Panda
Começam a aparecer notícias de que McLaren e Ferrari terão bicos “revolucionários” em 2002 mas acho que as maiores novidades técnicas da próxima temporada estão mesmo nos motores.
Na verdade, está todo mundo correndo atrás da Renault. Na temporada 2001, a marca francesa lançou seu motor com o V dos cilindros num ângulo de 111º. Em matéria de engenharia de motores, trata-se de uma grande reviravolta: todos os demais fabricantes de motores usam ângulos entre 72º e 90º – caso da Ferrari e BMW.
Tradicionalmente, a marca franceses é agressiva em inovações. No final dos anos 70, investiu nos motores turbo. Não conseguiu nenhum título mundial mas acabou por mostrar o caminho para a Ferrari, BMW, Porsche e Honda colecionarem títulos. Depois, a Renault investiu no acionamento pneumático das válvulas, um desenvolvimento seguido por todos os fabricantes e que tornou possível um substancial crescimento no regime de rotação dos motores.
A Mercedes-Benz já anunciou que, em 2002, os seus motores passarão a ter abertura de cilindros de 90º e a Honda, que trabalhava com 80º, passará a 96º.
A abertura do V dos cilindros torna os motores menores em altura, o que contribui para a redução do centro de gravidade dos carros. O projetista Alan Jenkins, em artigo publicado recentemente na revista Autosport, explica que um centímetro a menos no centro de gravidade de um Fórmula 1 pode torna-lo meio segundo mais rápido por volta.
Outra revolução, esta ainda em fase de incubação pela Renault, é a introdução de válvulas de motor comandadas eletromagneticamente. Como funcionam? Ninguém fora da Renault sabe detalhes mas pode-se imaginar algum tipo de diafragma abrindo e fechando conforme pulsos eletromagnéticos.
As válvulas usadas atualmente são uns dos principais fatores limitantes de desempenho dos motores. Num motor que gira 18 mil vezes por minuto, uma válvula é acionada trezentas vezes por segundo. Válvulas acionadas por molas já não funcionam a velocidades bem menores – lembra-se das aulas de física? Molas têm massa e massa tem inércia. Foi exatamente por causa deste problema que a Renault desenvolveu o acionamento pneumático das válvulas ainda nos anos 80 mas, agora, mesmo esta solução está esgotada.
Outra frente de pesquisa, já bem adiantada na Arrows e Ferrari, é a construção de caixas de câmbio em fibra de carbono (caso da Arrows) ou fundidas numa única peça junto com o bloco do motor (caso da Ferrari). Aqui, o que se busca são dimensões menores e menos peso. Um Fórmula 1, hoje, se aproxima dos 500 kg de peso quando deveria pesar 600 kg. Para completar o peso mínimo exigido os engenheiros usam lastros distribuídos cuidadosamente pela carro, variando a posição do lastro de pista para pista. (Para você ter uma idéia da verdadeira paranóia técnica que domina a Fórmula 1 atual, equipes pensaram – ou chegaram a usar – isótopos de plutônio como lastro pois são extremamente densos. Ou seja: pesam muito e ocupam menos espaço.)
E há, finalmente, a enorme caixa preta da eletrônica embarcada.
Em 2002, entre outras novidades, será permitida na Fórmula 1 a telemetria bidirecional. Dos boxes, a equipe poderá intervir na regulagem do carro e do motor. Rendendo-se ao fato de que não pode controlar a eletrônica, a Fia tenta se acomodar. Em 94, depois de proibir suspensão ativa e maiores liberdade na gestão eletrônica de motores, a Fia se viu diante da impossibilidade de punir a Benetton de Michael Schumacher. Os fiscais sabiam que o carro do alemão escondia artimanhas eletrônicas proibidas mas a equipe argumentava que a Fia não podia provar que elas eram usadas durante a corrida.
A Fia teve de baixar a cabeça mas decidiu “perseguir” a Benetton, vasculhando seus carros impiedosamente após cada corrida, chegando mesmo a desclassificar o alemão depois da sua vitória na Bélgica. Também por causa de uma pequena infração, Schumacher perdeu o 2º lugar no GP da Inglaterra.
Mesmo assim, o alemão chegou ao seu primeiro título mundial, pondo Damon Hill para fora no GP da Austrália. Mas isso já é outra história.
Boa semana
Eduardo Correa