O crescimento de Oscar (coluna + YouTube)

Memórias são boas, e as vezes não a do piloto que vence
11/04/2025

Dentro da McLaren, a personalidade dos seus dois pilotos não poderia ser mais distinta. Enquanto Lando Norris é expansivo e simpático, Oscar Piastri é mais reservado e introspectivo. Por causa do seu temperamento, Lando Norris aparece mais na mídia do que seu companheiro de equipe, por falar melhor com a imprensa e os fãs. Ninguém duvida do talento de Norris, mas sua chance parece ter sido mesmo em 2024, quando passou boa parte do campeonato tendo um carro superior que o de Max Verstappen e não conseguiu capitalizar isso. Enquanto isso Oscar Piastri ia crescendo e amadurecendo dentro da McLaren, que tanto lutou para ele entrar na equipe.

 

Com tudo tendo começado do zero em 2025, Lando Norris viu que seu maior adversário pode não ser Max Verstappen, mesmo com toda a exuberância do neerlandês, demonstrado semana passada em Suzuka. Oscar Piastri começou o ano muito forte e mesmo com o próprio Lando tendo crescido após sua luta com Max em 2024, o desenvolvimento de Piastri foi ainda maior. Em Sakhir, Oscar Piastri se mostrou dominante, enquanto Norris cometeu alguns vacilos aqui e ali, deixando o campeonato bem interessante entre os dois pilotos da McLaren.

Nos treinos livres a McLaren demonstrou um ritmo avassalador frente aos rivais, porém, na classificação, as coisas foram mais próximas, mesmo que em nenhum momento a superioridade da McLaren fosse contestada. Lando Norris já havia reclamado de um certo desconforto com o carro da McLaren no Bahrein, mas ninguém poderia imaginar a brochada que o inglês protagonizou no Q3.

Piastri dominou a classificação e teve a incômoda presença da Mercedes de Russell bem próximo. Leclerc levou a Ferrari ao top3, superando por muito um decepcionante Lewis Hamilton. Posteriormente a dupla da Mercedes perderia uma posição por terem ido para o final do pit-lane antes da hora, após o forte acidente de Ocon no Q2. E Norris? O inglês ficou atrás de Piastri e até mesmo de Russell na primeira tentativa do Q3 e na última cometeu, um ligeiro erro na primeira curva, que fez Lando ficar apenas em sexto.

O Grande Prêmio do Bahrein foi bastante diferente do que foi visto semana passada em Suzuka. Se no tradicional circuito nipônico não houve muitas trocas de posições, em Sakhir o asfalto abrasivo e um circuito mais largo fez da prova desse domingo bem mais animada que a vista sete dias atrás. É triste dizer isso, mas Sakhir combina mais com a F1 atual do que Suzuka.

Piastri confirmou sua pole facilmente, mesmo com um ataque de Russell na primeira curva. Largando com pneus médios e rodeado de carros calçado de pneus macios, o segundo colocado Leclerc foi facilmente batido por Russell e Norris na largada, caindo para quarto. A ótima largada de Lando levantou algumas sobrancelhas e o inglês já atacava Russell quando veio o motivo da surpreendente largada do representante da McLaren. Lando nitidamente estacionou seu carro à frente do colchete de largada, rendendo à Norris uma punição de 5s quando fizesse sua parada.

Mesmo punido pelo erro na largada, Norris não perdeu tanto tempo assim e rapidamente estava novamente em terceiro lugar, próximo à Russell. A dupla da Ferrari largou com pneus médios e ao esticar o primeiro stint, a dupla rossa teve uma vantagem de borracha quando retornaram dos boxes, com Leclerc e Hamilton se tornando os pilotos mais rápidos do pelotão, efetuando várias ultrapassagens, incluindo o monegasco ultrapassando Norris e partindo para cima de Russell. Quando a metade da corrida chegou, um toque entre Tsunoda e Sainz trouxe detritos na curva 3, num claro caso de Safety-Car, mas ao invés do virtual, situação mais lógica, quem apareceu foi o Aston Martin de Bernd Maylander. A F1 estava disposta a não repetir a procissão de Suzuka de qualquer jeito, até mesmo inventando um SC maroto!

Piastri fez sua segunda e última parada nesse momento, colocando pneus médios e teria a preocupação de relargar com Russell usando macios, numa audaciosa tática da Mercedes em deixar George com os pneus mais moles nas últimas 24 voltas. Piastri não teve trabalho com Russell e nas últimas voltas despachou os adversários com facilidade, colocando 15s em cima do inglês da Mercedes na bandeirada. Uma vitória dominante de Piastri, lembrando o triunfo na China e mostrando um certo padrão para o australiano. Numa corrida onde o ritmo de corrida é preponderante, Oscar é insuperável nesse momento. Agora apenas três pontos de desvantagem para Norris, essa vitória pode ser o boost definitivo para Oscar Piastri se lançar para a luta pelo título.

