, com alguns incidentes, uma disputa espetacular pelo último lugar no pódio e outra prova dominante de Max.

Ayrton Senna sempre mereceu e sempre merecerá todo tipo de homenagem a ele prestado. Ayrton foi um gênio das pistas, um dos maiores esportistas da história e um personagem que transcendeu o esporte. Porém, a F1 atual (pilotos, equipes e até mesmo organizadores) parece ter um protocolo obrigatório de sempre falar de Senna ao chegar ao Brasil, ignorando a bela e gloriosa história brasileira na F1. Aos incautos, além de Senna tivemos mais dois campeões mundiais e outros três vencedores de Grandes Prêmios, sendo que um deles dá seu nome ao circuito de Interlagos.

Será que Lewis Hamilton sabe quem foi José Carlos Pace?

Os finais de semana em Interlagos estão ficando a mesma fama de Spa, onde pelo menos um dia do programa da F1 é afeitado pelo clima. Porém, as cenas vistas na sexta-feira assustaram a todos que estavam em Interlagos, no prelúdio de uma tempestade que deixou a cidade de São Paulo em alerta.

Depois da tempestade que transformou o final da tarde paulistano de sexta em noite antes da hora, a Sprint Race no sábado em Interlagos viu mais do mesmo. Disputas em todo o pelotão, algumas belas disputas e no final uma tranquila vitória de Max Verstappen.

A corrida Sprint simplesmente não agradou a ninguém na F1 e menos de um ano após surgir o novo formato inaugurado em 2023, já se fala em mais mudanças para 2024.

Bastava a F1 guardar a ideia da Sprint Race numa gaveta bem escondida e deixar por lá!

Quando Charles Leclerc marcou o segundo tempo na Classificação para a corrida na sexta-feira, o próprio monegasco não esperava lutar mais seriamente pela vitória com um Max Verstappen praticamente intocável, sem contar que o sol apareceu forte no domingo, maximizando o grande problema da Ferrari nessa nova geração de carros, que é o desgaste de pneus. No entanto, o monegasco não esperava imitar o vexame de Alain Prost em Ímola/1991 ao bater durante a volta de apresentação, por causa de um problema hidráulico na Ferrari, deixando Leclerc revoltado com a própria falta de sorte. Esse foi apenas o primeiro incidente do dia, mas haveria mais.

Com a segunda vaga vazia, a largada foi dada com a dupla da Aston Martin largando horrivelmente, mas o problema aconteceu um pouco mais atrás, quando Albon ficou ensanduichado entre os dois carros da Haas. Mesmo tocado por Hulkenberg, Albon bateu mais forte em Magnussen e os dois saíram da pista, com o piloto da Williams destruindo a proteção de pneus na curva um. Magnussen acertou com força a traseira de Piastri, enquanto um pneu atingiu a asa traseira de Ricciardo, mas para sorte dos dois australianos, a bandeira vermelha deu as caras e ambos puderam consertar seus carros, partindo para a segunda largada, mesmo que uma volta atrasados.

A segunda largada foi mais tranquila, com Max se mantendo na frente de Norris, que se aproveitou da má largada da dupla da Aston Martin na primeira tentativa para pular de sexto para segundo e por lá o inglês da McLaren ficou a corrida inteira. Por um breve momento Norris chegou a ameaçar a liderança de Verstappen, mas o neerlandês da Red Bull se manteve impávido na frente, mal aparecendo na transmissão da TV para vencer pela décima sétima vez na temporada, desempatando com Prost como o quarto maior vencedor de corridas da história da F1. Norris também fez uma prova bem solitária, onde após o ataque inicial em cima de Max, o inglês se manteve confortavelmente na segunda posição, consolidando de vez a McLaren como uma das forças nessa segunda metade da temporada. Com os pódios em sequência de Lando, o inglês já começa a se aproximar da quarta posição no Mundial de Pilotos, algo que parecia inatingível no começo de 2023. Se as duas primeiras posições se mantiveram fora de alcance aos demais durante toda a corrida, do terceiro para trás foi uma briga de foice no escuro. A Aston Martin deu sinal de vida na sexta-feira com Stroll e Alonso conseguindo a segunda fila do grid, mesmo que ambos não tenham feito um trabalho de chamar atenção no dia da Sprint. Porém, o ritmo dos carros verdes estava lá e com certeza era bem melhor do que da grande decepção do dia. A Mercedes chegou a ficar em quarto e quinto no começo da corrida, mas a junção de um acerto errado e muito calor fez com que os carros pretos fossem ladeira abaixo durante a corrida. Alonso rapidamente se livrou de Hamilton, enquanto o inglês liderava uma fila enorme, que tinha também um ascendente Pérez, Stroll, Sainz e Gasly.

