Vai começar (?) mais um campeonato Mundial de Fórmula 1. Falta pouco mais de um mês para voltarmos a ter carros andando pelas pistas do mundo e a ansiedade começa a crescer!
Estamos às vésperas da 72º edição de um campeonato mundial de fórmula 1. Após um ano do ápice de uma pandemia, não é o melhor dos mundos ter um campeonato novinho para esquecer as dificuldades do ano anterior?
Muitas mudanças nas equipes, algumas mudanças de regulamento e um novo “Pacto de Concordia” já operando com mais restrições de desenvolvimento dos carros.
É um ano diferente, ano que espera a grande mudança de 2022, mas pode ser o melhor dos anos!
A pandemia não ficou para trás. Logo de cara, não vamos ter testes em Barcelona e a duas primeiras corridas foram adiadas e/ou substituídas.
Para começar o ano, 3 míseros dias de testes para as equipes de 12 a 14 de março no Circuito Internacional do Bahrein. Um dia e meio para cada piloto, mais 100km de “dia de filmagem”. Isso é tudo que os times e seus novos pilotos terão para se entender com os carros de 2021.
Está fora de cogitação rodar e bater. Motor quebrar? Impensável. Todos deverão rodar seus programas mais conservadores possíveis para entender o funcionamento dos carros no máximo possível de voltas na pista. Não seria surpresa times dividindo a presença dos seus pilotos por período: um de manhã e outro a tarde, mantendo o cansaço dos pilotos em um nível mais baixo para poder andar a maior quantidade de voltas sob a luz do sol.
Ter só 3 dias pode não ser o ideal para desenvolver um novo bólido. No melhor dos mundos possíveis, isso pode levar para as primeiras provas do ano um grau de incerteza elevado e misturar o favoritismo do campeonato.
Como está o calendário desse mundial de 2021 (até o momento):
28 de março: Bahrain (Sakhir)
18 de abril: Itália (a ser confirmado)
2 de maio: a ser confirmado
9 de maio: Espanha (Barcelona)
23 de maio: Mônaco (Monte Carlo)
6 de junho: Azerbaijão (Baku)
13 de junho: Canadá (Montreal)
27 de junho: França (Paul Ricard)
4 de julho: Áustria (Red Bull Ring)
18 de julho: Inglaterra (Silverstone)
1 de agosto: Hungria (Budapeste)
29 de agosto: Bélgica (Spa-Francorchamps)
5 de setembro: Holanda (Zandvoort)
12 de setembro: Itália (Monza)
26 de setembro: Rússia (Sochi)
3 de outubro: Cingapura (Marina Bay)
10 de outubro: Japão (Suzuka)
24 de outubro: EUA (Austin)
31 de outubro: México (Cidade do México)
7 de novembro: Brasil (Interlagos)
21 de novembro: Austrália (Melbourne)
5 de dezembro: Arábia Saudita (Jedá)
12 de dezembro: Abu Dhabi (Yas Marina)
Junto com a mudança dos testes também temos mudanças nos carros. Objetivo puro e simples de diminuir o esforço gerado sob os pneus.
O tom paternalista da F1 é nítido. Pneus podem estourar por excesso de esforço continuo e acúmulo de desgaste, correto? A solução não seria simplesmente fazer mais um pitstop? Pneu gasto + risco de furar = troca.
Os Pirellis desse ano não mudam de composto pelo terceiro ano consecutivo. A marca fez alguns testes fracassados durante a temporada passada. A estrutura, isso sim, vai mudar. Um pouco mais reforçada nas laterais, um pouco mais de borracha e vamos em frente.
Junto com a mudança de pneus, uma redução no tamanho do assoalho para reduzir o efeito do difusor. Tecnicidades à parte, vão deixar a traseira do carro “mais solta”. O curioso desse ano vai ser ver os pilotos com carros muito semelhantes aos de 2020, mas mais lentos.
No melhor dos mundos possíveis, deixar os carros por volta de 1 segundo mais lentos vai melhorar a segurança de todos os envolvidos e diminuir o risco de termos pneus furando como aconteceu em Silverstone em 2020.
Também teremos em 2021 o começo da implementação do teto de gastos por equipe. Não seremos aqui detalhistas de passar item por item, porque a quantidade de regras é possível de interpretação somente com um time de juristas e contadores.
Acabou a era de orçamento ilimitado. Não dá pra ter mais 400 pessoas cuidando do motor, 400 cuidando do assoalho e outras 400 da aerodinâmica. Agora são USD 145 milhões para você preparar seu time para um campeonato de 21 corridas. Você receberá um crédito de USD 200.000 se a Pirelli te chamar pra testar pneus e mais USD 1.2 milhão se a F1 decidir fazer um GP adicional na temporada.
Fora do limite de gastos estão os pilotos, ações de marketing e 3 funcionários de alto escalão que o time escolher. Também estão fora tudo que não afeta a performance na pista. Coisas como seu time de advogados, encargos trabalhistas, turma do RH. A conta é complexa e tem que considerar gastos par fornecimento de motores (a Mercedes, por exemplo, gasta muito mais no departamento de motores para atender seus clientes do que a Renault).
Esse ano é um ano de transição. As equipes tem até o meio do ano para apresentar o plano de adequação do seu quadro de funcionários ao novo limite. Para Mercedes e Ferrari, tarefa mais complexa. Para Williams, ainda falta dinheiro para chegar ao limite de gastos previstos.