Nos retrovisores de Piastri, bem de longe, a briga pelo segundo lugar era bastante animada. O SC abalou bastante a estratégia da Ferrari, estancando o avanço de Leclerc e Hamilton. Obrigatoriamente tendo que colocar pneus duros, Leclerc perdeu rendimento e foi atacado por Norris na relargada, mas na manobra, Lando acabou ultrapassado por Hamilton. Algumas voltas depois Norris deu o troco no compatriota, mas ao ultrapassar fora da pista na curva 4, teve que devolver a posição para Hamilton, que já se maldizia pelo rádio, reclamando da aderência dos pneus duros.

Norris não demorou a atacar Hamilton e logo depois já estava na caixa de câmbio de Leclerc, tirando o monegasco do pódio. Zak Brown já estava com os olhos brilhando, vendo uma possibilidade de dobradinha na frente dos maiores acionistas da McLaren, ricos investidores barenitas, quando Russell começou a ter problemas eletrônicos em seu carro, afetando até mesmo a transmissão da corrida e fazendo com que George fosse investigado pela FIA por ter acionado o DRS de forma irregular.

Com pneus melhores, Norris foi para cima do compatriota nas voltas derradeiras da corrida. Russell lutou bastante, alargou curvas e num esforço final, conseguiu segurar a segunda posição, garantindo a melhor posição dele em 2025, o deixando como um rival próximo na luta pelo título, mesmo que a Mercedes esteja claramente um patamar abaixo da McLaren no momento. Felizmente a investigação da FIA poupou George Russell, que fez uma bela prova e não merecia uma punição. Norris terminou em terceiro, mas lambendo as feridas numa corrida onde seu companheiro de equipe dominou a prova e ganhou uma baita confiança para a luta pelo campeonato. Nesse momento, na luta interna da McLaren, Piastri está por cima frente à Norris.

Mesmo Charles Leclerc largando da primeira fila, ele acabou a prova em quarto, com a Ferrari claramente como a terceira força do pelotão. Muito pouco pelo o que foi prometido pela cúpula da casa de Maranello e com a badalada dupla que a Ferrari tem nos seus boxes. Hamilton terminou logo atrás de Leclerc, tendo feito uma corrida bem movimentada quando teve pneus médios, mas caiu de rendimento com pneus duros. Lewis ainda está devendo nesses seus primeiros momentos como piloto da Ferrari.

Andrea Kimi Antonelli foi provavelmente o mais prejudicado pela entrada do SC, saindo da zona de pontuação após frequentar tranquilamente o top10, inclusive uma bela ultrapassagem sobre Verstappen. O neerlandês da Red Bull fez uma corrida opaca, diferente do visto semana passada. Verstappen largou mal e a partir daí não evoluiu mais, só conseguindo ultrapassar a Alpine de Gasly na última volta, terminando num sexto lugar bem chinfrim, com direito a dois pit-stops ruins da equipe austríaca.

Tsunoda pode bater no peito e dizer que andou perto de Verstappen, terminando a corrida apenas 11s atrás de Max, mas o japonês conseguiu apenas a nona posição e os primeiros pontos do segundo carro da Red Bull em 2025. Cada vez mais a Red Bull dependerá da inspiração de Verstappen, o que pode ser insuficiente para dar o quinto campeonato para Max e, pior, tirar a paciência do neerlandês. Depois da corrida flagrou-se uma discussão bem acalorada entre Raymond Vermeulen, empresário de Verstappen, e Helmut Marko, que novamente bradou pela imprensa que se não melhorar, a Red Bull poderá perder Max Verstappen em breve.

Na briga pelo melhor do resto, destaque para a Alpine. Gasly largou em quarto, conseguiu se manter à frente de Hamilton e Verstappen sem maiores arroubos no primeiro stint e com uma estratégia ortodoxa da equipe gaulesa, Gasly se manteve nos pontos de forma confortável e no último stint segurou Verstappen, só sucumbindo na última volta. Foram os primeiros pontos da Alpine em 2025 e só não foram mais, porque Doohan perdeu rendimento demais nas voltas finais, mas o australiano passou boa parte da prova nos pontos, na sua melhor corrida em sua breve carreira na F1.

