O melhor Emerson

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Amigos, feliz 2025 a todos!

Estamos de volta com atualizações aqui no site, nos próximos dias com republicações e com colunas inéditas a partir de 28 de janeiro.

Começamos com este texto meu, escrito para www.ultimavolta.com, do Lucas e do Marcio, em 24/12/2008 e republicado aqui no Gpto dois meses depois.

Abração e vamos em frente!

Edu

GP da Argentina, 1ª etapa do Mundial de 73, Autódromo de Buenos Aires, dia 28 de janeiro.

Pobre de mim! Assisti ao GP da Argentina errado.

Eu estava lá em 72, quando Emerson Fittipaldi corria bem, mas quebrou e não estava lá em 73, quando ele fez aquele que é considerado – por ele próprio, inclusive – como o melhor GP da sua carreira, conseguindo uma vitória só comparável a Indy 89.

Pior do que não estar lá: eu sequer vi a corrida na TV. Enfurnado na fazenda da família no sul de Minas, onde não pegava TV de jeito nenhum, preferi sair para remar no lago próximo. Ao voltar pra casa, final da tarde, meu pai deu-me a notícia ouvida pelo rádio de ondas curtas: Emerson ganhou!

Assim, sem mais detalhes. Não me emocionei especialmente. Era já a 7ª vitória de Emerson em GPs que eu podia comemorar, tendo assistido a todas elas pela TV, menos Estados Unidos 70. Só mais tarde, ao ler 4Rodas e AutoEsporte me dei conta que aquela não tinha sido uma vitória qualquer; havia sido uma vitória espetacular, uma aula de audácia ao volante, Emerson ganhando duas posições dificílimas ao mesmo tempo em que controlava o desgaste dos pneus do seu Lotus sob calor intenso, diante de supostas 100 mil pessoas, 10 mil delas vindas do Brasil. E eu lá, remando!

A corrida, em poucas palavras: Clay Regazzoni, estreando na BRM, larga na frente e por ali fica por 28 voltas. Mas ele acaba com os seus pneus e cede a posição para François Cevert, que era seguido por seu companheiro na equipe Tyrrell, Jackie Stewart. Atrás deles vinha Emerson. Restavam 66 voltas para o final. A corrida de verdade ia começar.

O Lotus de Emerson rendia o mesmo que os Tyrrell. Não tinha força para ultrapassá-los nas retas tampouco nas curvas de alta, pois perdia muita aderência na frente. Os Tyrrell, em compensação, não tinham como abrir vantagem. Naqueles tempos pré-pitstops, as coisas teriam de se resolver na pista.

Emerson começa jogando com a psicologia, agitando o punho para Stewart, colado na traseira do seu carro. Não se sabe se a pressão sensibilizou o escocês, um osso duro de roer e que não se constrangeria de forma alguma em segurar o brasileiro para garantir a vitória de Cevert que, nesta altura, tinha apenas uns poucos segundos de vantagem.

Emerson pressionou Stewart durante 42 voltas e acabou achando o seu caminho para o 2º lugar no único ponto de baixa velocidade do autódromo, um grampo que se seguia a uma curva rápida à direita, percorrida a 260 km/h, onde Emerson sempre perdia aderência.

Na volta 76, porém, ele sai do grampo à frente de Stewart, depois de frear “muito, muito, muito tarde”, como o próprio Emerson descreveu, fazendo o autódromo explodir em regozijo, toda a rivalidade Brasil-Argentina caindo por terra. A imprensa internacional registra que Stewart perdeu a posição para Emerson por conta de um pneu traseiro furado – mas deve ter sido um furo bem pequeno pois Stewart não parou para trocá-lo e sequer perdeu a 3ª posição.

Agora era a vez de Cevert.

Emerson engole a distância que os separa em poucas voltas, aproveitando para quebrar o recorde da volta seis vezes seguidas, melhorando em mais de dois segundos a marca anterior. Na teoria, passar Cevert era fácil: bastava repetir a manobra anterior. Mas havia um probleminha: o BRM de Jean-Pierre Beltoise havia espalhado bastante óleo no ponto de frenagem, tornando uma trajetória de ultrapassagem muito arriscada.

Resta a Emerson tentar a manobra na curva chamada Tobogan, de média para alta velocidade, à direita. Retardando ao máximo a freada, ele consegue colocar o bico do Lotus por dentro. Desesperado, Cevert tenta fechar a porta, obrigando Emerson a colocar duas rodas na grama. Mas era tarde demais para o francês. O autódromo explode de novo.

Nas dez voltas finais, Emerson conduz com segurança, mas sem folga, Cevert terminando a corrida pouco mais de quatro segundos atrás dele.

A vitória na Argentina foi um momento alto na carreira de Emerson, servindo para confirmar os seus dotes principalmente junto à imprensa internacional. Do que pude ver, seu título de 72 não tinha sido devidamente valorizado, principalmente pela imprensa inglesa, que ponderava que a Tyrrell alinhara com um carro “velho” durante boa parte da temporada e também que Stewart sofrera com uma úlcera que o fez faltar a um GP. Mas era, no fundo, apenas reflexo do chauvinismo natural dos ingleses, que viram em 72, pela primeira vez desde 58, um alienígena vencer o Mundial de Fórmula 1.

Depois da Argentina 73, não se podia mais olhar para Emerson como um competidor simplesmente sortudo. Ele estava, indiscutivelmente, no mesmo nível de Stewart. O resto da temporada seria um longo e emocionante duelo entre eles, um duelo do qual a Argentina, a corrida que não assisti, era apenas o primeiro capítulo.

Resultado do GP da Argentina de 1973

1) Emerson Fittipaldi (Lotus 72D), 55 voltas em 1h29min58s400

2) Francois Cevert (Tyrrell 006), + 4.690

3) Jackie Stewart (Tyrrell 005), + 33.190

4) Jacky Ickx (Ferrari 312B2), + 42.570

5) Denny Hulme (McLaren M19C), + 1 volta

6) Wilson Fittipaldi (Brabham BT37)

 

Edu

P.S.: Um artigo em espanhol com muitos detalhes sobre o GP da Argentina 73: https://www.f1-web.com.ar/argentina73.htm

Não achei bons vídeos sobre a prova. Agradeço se alguém puder ajudar

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

4 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Olá Edu
    Olá amigos do Gepeto

    Pensei que ainda estavam de férias … hehehehe
    Começar o ano de 2025 com esta delicia de coluna é um deleite

    Salve 2025

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Leandro disse:

    Que beleza!

    Falando em Última Volta… algum projeto envolvendo as 101 vitórias brasileiras?

  3. Antonio Manoel Cardoso Ribeiro disse:

    Ola, bem vindos,,

    o que posso dizer,,,, muito bom,, excelente, maravilha,,

    Abraços,,,

    Antonio Manoel

  4. Rubergil Jr disse:

    Salve Edu e demais do GPTotal! Um ótimo 2025 para todos!

    Que corrida essa do Emerson, fantástica.

    E foi muito marcante também por ter sido o primeiro ponto de Wilson Fittipaldi na Formula 1, e a primeira vez na história da F1 que 2 irmãos marcaram pontos na mesma corrida. E fora a segunda vez que 2 brasileiros pontuavam – lembrando que ainda naquele ano de 1973, teriamos ambos pontuando de novo e junto com Pace marcando a primeira vez que 3 brasileiros pontuam na mesma corrida!

    Como é bom relembrar os grandes feitos de nossos ases na pista. Inspiração para que o Bortoletto comece com o pé direito sua carreira na F1 este ano.

    Abraços!

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