A falta de ritmo da Mercedes ficou clara com Pérez ultrapassando os dois com facilidade e mesmo com o time comandado por Toto Wolff tendo antecipado a primeira parada, seguido por Checo, o mexicano facilmente ultrapassou a dupla de ingleses novamente, com Hamilton depois segurando Russell, nos proporcionando uma DR decadente via rádio, com George querendo uma ordem de equipe para ultrapassar Lewis que nunca veio. Parando um pouco depois, Alonso se solidificava na terceira posição, mas o espanhol teria até o final da corrida Sergio Pérez querendo mostrar serviço lhe enchendo os retrovisores. Se com pneus médios Pérez teve mais dificuldades de acompanhar Alonso, quando ambos foram calçados com pneus macios no último stint, a pressão de Pérez aumentou, assim como podemos ver a magia de Alonso, traçando novas linhas, principalmente nas curvas que antecediam as retas com DRS. Saindo mais forte ao fazer uma trajetória por fora, Alonso mantinha Pérez sobre controle. Isso, até a penúltima volta, quando Checo conseguiu percorrer a reta dos boxes mais próximo da Aston Martin e numa manobra bem agressiva, conseguiu ultrapassar Alonso, que lhe deixou pouco espaço. Segundo o próprio Fernando, parecia que o pódio tinha ido embora, mas desistir não faz parte do vocabulário ‘alonsiano’ e o espanhol conseguiu uma bela manobra na reta oposta, na última volta, retornando ao terceiro lugar, que Fernando segurou de forma incrível na reta dos boxes, superando Pérez por 0,053s na bandeirada numa disputa de tirar o fôlego, que animou as últimas voltas do Grande Prêmio de São Paulo.

Sim, pois após toda a afetação dos problemas na primeira largada e o declínio dos carros da Mercedes, que foram ultrapassados por quem se aproximasse deles, a corrida entrou numa grande pasmaceira no meio da prova. Stroll fez uma prova bem segura depois de conseguir seu melhor resultado no grid em 2023, terminando em quinto e se mantendo longe dos problemas. A Ferrari se viu com problemas com Leclerc antes mesmo da corrida começar e talvez por isso Sainz fez uma corrida conservadora na maior parte do tempo, finalizando em sexto, mesmo o espanhol tendo sinalizado problemas de câmbio no finalzinho da prova. Gasly viu o acidente da primeira largada bem de perto, escapou por pouco de um toque com seu próprio companheiro de equipe, mas Pierre fez uma corrida correta, fechando a fila iniciada por Hamilton no começo da prova e andando no mesmo ritmo de Sainz. Quando a corrida ficou mais estabelecida, Gasly ainda ultrapassou Hamilton para ficar em sétimo, com Ocon fechando a zona de pontuação e sendo o único a fazer três pit-stops. Por sinal, mesmo num dia em que a Alpine viu seus dois carros pontuando, o time ainda viu seus dois pilotos se estranhando e é incrível como Ocon sempre tem problemas com seus companheiros de equipe. E isso não é coincidência. Tsunoda saiu da pista algumas vezes, mas o ritmo de Alpha Tauri era tão bom nesse final de semana que o nipônico ainda conseguiu marcar pontos, melhorando a situação do time italiano na luta para se livrar da última posição no Mundial de Construtores. Por fim, a Mercedes teve sua pior corrida em 2023 e após mandar Russell abandonar, por conta de um superaquecimento, viu Hamilton chegar apenas em oitavo, um minuto atrás do vencedor Verstappen, além de Lewis perder bons pontos para Pérez na luta pelo vice-campeonato.

Faltando apenas duas corridas para o fim da temporada 2023, a sensação que fica é que a vaga de quem é a principal rival da Red Bull está vazia por inconstância das equipes. Um ano depois de conquistar uma dobradinha em Interlagos, a Mercedes fez uma prova horrorosa nesse ano e parece perdida a ponto de Toto Wolff pedir desculpas aos seus pilotos por um carro tão ruim e, principalmente, imprevisível. Um carro totalmente novo será projetado para 2024. A Ferrari quebrou o 100% da Red Bull em Cingapura, mas os italianos são capazes de não largar com Sainz no México por problemas antes da largada e ter uma pane no meio da volta de apresentação no Brasil. A Aston Martin conseguiu pódios consecutivos no começo do ano, se perdeu no desenvolvimento do carro para ter uma ótima corrida em Interlagos após marcar seis pontos nas últimas três provas. Já a McLaren mal conseguia passar ao Q2 no começo da temporada, mas agora parece ser constantemente a segunda força, mas com a sensação de que o empurrão chegou tarde demais.

Enquanto isso, Red Bull e Max Verstappen mantiveram a regularidade, destroçando a concorrência com uma voracidade poucas vezes vistas.

Mesmo praticamente não havendo briga pela liderança da corrida e Max Verstappen se mostrando imbatível como foi o ano inteiro, Interlagos ainda nos trouxe uma prova agitada em alguns momentos, com vários abandonos, incidentes incomuns, uma bandeira vermelha e uma luta de tirar o fôlego entre Alonso e Pérez pelo pódio nas últimas voltas. Enquanto as equipes tentam se segurar em meia a tanta inconsistência, a Red Bull e Max Verstappen mantém sua estabilidade de vitórias em 2023 e nem a magia de Interlagos conseguiu quebrar esse encanto.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    JC,

    a supremacia de Verstappen é absurdamente uma sensacional covardia … a prova em si não foi aquela maravilha de se ver mas foi ao menos mais animada em relação a muitas que esta temporada proporciona … mas Alonso x Peres animou muito o fim de prova …
    A Mercedes decepciona neste fim de temporada
    Ao contrário a Mclaren merece aplausos
    A Ferrari é a mais imprevista de todas as equipes …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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