GP da Bélgica nunca decepciona. Apesar de não contar com ultrapassagens, assistimos mais uma luta direta entre os candidatos ao título. Lewis Hamilton bateu um Sebastian Vettel que ficou a corrida inteira em seus calcanhares.
Penso que Lewis fez o que dele se esperava, incluindo a 68ª pole que o igualou a Michael Schumacher como recordista no quesito. Mas eu estou surpreso positivamente com o desempenho da Ferrari. Eu não acreditava que esta pudesse incomodar a Mercedes nesse nível numa pista de alta, que usa pouca carga de asa. Vettel foi competente o suficiente para conseguir um segundo lugar no grid, à frente de Valtteri Bottas, e arriscou tudo no fim de prova ao colocar pneus supermacios, contra um Hamilton que repetiu os pneus médios em sua última parada.
O desempenho de Vettel dá esperanças que o campeonato continue apertado, apesar de prognósticos mais favoráveis à Mercedes nas pistas que restam na temporada.
Recapitulando: a Mercedes deve (atenção ao termo ‘deve’) ser favorita em Monza, Suzuka, Austin, Hermanos Rodrígues e Interlagos, enquanto Ferrari deve mostrar melhor potencial em Cingapura, Abu Dhabi, enquanto Malásia pode ser o maior ponto de equilíbrio entre as duas.
Nestas condições, título de Hamilton. Mas a Ferrari está mais próxima do que o imaginado em pistas onde não tem o status de favorita.
O que sempre escrevi sobre o sistema de pontos chega a um patamar ainda mais especial. Daqui em diante, ainda mais importante do que coletar pontos é ver quantos pontos cada candidato vai jogar fora por erros ou falhas do carro.
Nessa Fórmula 1 que há muito abandonou o sistema de melhores resultados e tem carros virtualmente inquebráveis, uma quebra acaba sendo um resultado mais impactante no campeonato do que uma coleta de pontos normal.
Daqui em diante, entre Lewis e Seb, quem quebrar menos leva a taça.
Mas se a Mercedes foi melhor, o que explicaria o 5º lugar de Bottas, atrás de Daniel Ricciardo e Kimi Räikkönen? (Bela corrida de Ricciardo!)
A resposta é a relargada, após o incidente entre as Force India (assunto mais pra baixo) ter demandado Safety Car. O finlandês ficou espremido por ambos no fim do retão Kemmel, e não restou outra alternativa senão recuar, sem possibilidade para recuperar terreno. Em condições normais, Bottas teria sido o terceiro colocado.
A diminuição das ultrapassagens em Spa está diretamente ligada aos novos carros com mais aderência mecânica e aerodinâmica. Repararam que Spa ficou ‘fácil’ para esses carros?
A Eau Rouge há muito pode ser feita em pé embaixo, enquanto trechos como a Pouhon, curva insana feita em alta, exige não mais que um toquinho de freio pra você posicionar a tangência de maneira correta. Os carros estão tão eficientes que em plena Kemmel conseguem frear além do começo da zona de zebra.
As regras deram asa demais pra esses carros.
Situação estúpida na Force India. Numa temporada em que o time, que possui enormes limitações financeiras, coloca um carro muito bom na pista, para terminar nos pontos regularmente, isso apenas não acontece quando seus dois pilotos resolvem se encontrar na pista.
Sergio Pérez esteve particularmente problemático. Fechou o companheiro Sebastian Ocon no mergulho da Eau Rouge na largada (justificou-se dizendo que o mapeamento do carro estava errado), tomou 5 segundos de punição por cortar caminho na Les Combes, e pra fechar uma corrida desastrosa, fechou Ocon de novo no mergulho, desta vez provocando avarias nos carros dos dois pilotos, que não tiraram o pé na Eau Rouge! Uma doideira!
Talvez o mexicano esteja abalado por mais uma vez ver as portas da Ferrari fechadas, já que Vettel e Räikkönen tiveram seus contratos renovados. Pérez é um ótimo piloto, mas precisa recuperar a compostura. Ao menos já pediu desculpas pelas besteiras cometidas. É um começo.
Com um histórico de problemas no Azerbaijão e na Hungria entre Pérez e Ocon, a Force India não teve outra escolha: impôs ordem de equipe para os dois.