Outro destaque foi Ocon, que após a pancada que deu na classificação, acertou em cheio na estratégia e conseguiu um sólido sétimo colocado, que somado ao ponto de Bearman com o décimo lugar, segurando Antonelli nas voltas finais, significa que a Haas ocupa uma ótima quinta posição no Mundial de Construtores. Sainz largou bem e chegou a ocupar a sexta posição, mas o espanhol foi perdendo rendimento até ter uma batida com Tsunoda, que danificou bastante seu carro. Logo depois Sainz se envolveria numa disputa com Antonelli que lhe garantiu uma punição, mas com o carro avariado, Carlos se tornou no único abandono do dia. Albon fez uma prova discreta saindo das posições intermediárias e estava na luta pelos pontos, mas acabou apenas na P12.

 

Se Hadjar marcou seus primeiros pontos em Suzuka numa corrida tranquila, em Sakhir a Racing Bulls em nenhum momento foi competitiva e o francês ficou nas últimas posições. Lawson dessa vez chegou fisicamente na frente de Hadjar, mas acabou punido em 15s por um toque com Stroll e Hulkenberg, terminando nas últimas posições. A Aston Martin viveu, muito provavelmente, seu pior final de semana nos últimos dois anos, onde nem Alonso foi capaz de fazer sua magia e colocar a equipe verde próxima dos pontos. Adrian Newey terá muito trabalho pela frente. A Sauber tinha o pior ritmo do dia e mesmo Hulkenberg estando na briga junto de Racing Bulls e Aston Martin, esteve longe de fazer algo mais, enquanto Bortoleto, mesmo com as punições de Lawson e Doohan, terminou em último. Para completar, Nico seria desclassificado por desgaste irregular na prancha no fundo do carro.

 

Marc Márquez (foto acima) falou que o circuito do Catar não lhe favorece, tanto que só venceu uma vez por lá. Porém, a fase do espanhol está tão boa, que Marc nem ligou para o seu pobre currículo no Catar para vencer, porém, não foi uma vitória tranquila como as outras. Marc levou um toque do seu irmão Alex na primeira curva, lhe rendendo algumas aletas. Chegando como líder do campeonato, Alex Márquez teve uma corrida turbulenta, se envolvendo num toque desnecessário em Di Giannantonio que lhe custou uma volta longa, estragando sua corrida. Por causa do toque entre os irmãos Márquez, quem assumiu a liderança foi Franco Morbidelli, mas o italiano só ficou na liderança na primeira parte da prova. Porém, Marc não veio sozinho, trazendo consigo uma surpresa. O irregular Maverick Viñales estava num dia ‘on’ e andou próximo da dupla da Ducati oficial, com Bagnaia saindo de um decepcionante P11, após cair na classificação, para lutar pela vitória. Pela primeira vez no ano Pecco ultrapassou Marc Márquez, mas logo tomou o troco, além de ser ultrapassado por Viñales. Acostumado a lutar com Márquez, Viñales não se intimidou com Marc e liderou por algumas voltas, mas dois erros significaram que Marc estaria liderando novamente, dessa vez de forma definitiva, vencendo novamente, além de se consolidar mais uma vez na liderança do campeonato.

Viñales acabaria punido pela regra da pressão de pneus, mas a nota triste foi pelo novo acidente do atual campeão Jorge Martin, que lhe custou algumas costelas quebradas, um pneumotórax (posso dizer que isso dói demais…) e provavelmente algumas provas de molho.

A tradicional pista de Long Beach, que viu a primeira vitória de Nelson Piquet na F1 e o último pódio de Emerson Fittipaldi na categoria, festejou sua 50º edição nesse domingo, no maior evento da Indy depois das 500 Milhas. Numa prova sem bandeiras amarelas, Kyle Kirkwood (foto acima) dominou a corrida, derrotando pela primeira vez Alex Palou em 2025, mas com o segundo lugar o espanhol vai se consolidando como favorito ao tetracampeonato.

A corrida em Sakhir foi bastante animada do segundo lugar para trás, pois na frente Oscar Piastri não deu chances a ninguém. O australiano vai para a Arábia Saudita com bastante confiança, o que poderia facilitar a vida da McLaren, pois se as rivais Red Bull (Max Verstappen) e Mercedes (George Russell) apostam unicamente em um piloto, a McLaren terá que administrar as ambições de dois pilotos jovens e sem títulos. Ainda.

Lando Norris terá que remar bastante para dar a volta por cima e recuperar o protagonismo dentro da McLaren. O título pode ser decidido dentro da McLaren e Piastri hoje está em viés de alta.

Abraços!

João Carlos Viana

 

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Leandro disse:

    Podemos dizer que Piastri já “sente o cheiro de sangue”… acho que o radio vai começar a falhar se ouvirem sobre “papaya rules”.

    Fico feliz em ver a McLaren de volta ao topo e uma briga animada no meio do pelotão.

Deixe um comentário para Leandro Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *