O primeiro ano do resto de suas vidas

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Márquez não terá vida fácil em 2017

Olá amigos do Gepeto! Essa é a minha primeira coluna de 2017. Quem diria, já falta pouco para o fim de mais uma década, a segunda do novo milênio. É curioso observar como em muitas esferas diferentes, o ano de final 7 costuma romper com os padrões vigentes e aponta os primeiros traços do que veremos a seguir.

Na música temos vários exemplos disso. 1957, por exemplo, foi o ano em que o Rock ‘n’ Roll definitivamente se tornou não apenas o estilo musical mais quente do momento, como um fenômeno cultural. Em 1967, esse mesmo estilo estaria com uma cara completamente renovada, graças novos músicos, tecnologias e costumes na sociedade.

Outros dez anos se passaram até que em 1977 outra transformação viese com o Punk. Dessa vez, o rompimento com o passado foi ainda mais evidente deixando muitos artistas “obsoletos” da noite para o dia. Ironicamente, em 1987 era o próprio Rock ‘n’ Roll que começaria a ceder espaço para o Rap e o Hip Hop, que primeira vez na história atingia o primeiro lugar nas paradas musicais.

A Fórmula 1 também está cheia de exemplos. Foi em 1967 que estreou um novo regulamento técnico com motores de 3500 cilindradas, permitindo que a fértil imaginação dos engenheiros ganhasse asas, literalmente. Já em ’77, Colin Chapman irrompeu a cena com o primeiro de efeito-solo da história, além de vermos também o primeiro carro turbinado.

O Mundial de Motovelocidade também tem os seus exemplos, é claro. O ano de 1987 marcou o primeiro título de um australiano, o extraordinário Wayne Gardner. Duas décadas depois, o país era uma potência estabelecida na MotoGP já tendo formado um mito (Mike Doohan) e contando com o sensacional Casey Stoner, o primeiro piloto a realmente fazer frente à Valentino Rossi. Isso sem dizer que 2007 é, até hoje, o único ano em que uma Ducati conseguiu ser campeã mundial na categoria rainha.

É esse desejo de ser campeã novamente que fez a Ducati, mais uma vez estabelecer novas diretrizes em 2017. Agora com o dinheiro farto da Audi (via Volkswagen), a marca de Borgo Panigale está investindo tudo o que pode para voltar a vencer corridas e títulos com regularidade. Foi por isso que eles contrataram Jorge Lorenzo por estonteantes 12 milhões de euros.

Cansado de sempre ficar à sombra de Valentino Rossi na Yamaha, Lorenzo achou que já era hora de dar um passo mais ousado em sua carreira. Na Ducati, o pentacampeão mundial terá tudo o que sempre sonhou: a condição de primeiro piloto indiscutível e um timaço para acompanhá-lo na retaguarda, contando com os conselhos do amigo Max Biaggi e do olhar atento de…Casey Stoner, agora na condição de aposentado e piloto de testes de luxo.

A Yamaha não ficou parada com a saída de Lorenzo e colocou em seu lugar o promissor Maverick Viñales. Campeão da Moto3 em 2013, o espanhol apenas agora está se tornando conhecido do grande público, mas já encantava os especialistas desde quando era apenas um menino, graças à imensa habilidade, frieza e maturidade.

Em 2014, por exemplo, Viñales migrou para a Moto2, um passo sempre difícil na escalada rumo ao sucesso mundial. Pilotar potentes motos tetracilíndricas de 600cc costuma separar os homens dos meninos. Mas o espanhol venceu logo a segunda corrida que disputou, encerrando o ano como vice-campeão e “rookie of the year”.

Foi o que bastou para que a Suzuki o contratasse para a MotoGP logo no ano seguinte. Nas últimas duas temporadas, foi Viñales quem levou a marca japonesa ao grupo da frente, atingindo o ápice no GP da Inglaterra do ano passado, na qual venceu com a classe de um campeão mundial.

Viñales vem forte para a temporada

Portanto para substituir Lorenzo, não havia nome melhor no mercado do que Viñales. Nos testes pré-temporada, o espanhol vem correspondendo, sendo o piloto mais rápido nas sessões realizadas em Valência e Phillip Island. A equipe Yamaha está boquiaberta com tamanha capacidade de adaptação.

E parece que não é apenas os engenheiros da Yamaha que estão impressionados. Valentino Rossi, Marc Márquez e o próprio Lorenzo também já sentiram o “abalo sísmico” provocado por Viñales. O Doutor simplesmente não vem conseguindo acompanhar o ritmo fulminante de seu novo companheiro de equipe e, pela primeira vez parece sentir o peso dos seus 38 recém completados anos.

Márquez, que vinha numa boa após conquistar o quinto título mundial já mudou de postura, passando a se mostrar muito insatisfeito com os lentos progressos da Honda em sua moto. No último dia de testes de Phillip Island, o espanhol “malandradamente” acompanhou de perto Viñales pela pista como se estivesse disputando uma corrida de verdade, o que muito irritou o piloto da Yamaha.

Além de querer observar de perto o comportamento da Yamaha M1 pela pista, Márquez deu com isso uma primeira demonstração de intimidação com aquele que deve ser o maior rival de sua carreira. Lorenzo foi outro a encerrar os testes irritado, a mais de um segundo de seu substituto.

Lorenzo já parece ter notado que a missão de vencer corridas e títulos será mais difícil do que parece, porque a Ducati é uma moto de comportamento imprevisível de pista para pista. Se em algumas se adapta perfeitamente, em outras não se acerta de jeito nenhum. Era essa instabilidade que arrancou cabelos Nicky Hayden, Cal Crutchlow e Valentino Rossi. Como toda italiana, não é fácil entender a Desmosedici. Até hoje, apenas Stoner conseguiu.

Além disso tudo, primeira vez desde que chegou à MotoGP, Márquez começará uma temporada sendo mirado por um adversário mais jovem do que ele. Do outro lado, Viñales primeira vez terá à sua disposição uma moto de comprovada eficácia para ser campeão. E já deixou claro: não irá desperdiçar suas chances.

Assim está armado o cenário dos próximos anos: Márquez e Viñales disputando o território principal, com Lorenzo, Rossi e os demais se intrometendo sempre que possível. 2017, portanto, tem tudo para ser “o primeiro ano do resto de suas vidas”, fazendo referência ao título daquele clássico filme dos anos 80, que retratava um grupo de amigos em sua difícil adaptação à vida pós-universidade.

Até a próxima!

Lucas Carioli
Lucas Carioli
Publicitário de formação, mas jornalista de coração. Sua primeira grande lembrança da F1 é o acidente de Gerhard Berger em Imola 1989.

2 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Belo texto Lucas!

    Concordo com o Fernando, 2017 promete é muito pra MotoGP.

    Abraço!!

    Mauro Santana
    Curitiba PR

  2. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    eu acho que 2017 novamente será uma temporada daquela inesquecível da Moto GP.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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