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Edu,

Você já ouviu falar em Giacomo Agostini? Não? Bem, vale a pena aproveitar qualquer oportunidade de conhecer melhor sua carreira. Ele representa para o Mundial de Motovelocidade a mesma coisa que Fangio para a Fórmula 1. Foi (ainda é) recordista absoluto de títulos e vitórias. O homem venceu 15 títulos mundiais (isso mesmo, quinze) e 122 GPs…

Tudo bem, você vai lembrar que o Mundial de Motos é dividido em várias categorias (hoje são três, mas na época de Agostini eram seis) e que até meados dos anos 70 era comum os pilotos correrem em mais de uma categoria (normalmente duas) na mesma temporada. Então, vamos ficar apenas com a 500 cm³ (hoje MotoGP), a classe principal. Nela, Agostini conquistou 8 títulos mundiais e 67 vitórias. Entre 1968 e 1970, ele venceu 20 GPs seguidos, sendo campeão invicto nas temporadas de 1968 e 1969.

É claro que esses números não aconteceram por acaso. Além de ter sido um piloto excepcional, Agostini foi favorecido no final dos anos 60 pelo fato de correr pela MV Agusta, a única fábrica de motos que participou diretamente do campeonato naqueles anos. Antes e depois, porém, o italiano ganhou (e também perdeu) disputas memoráveis contra fortes equipes de fábrica. Nos anos 60, seu maior adversário era outra lenda do motociclismo: o inglês Mike Hailwood, que corria pela Honda. Depois da temporada de 1967, a Honda deixou o Mundial e Hailwood bandeou-se para o automobilismo. Foi por isso que Agostini ficou sem adversário nas temporadas seguintes.

Nem por isso pode-se dizer que o italiano teve vida fácil nesses anos. Emerson Fittipaldi viu em Nurburgring, acho que em 1970, uma atuação famosa de Agostini. Sob chuva forte e muita neblina, no traçado antigo (quase 23 km), Agostini virava praticamente tempos quase iguais aos obtidos com pista seca. Dizem que esta foi a maior corrida do italiano, algo como a Donington/1993 de Senna ou a Hungaroring/1986 de Piquet.

Com a entrada de outras marcas (primeiro a Yamaha, depois a Suzuki, para citar as principais), a 500 cm³ voltou a ganhar competitividade no começo dos anos 70. Agostini deixou a MV Agusta no final de 1973: dizem que ele e seu companheiro de equipe, o inglês Phil Read, não se suportavam. O italiano foi para a Yamaha e ganhou seu último título em 1975. No final de 1977, abandonou as motos e resolveu experimentar novas sensações: foi correr com carros. Copiou os passos de Surtees (que foi o maior nome das motos antes da “era Agostini” e tornou-se campeão mundial de F 1 em 1964) e Hailwood (que correu na F 1 e foi campeão europeu de F 2, coincidentemente defendendo a Surtees).

Ao contrário de seuscompanheiros, Agostini teve uma carreira medíocre sobre quatro rodas. Em 1978, seus resultados no Campeonato Europeu de F 2 foram pífios. Nos dois anos seguintes correu com um Williams FW 06 no Aurora AFX, um campeonato (fraquíssimo, diga-se de passagem) disputado principalmente na Inglaterra com carros de F 1 e F 2. Conquistou como melhor resultado um terceiro lugar. Disputou também o Gran Premio Dino Ferrari, corrida extracampeonato de F 1 que mereceu um artigo especial de nosso amigo Tales Torraga, do Grande Prêmio (www.grandepremio.com.br). Terminou em 10º lugar, a uma volta do vencedor Niki Lauda.

Agostini Parou de correr e voltou para o motociclismo como chefe de equipe, conquistando mais alguns títulos mundiais no comando da equipe oficial da Yamaha. Hoje, aos 60 anos, está semi-aposentado e comparece a praticamente todos os GPs de moto, sendo uma espécie de embaixador do esporte.

Minha admiração por pilotos de moto (qualquer um) é muito grande, mas acho difícil que algum dia os números de Agostini sejam superados.

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E o Brasil, como fica no Mundial de Motos?

O motociclismo sempre teve no Brasil muito menos força que o automobilismo. Durante longos períodos, tivemos poucas categorias, poucas corridas, poucos pilotos. Condições nada propícias para uma renovação constante de talentos como a que acontece, por exemplo, na Espanha, país que recebe três GPs do Mundial (todos com lotação esgotada) e onde a maioria das equipes montou sua sede. Para completar, poucas vezes as fábricas de motos tiveram participação direta e duradoura no motociclismo brasileiro.

Por isso, os feitos internacionais de nossos pilotos são resultado único e exclusivo do talento de cada um. Para ficarmos apenas no Mundial, Adu Celso foi o primeiro brasileiro a vencer um GP (Espanha, 1973, na categoria 350 cm³). Nosso representante atual, Alexandre Barros, tem quatro vitórias na categoria 500 cm³ – uma em 1993 (Espanha), duas em 2000 (Holanda e Alemanha) e uma em 2001 (Itália). Parece pouco, mas essas foram as únicas temporadas em que Barros teve máquinas competitivas – não necessariamente as melhores. Suas chances, portanto, foram muito bem aproveitadas. Espero que ele ganhe mais algumas corridas em 2002.

Abraços,

Panda

GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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