O MAIS JOVEM VENCEDOR

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Edu,

Vou direto ao que interessa:

1) Fernando Alonso conseguiu sua primeira vitória na Fórmula 1. Merecida, pois este espanhol já havia mostrado seu valor ainda em 2001, quando pilotou o horrível carro da Minardi. Neste ano, seus desempenhos anteriores credenciavam-no a vencer um GP a qualquer momento.

Com essa façanha, Alonso conseguiu passar para a história. Por vários motivos: a) ser o primeiro piloto espanhol a vencer um GP de F 1 (essa ninguém tira dele); b) tornar-se o piloto mais jovem (22 anos e poucas semanas) a vencer um GP; c) dar à Renault sua primeira vitória como equipe depois da volta à F 1, em 2002, e a primeira depois de 20 anos – a última havia sido em 1983, quando Alain Prost ganhou o GP da Áustria.

É bom ver isso. Alonso pode vir a ser um dos grandes nomes da Fórmula 1 nesta década.

2) Sobre a quebra de Barrichello. Ouvi nitidamente o locutor da TV dizer indignado que “acompanho F 1 há 30 anos e nunca vi acontecer uma coisa dessas”. Que memória curta, hein, amigo? Aconteceu no dia 6 de abril deste ano, no GP do Brasil, com Ralph Firman Junior. A única diferença é que a roda que saiu voando foi a dianteira direita – com Barrichello, foi a traseira esquerda. Em ambos os casos, quebra de suspensão.

3) Michael Schumacher 72 pontos, Juan Pablo Montoya 71, Kimi Räikkönen 70. Sensacional em termos de disputa do título, sem dúvida. Mas não, eu não vou mudar minha opinião sobre o atual regulamento. Isso não está acontecendo por causa dele, e sim porque a Ferrari caiu, enquanto McLaren, Williams e Renault subiram.

Ralf (58), Alonso (54), Barrichello (49) e Coulthard (45 pontos) ainda têm chances matemáticas, mas só entram mesmo na briga pelo título se tiverem muita sorte nas próximas duas corridas – e os três primeiros, muito azar.

É difícil dar um palpite sobre quem tem mais chances de ser campeão. Ainda aposto em Schumacher: o mau desempenho da Ferrari nas últimas duas corridas se deve, em grande parte, à proibição de testes, que caiu justamente no momento em que a equipe italiana mais precisaria fazê-los. Agora, eles estão liberados e a Ferrari certamente vai fazer muitos nestas semanas que faltam para Monza.

Creio que ali saberemos quem é o favorito ao título – por enquanto, não tem nenhum. Se a Ferrari (e a Bridgestone) tomarem na Itália um “charuto” igual ao das últimas corridas, pode esquecer o alemão e escolher entre Montoya e Räikkönen. Se houver uma (boa) recuperação, a Ferrari estará na parada. A conferir.

+++

Já faz mais de um mês que recebi esta nota do Ricardo Divila, mas o grande número de assuntos acaba provocando certos atrasos…

“Caro Panda, caro Edu. Vendo a nota sobre Macau, vale a pena lembrar Teddy Yip, ex-piloto, mecenas e dono de equipe, uma das forças por trás do GP de Macau. Ele faleceu na semana passada, aos 96 anos. Uma figura rara, foi dono de equipe em F 1, CART e outras categorias, com carros feitos para ele por gente boa do ramo (todos dos chamados Theodore). Vários pilotos ótimos guiaram seus carros, vide nota anexa. Anfitrião exímio, cada vez que íamos a Macau convidava todo o circo para um jantar excelente no hotel Lisboa (também de sua propriedade), o melhor restaurante chinês em que comi na minha vida… Também, Macau é na China! Bom amigo, divertidíssimo e bon vivant. No seu 84º aniversário, fretou dois Boeing 747 e trouxe todas as suas ex-mulheres e namoradas para uma festa numa das suas ilhas ao longo da costa chinesa – exemplo que espero imitar no meu 90º aniversário, se a patroa deixar…
Abraços, Ricardo.”

Em seguida, passo para uma tradução livre e resumida do artigo (retirado de algum site, mas sem identificação) mencionado por Divila:

“15 de julho de 2003 – Teddy Yip, um dos mais pitorescos donos de equipe da Fórmula 1 nos anos 1970, morreu aos 96 anos. Tinha nacionalidade holandesa, mas nasceu naquela que depois seria a Indonésia. Falava, entre outros idiomas, holandês, inglês, alemão, francês, malaio, tailandês e seis dialetos chineses.

