Os treinos da Austrália

Com vocês, o novo GPtotal
03/03/2004
TIRO PELA CULATRA
07/03/2004

Nada de novo sob o Sol australiano – pelo menos por enquanto.

Os Ferrari sobraram, Michael à frente, Rubinho em seguida, quase um segundo redondo mais rápidos do que o tempo da pole do ano passado e à frente da oposição.

É isso? Teremos uma repetição do banho italiano de 2002?

Ressalvando-se que foi disputado até agora 1,85% do campeonato, parece que, pelo menos nas primeiras corridas, é isso mesmo. As surpresas, se vierem, talvez saiam dos pneus, com a Michelin abalando a superioridade da Ferrari.

Mas esta hipótese também se esfuma. Rubinho disse que o desempenho dos Bridgestone representou uma grande salto em relação ao ano passado enquanto o diretor da empresa francesa, Pierre Dupasquier, sai pela tagente, entregando na Folha de S.Paulo de hoje: “Austrália, Malásia e Bahrein são GPs à parte. Não servem como parâmetro para o resto do campeonato”.

Que a Williams e a McLaren podem se recuperar não há dúvidas mas, como em anos anteriores, é Michael e a Ferrari que estão bancando o jogo.

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Duro mesmo é começar mais uma temporada ouvindo Rubinho dizer que este ano é o ano.

As declarações dele aos amigos do grandepremio: “Talvez eu tenha dito isso no ano passado, mas nunca me senti tão bem preparado mental e fisicamente como agora” e “acho que este é o momento certo na minha carreira, e se tiver a chance de vencer, vou vencer.”

Pelo menos neste aspecto, Rubinho se parece cada vez mais com David Coulthard.

Mas pensando bem, o que ele podia dizer? “Saco: mais um ano comendo poeira do alemão…”?

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Os treinos desta madrugada na Austrália sugerem que o impacto do novo regulamento de motores talvez não seja tão dramático assim. Afinal, nada obriga as equipes a darem muitas voltas nos treinos livres de sexta e sábado. Michael, por exemplo, deu apenas 4, andando 30 km, se tanto. Se fizer o mesmo amanhã nos treinos livres, terá chegado ao treino oficial sacando quase nada da conta de resistência do seu motor, aliás o que menos quebrou nas últimas temporadas.

Ou seja, a nova regra volta a privilegiar as grandes equipes, capazes de simular as condições de corrida na própria fábrica (quem viu o documentário exibido recentemente pelo Discovery Channel sabe do que estou falando) ou nas pistas de teste, chegando ao GP já com os acertos dos carros prontinhos.

Além disso é muito mais fácil Michael Schumacher se virar com poucas voltas de treino do que um Jarno Trulli, por exemplo.

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E o que, em nome de Deus, posso dizer da Toyota neste primeiro treino? Como explicar que o piloto de testes Ricardo Zonta botou tempo nos dois titulares da equipe?

Para ser gentil com os japoneses, posso apenas dizer que Da Matta e Panis estavam economizando seus motores ou “tiveram problemas” e por isso foram 6 e 7 décimos, respectivamente, mais lentos que Zonta (também o mais rápido entre os pilotos de teste na pista).

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E há alguma possibilidade de gentileza em relação a Massa, que ficou atrás de Fisichella, alegando ter sido atrapalhado por carros mais lentos?

Neste caso, o melhor mesmo é dizer que os treinos da sexta-feira não querem dizer grande coisa…

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Mais dois registros sobre os tempos desta sexta. Button e seu Bar mandaram muito bem, confirmando, pelo menos até agora, as boas performances dos treinos pré-temporada. Ele marcou o 4o tempo, atrás apenas da dupla da Ferrari e de Trulli.

Button joga uma cartada decisiva em 2004. Está em jogo uma vaga numa equipe grande, muito provavelmente a Williams.

O outro destaque, não tão positivo, vai para Mark Webber, o maior rival de Button pela vaga na Williams. Ele marcou o 9o tempo, sugerindo que a Jaguar continua onde sempre esteve: da metade para trás do pelotão.

Mas será que não sobrarão duas vagas na Williams, com Ralf migrando para a Toyota?

Bom: tem louco para tudo neste mundo e tanto Ralf quanto Frank podem querer se jogar pela janela mas acho que, no final das contas, Ralf cairá em si e vai abrir mão das suas pretensões milionários e concentrar-se naquilo que de mais importante um piloto tem a fazer fora das pistas: garantir para si o melhor carro possível entre os disponíveis.

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A lógica de Bernie.

O site parceiro grandepremio reproduz entrevista de Bernie Ecclestone onde ele revela desejar uma temporada com 20 etapas. Em princípio, o Pacto da Concórdia estabelece que devem haver 17 GPs. Este ano, depois de muitas luta, Bernie conseguiu emplacar uma corrida a mais, o GP da França, mas os organizadores da prova terão de ajoelhar num pagamento extra de US$ 2 milhões para cada equipes.

Agora o poderoso chefão da F1 se anima com a possibilidade de juntar ao calendário Turquia (em 2005) e Índia (em 2007). “Espero que possamos ter 20 provas. Se as equipes pararem de testar, algo que lhes custa dinheiro, e fizerem mais corridas, algo que lhes rende dinheiro, não há o porquê de não termos 20 GPs”, disse Bernie.

Releiam esta frase e percebam um pouco como funciona a cabeça do homem. Ele não está nem aí, para começo de conversa, para a excelência técnica que sai dos testes das equipes. Quer mais é ver os carros na pista e na tela da TV.

E isso explica porque a sexta-feira foi tão garroteada. Bernie está amamentando aquilo que os diplomatas chamam de fait accompli, popularmente conhecido como fato consumado. Acaba com as sextas-feiras por simples inanição (mesmo porque elas não rendem nada de muito expressivo em termos de TV e, suspeito, também em bilheteria – quem será que compra o ingresso só para a sexta?) e depois acena com a possibilidade de ampliar os GPs…

E por que Bernie gosta tanto de novas corridas?

Simples, meus amigos, muito simples: porque ele fatura mais a cada prova, seja negociando acordos mais vantajosos com os organizadores, seja se assenhorando de tarefas (venda de publicidade estática, por exemplo) ou mesmo da corrida inteira.

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Convido os leitores a acompanhar meus breves comentários na abertura das transmissões do GP da Austrália, por volta das 23h30 deste sábado, nas 37 emissoras das rádios Globo e CBN.

Panda comenta a corrida e promete sua coluna para as primeiras horas da manhã do domingo. Para saber das últimas notícias da Austrália, visitem os amigos do grandepremio clicando no ícone no alto desta página.

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Não posso encerrar sem falar da minha alegria pela repercussão do novo design do GPTotal. Recebemos um número recorde de e-mails dos leitores nas últimas horas todos eles, sem exceção, elogiando o trabalho desenvolvido pela equipe da Fan Interactive, liderada pelo Flaviano Guerra e pelo diretor de arte Pablo Garcia, e implementado pelo Maurício e a Dani, da Ksoft.

Iniciamos agora um trabalho de retoques e aperfeiçoamentos para os quais contamos com a ajuda de todos os leitores.

Grande abraços e boa corrida a todos (EC)

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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