Abandonos. Max Verstappen experimentou mais uma vez a sensação de ter seu carro quebrado, desta vez com apenas 8 voltas de corrida, quando seu motor pifou. Em 12 corridas, ficou a pé em metade delas. No Barhein, falha dos freios; Espanha, danos na largada num ‘triwide’ com Kimi e Bottas; Canadá, falha elétrica; Azerbaijão, pressão do óleo; e Áustria, nova colisão na largada, quando Kvyat jogou Alonso contra ele.
E por falar em Abandonos & Alonsos, nos estágios iniciais o espanhol figurava num inspirador 7º posto, mas começou a ser ultrapassado em reta de modo mais uma vez constrangedor. Ele encostou nos boxes na volta 22, há muito fora dos pontos, alegando problema de motor. A questão é que hoje pipocaram notícias que a Honda fez uma análise e não encontrou nenhuma avaria.
Entendo o ponto de vista de Alonso. Ser ultrapassado como ele foi, o motor mesmo funcionando a toda potência é como se estivesse com defeito.
Destaque positivo para Felipe Massa. Ele começou mal o fim de semana, moendo seu carro nos pneus nos treinos de sexta, o que arruinou as atualizações que a Williams havia levado.
O time apanhou feio na qualificação, mas na corrida, o brasileiro, que partiu em 16º mostrou um ritmo de corrida sólido, e, aliado a contratempos e abandonos da concorrência, resultaram num 8º lugar na bandeirada, dando a Massa o posto de piloto que mais ganhou posições na corrida.
É inegável, entretanto, que a Williams tem perdido terreno, justamente em pistas onde costumava ir bem, as de alta. Force India e Renault estão certamente um degrau acima, e hoje a equipe de Sir Frank tenta se salvar em lutas contra Haas e Toro Rosso.
Um dos momentos de destaque em Spa foi a aparição de Mick Schumacher a bordo da Benetton-Ford B194 que seu pai levou ao título mundial de 1994. A ocasião marcou os 25 anos da primeira vitória de Michael na F1, justamente em Spa, em 1992. Mick usou um capacete dividido em metades: de um lado, as cores que usa atualmente na F3, do outro, a pintura usada pelo pai em 1994.
Claro que este carro traz consigo uma fama de irregular, e das sacanagens que a Benetton usou para superar a Williams no ano marcado pela morte de Ayrton Senna. Mas uma coisa não podemos discutir: o carro, de fato, tinha controle de tração, como se suspeitava. Mas o sistema era… lícito.
Em abril deste ano, o engenheiro Willem Toet, que trabalhava na época na Benetton, publicou em seu perfil no LinkedIn como a Benetton contornou o regulamento e criou esse sistema que otimizava a aceleração do carro.
Os colegas do site Projeto Motor traduziram os pontos principais do artigo, e fizeram uma retrospectiva de todas as outras artimanhas que a Benetton usou para levar o título daquele ano, decidido em uma fechada criminosa de Schumacher em Damon Hill na corrida final de Adelaide. O artigo é muito interessante e esclarecedor, porque a análise é bastante sensata, sem resquícios de passionalidade. Vale a leitura.
Destaque também para a vitória de Sérgio Sette Câmara na F2, a antiga GP2, na corrida 2 de Spa. Pilotando para a holandesa MP Motorsport, ele até então não havia conseguido pontuar nas 7 primeiras rodadas duplas da categoria. Mas chegando em Spa, teve um bom desempenho já na corrida 1, do sábado, em que terminou em sexto.
Na ocasião, o vencedor, o monegasco Charles Leclerc foi desclassificado por irregularidades em seu carro. Mesmo com esse revés, ele segue dominando a temporada, com 5 vitórias e outros 7 resultados no top-5.
De quem é o passe do garoto? Da Ferrari, que acaba de renovar contrato de Vettel e Räikkönen. Não me surpreenderia em vê-lo na Sauber ou na Haas ano que vem. É um nome para acompanharmos com atenção.
Não podemos deixar de creditar à Mercedes o favoritismo para o GP da Itália, já no próximo fim de semana. É bastante conservador acreditar que os resultados da Bélgica possam se repetir por lá. Caso Hamilton vença, com Vettel em segundo, estes dois campeões terminarão a prova italiana empatados em 238 pontos. Quem seria o líder? Lewis, com um placar de vitórias em 6 x 4.
Interessante, né?
Abração!
Lucas Giavoni
6 Comments
Vai ser difícil a Ferrari deixar escapar uma vitória em casa. Hamilton fez a diferença no equilíbrio de forças observado em Spa que é uma pista onde ultrapassagens não são difíceis. É bom que Vettel seja um pouco mais agressivo em Monza, outro templo sagrado do automobilismo ao lado de Silverstone, Mônaco e Spa. Até agora tem marcado pontos importantes quando não pode vencer. Mas nem sempre um ponteador ganha o campeonato,vide Carlos Reutemann em 1981.
Vai ser difícil a Ferrari deixar escapar uma vitória em casa. Hamilton fez a diferença no equilíbrio de forças observado em Spa que é uma pista onde ultrapassagens não são difíceis. É bom que Vettel seja um pouco mais agressivo em Monza, outro templo sagrado do automobilismo ao lado de Silverstone, Mônaco e Spa. Até agora tem marcado pontos importantes quando não pode vencer. Mas nem sempre um ponteador ganha o campeonato,Carlos Reutemann em 1981.
Lucas,
Com relação à 68ª pole de Hamilton queria salientar que o recorde de Schumacher foi igualado no 200º GP do inglês, enquanto Schumi levou 241 GP’s para conseguir a marca.
Como Hamilton conseguiu 7 poles em 12 GP’s e ainda faltam 8 creio que a marca das 70 poles será facilmente batida este ano. Se considerarmos os grandes campeões da F1, por enquanto, em termos relativos, ele perde para Fangio(28/51), Clark (33/72), Ascari 14/32 e Senna (65/161).
Neste GP, quando se esperava pelas características da pista uma vitória tranquila da Mercedes, assistimos Hamilton tendo que se esforçar e usar todo seu talento para não ser ultrapassado por Vettel, que ameaçou e pressionou muito. A Ferrari evoluiu bastante nas pistas de alta, emoções à vista em Monza, onde correrão em casa.
Continuo achando que este campeonato será decidido nos detalhes, acidente, quebra ou punição. Os resultados e a regularidade dos 2 principais postulantes ao titulo são impressionantes.
Este Ricciardo é um piloto realmente excelente, com um carro inferior tem obtido ótimos resultados. O dia em que tiver nas mãos um carro de ponta provavelmente será campeão.
Márcio
Excelente texto, amigo Lucas!
Tivesse a Ferrari de Vettel um pouco mais de potência, e teríamos visto um belo drible no inglês, quando tivemos a relargada no trecho final da prova.
Uma pena, pois teria sido lindo.
E que venha Monza!
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR
lUCAS,
Eu gostei do GP da Bélgica deste ano … toda a atenção da corrida ficou em cima do duelo entre Hamilton x Vettel e há muito tempo não via isso já que o lider disparando na frente na corrida a TV ficava mostrando apenas os duelos nas zonas intermediarias …
Hamilton venceu a corrida e segurou o tranco do Vettel … mas concordo com Lucas abaixo quando diz que se fosse o Vettel o lider da corrida, Hamilton não conseguiria a ultrapassagem também … talvez a Ferrari se não for já o melhor carro, está pau a pau com a Mercedes … perdendo apenas na potencia da força motriz …
….
Eu acho que a Mercedes de Hamilton é a favorita para Monza … agora se a Ferrari bater a Mercedes lá, o psicológico da equipe e principalmente do Hamilton pode ir pro ralo … lembram daquele nocaute dito aqui no GEPETO pouco tempo atrás … eu acho que ele pode estar guardado para Monza …
–
–
Com relação a briga entre Peres x Occon o que mais me surpreende neste quiprocó é o fato dele ser o que mais está rendendo ibope na temporada quando todos em sua grande maioria esperava um trem destes entre Verstapen e Ricciardo … pena que nesta questão a Força India seja a mais prejudicada …
–
–
Quanto ao Verstappen, o que mais está incomodando ele não é a quebra de seu carro e sim o show de pilotagem que Daniel Ricciardo vem dando na pista.
–
–
Quanto ao Massa, não resta dúvidas que ele fez uma bela corrida …
Fernando Marques
Niterói RJ
O que muitos (inclusive de dentro) comentam é que a Ferrari já é o melhor carro – e provavelmente Lewis não teria chance se não tivesse largado na pole e dado a sorte do safety car que permitiu uma segunda troca sem sustos. Vamos ver como será na próxima…