“Yip fez fortuna com comércio no Extremo Oriente e nos anos 1960 passou a ajudar vários pilotos. Chegou a pilotar carros de corrida mas teve mais sucesso como patrocinador. Sua primeira aparição no automobilismo internacional foi apoiando Brian Redman na Fórmula 5000, em 1974. Nesse mesmo ano, patrocinou o australiano Vern Schuppan no campeonato da USAC (OBS: antecessora da CART) e na equipe Ensign de F 1. Yip também ajudou Alan Jones, que venceu duas corridas de F 5000 em 1976. Em 1977, patrocinou Patrick Tambay, que disputou a segunda metade da temporada de F 1 com um Ensign.
“Para 1978, Yip designou Ron Tauranac para montar uma equipe de F 1 e projetar um carro, o Theodore TR1. Eddie Cheever não se classificou para a largada nos GPs do Brasil e da Argentina. Na África do Sul, Keke Rosberg assumiu o volante e colocou o carro no grid. Depois desse GP, Rosberg venceu o International Trophy, em Silverstone, uma corrida extracampeonato – e seria a última corrida do carro, que passou vários GPs sem se classificar para largar e foi abandonado. No ano seguinte, Yip patrocinou a Ensign, igualmente sem grandes resultados.

“Em 1980, Yip entrou como patrocinador da Shadow já com a temporada em andamento. Logo depois, comprou a equipe e retirou-a do campeonato, a fim de prepará-la para a temporada de 1981. Tony Southgate, o projetista da Shadow, ficou incumbido de projetar um novo carro, o Theodore TY-01. A equipe estreou no GP da África do Sul, que acabou não valendo para o campeonato. O piloto era Geoff Lees e o carro ainda era o último Shadow, o DN-12, modificado e rebatizado de Theodore TR2.

“O TY-01 estreou no primeiro GP oficial da temporada, em Long Beach, com Patrick Tambay marcando 1 ponto no campeonato. Seria o único em toda a temporada. Esse mesmo carro foi usado em 1982 por vários pilotos, nenhum deles marcando pontos. Para a temporada de 1983, Yip e Mo Nunn, dono da Ensign, decidiram juntar forças: o carro desenhado por Nigel Bennett, que deveria correr como Ensign N183, foi rebatizado de Theodore. A equipe teve Roberto Guerrero e Johnny Cecotto como pilotos. Cecotto marcou um ponto no campeonato, mas o melhor resultado do ano acabou sendo um 4º lugar na Corrida dos Campeões (extra-campeonato), com Brian Henton pilotando o carro de Cecotto. Ao longo do ano, porém, o carro perdeu competitividade e no final do ano Nunn e Yip decidiram constuir um Indycar para 1984. Depois disso, Yip saiu de cena, mas manteve intacta sua paixão pelo automobilismo.”

Para nós, brasileiros, vale a pena acrescentar alguns detalhes. Na verdade, Yip ainda patrocinou equipes por algum tempo, especialmente no GP de Macau de F 3. Em 1983, por exemplo, Ayrton Senna venceu o GP de Macau em um Ralt patrocinado pela Marlboro e pela Theodore. Idem Maurício Gugelmin, dois anos depois.

Também vale a pena citar que a surpreendente vitória de Rosberg no International Trophy de 1978, em Silverstone, foi obtida depois de uma luta titânica e sob forte chuva com Emerson Fittipaldi, que guiava o Copersucar F5A. Os favoritos abandonaram e aquele foi o dia em que Emerson esteve mais perto de vencer uma corrida com seu próprio carro – e quase aconteceu, pois Rosberg chegou a perder o controle do Theodore por alguns momentos. Por ironia do destino, dois anos depois Rosberg passou a ser piloto da equipe Fittipaldi.

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Da série “devo, não nego, pago quando puder”. Ao Annibal Magalhães (Rio das Flores, RJ): escreverei em breve aquela história do GP de Tripoli. Ao José Ângelo Petit Neto (Florianópolis, SC): idem GP da França de 1981. Só mais um pouquinho de paciência, por favor…

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Creio que a esta altura todos já sabem o que eu acho do atual regulamento da F 1. Quem não souber, por favor leia minhas colunas escritas até julho (pode ser praticamente qualquer uma) ou mande cartas para a redação.

Abraços,

LAP

GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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