Lance Armstrong, o grande vencedor do Tour de France, que fez nesta prova o mesmo que Michael Schumacher faz na Fórmula 1, disse temer mais as derrotas que pode sofrer do que curtir as vitórias que alcança, uma depois da outra.
Esta é a maldição dos verdadeiros campeões. Podem ter a certeza de que Michael Schumacher e a Ferrari já estão pensando na Hungria.
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Animado este GP da Alemanha. Ainda que não se tenha visto em momento algum uma ameaça real à 11ª vitória de Michael Schumacher, Kimi Raikonenn e o McLaren rugiram alto no começo da prova, Button e Alonso disputaram para valer e de forma entusiasmante a 2ª posição, outras disputas por posições mostraram o arrojo de pilotos como Webber e Sato.
Mas o GP da Alemanha marcou também um ponto baixo para vários pilotos e equipes, a começar por Rubinho, que teve um péssimo final de semana, falhando em pontuar pela primeira vez na temporada.
Apesar do pódio, também a Renault não tem motivos para estar feliz – bem-feito para o Flavio Briatore -, seus pilotos sofrendo, cada um ao seu jeito, derrotas humilhantes.
O mesmo vale para a Toyota, estreando carro revisado da pior forma possível, Massa, ficando atrás de Fisichella mais uma vez, Pizzonia, fazendo tudo menos uma corrida notável, Montoya, a falha lamentável no McLaren de Kimi e vamos parar por aqui porque botar defeito no serviço dos outros é fácil.
Enfim, uma corrida que reuniu os bons, os maus, os muito bons e os muito maus da Fórmula 1 atual.
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Sobre o acidente na primeira volta, não há o que dizer: Rubinho bateu na traseira do McLaren de Coulthard.
Sua corrida ficou inegavelmente prejudicada mas apenas um problema grave no Ferrari – talvez nos freios, o que explicaria aquela escapada no final da prova – justifica um GP tão opaco.
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E o que dizer de Montoya, que teve um belo início de corrida, quem sabe mordido pelos comentários sobre ele tecidos pela Alessandra Alves aqui, na última quinta-feira, para depois cometer erros elementares, dando provas de uma completa falta de motivação, o pior dos defeitos de um piloto.
Mas é sempre possível sacar a explicação de Connie Montoya: é o carro que é “una mierda”.
Não deixa de ser uma boa explicação.
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Quem acompanha a Fórmula 1 não se surpreende mais com quebras tão bisonhas como a do McLaren de Kimi Raikonenn. Às vezes é uma suspensão traseira que voa longe (Rubinho, ano passado na Hungria), outras é a lâmina do aerofólio que, certamente por um problema de fabricação, desprende-se no pior momento possível, deixando Kimi como passageiro indefeso dentro de um carro a quase 300 km/h..
São, enfim, acontecimentos corriqueiros na categoria onde se levou a tecnologia mais longe.
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Sato recuperou-se parcialmente das suas duas últimas corridas, totalmente medíocres. Considerando a consistência dos resultados de Button, não deixa de ser uma decepção a queda de rendimento do japonês, mais uma decepção neste ano de decepções.
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A melhor ultrapassagem da corrida foi a de Webber (para mim o melhor piloto da prova) sobre Trulli. Bem-feito para ele também.
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Enquanto escrevo estas palavras, Lance Armstrong cruza as ruas de Paris em direção ao seu sexto título do Tour de France, uma espécie de Mundial do Ciclismo de estrada.
Vivemos a era dos supercampeões, combinando os formidáveis interesses financeiros envolvidos nos esportes contemporâneos e a cada vez mais eficaz tecnologia de preparação dos esportistas. Não é uma coincidência que Armstrong alcance seu recorde simultaneamente aos de Schumacher e de tantos outros mitos do esporte, que pulverizam sob nossos olhos marcas de velocidade e resistência.
Cabe apenas lamentar que a cada novo recorde fique mais fraca a ética esportiva. Mais do que nunca, os fins justificam os meios. Não é o esporte em sua essência mas é o esporte que temos.
Boa semana a todos
Eduardo Correa |