No melhor dos mundos possíveis essa regra deve limitar as chances de uma equipe estabelecer uma supremacia duradoura. Mas não vai impedir que as operações mais eficientes (e que saibam avaliar melhor os riscos de cada investimento) continuem andando na frente.
Já que mudamos um pouquinho de tudo, carros, pneus, orçamentos…por que não, caro fã, mudar também o formato dos fins-de-semana?
Treinos livres agora são mais curtinhos: uma hora somente para cada treino livre. A turma da F1 alega que ninguém estava andando e acabava só ocupando tempo das equipes. Oras bolas, a F1 diz que você tem que usar só 3 motores para percorrer o calendário inteiro, limita a quantidade de pneus por final de semana e ainda espera que você ande livremente para testar seu carro? Um brinde a coerência.
Ainda falando do tempo de corrida, sob bandeira verde e amarela segue com o limite de duas horas, o que muda é no caso de interrupção por bandeira vermelha. Agora há um novo limite para a duração total do evento: 3 horas.
Além disso, 5 minutos antes da volta de apresentação os cobertores elétricos dos pneus serão desconectados de qualquer fonte de energia. Agora vai depender um pouco mais do piloto o correto aquecimento na volta de apresentação.
No melhor dos mundos possíveis é importante esse agrado de limitar a duração dos eventos para os parceiros que transmitem o Mundial, ficará mais fácil para programarem suas grades de exibição, mesmo que isso custe tempo de entretenimento dos seus fãs.
Do lado dos pilotos e equipes, uma ano agitado em vista. Cinco pilotos mudaram de emprego, temos 3 estreantes e duas equipes mudaram de nome. Pelo menos se os carros não mudam muito na expectativa do novo regulamento de 2022, teremos algumas novidades para fazer nossas apostas.
Vettel na Aston Martin, Sainz na Ferrari, Perez na Red Bull, Ricciardo na Mclaren, Alonso (não dá pra considerar Alonso estreante) na Alpine e as estreias de Mick Schumacher, Nikita Mazepin e Yuki Tsunoda. “Só” 40% do grid alterado!
Ainda tivemos um mini-não-drama com a renovação do contrato do Hamilton. Tudo parecia muito simples e agora, depois de assinado, tudo parece mais complicado e nebuloso. Está assinado para mais uma temporada e aí? O que será do futuro do campeão de 2021? Ele aposenta sem sentir o gostinho de andar nos carros novos de 2022? Ou será que apostou alto e vai querer mais participação financeira na Mercedes após a confirmação do título de 2021?
Não há porque acreditar nas dificuldades que a Mercedes “alardeia” todo começo de temporada. Formula 1 é difícil mesmo e encontrar dificuldades deve fazer parte do cotidiano desses fabulosos engenheiros. O “problema” de sempre é que o engenheiro da Mercedes fica sabendo muito cedo das dificuldades e trabalha com outros engenheiros que são especialistas em resolver problemas. Tudo isso muito antes do campeonato começar, esse é o ponto central na diferenciação da Mercedes para os demais times. Quando todos os demais resolverem seus problemas descobertos nas pistas do mundo, a Mercedes já estará pensando para qual prova deverá levar as novas camisetas de “Campeões do Mundo”.
No melhor dos mundos possíveis ter duas equipes “novas” e 40% do grid alterado gera entusiasmo e oferece um grau de incerteza que pode nos distrair durante a conquista de mais um título por Hamilton.
Voltaire narrava, em seu livro chamado Cândido, que mesmo nas mais adversas situações haveria um otimismo latente no ser humano que lhe fazia enxergar a situação como a melhor possível dentre o melhor dos mundos. Desgraças sucessivas não abalavam o otimismo ingênuo de Cândido (já no nome um trocadilho com a pureza do personagem central).
Dessa forma, tudo caminha para a melhor temporada de todos os tempos; porque, se não fossem só 3 dias de testes para oferecer um grau de incerteza maior no começo do ano; se o carros não estivessem em média um segundo mais lentos para que não ocorram surpresas desagradáveis como estouros de pneus que possam pôr em risco as corridas; se não tivesse chegado o limite de gastos para recompensar as operações dos times que são mais eficientes; se não houvesse um limite de tempo de corrida na televisão deixando claro que é melhor interromper uma disputa na pista do que esticar a grade de transmissão; se não houvesse tantas mudanças no quadro de pilotos só haveria como assunto mais um título de Hamilton; não estaríamos nós prestes a ver o melhor campeonato que a Formula 1 poderia produzir no ano de 2021. É certo que voltando ao estado pueril e otimista – narrado em tom de sátira por Voltaire – que podemos nos empolgar com essa temporada transitória da Formula 1.
No melhor dos mundos possíveis…
Abraços!
Flaviz Guerra
2 Comments
Muito bom Flaviz. Como fã se F1, gostei muito danei artigo
Fláviz
23 corridas … Haja corridas …
Mas apesar de você ter feito uma bela coluna do que pode e/ou vai ser o campeonato em 2021 faltou uma coisa a dizer …
Veremos as corridas na Band e não na Globo.
Teria Reginaldo Leme de volta … Mariana Becker também e ficaremos livres do comentários do Galvão Bueno, que como bem diz o Piquet, entende de muita coisa, menos de fórmula 1
Fernando Marques
Niterói RJ