Pegue uma cerveja!

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Quem disse que Fórmula 1 e cerveja não combinam?

Graças ao princípio do fuso-horário, para nós, brasileiros, a Fórmula 1 sempre foi sinônimo de manhãs de domingo. Corridas europeias começam 9h e isso costuma combinar mais com café, que também é amplamente usado para enfrentarmos as corridas asiáticas da madrugada. Mas a F1, e o automobilismo como um todo, tem sua relação com a cerveja – essa bebida tão apreciada em todo o planeta e que tem neste que vos escreve um fã que já provou mais de uma centena de rótulos – parece muito, mas ainda é bem pouco…

Não é difícil pensar num carro de Nascar pintado com as cores da cerveja Miller Lite, ou da Budweiser. Mas… que tal um carro de F1 nas cores da Guinness? Sim, aconteceu em 1981, na March do igualmente irlandês Derek Daly. Sim, o visual era lindo, pena o desempenho ter sido inversamente proporcional ao prazer de saborear a famosa dry stout de espuma densa e cremosa.

Por sinal, este deve ser o problema associativo: poucas foram as cervejas campeãs de F1. As marcas de cigarro dominaram as principais equipes e tinham motivo para isso: desde o final da década de 1960 havia restrições para que cigarro aparecesse em propagandas de TV na Europa. Eles contornaram o problema colocando suas cores e logotipos nos carros, apareciam para o mundo todo, de 15 em 15 dias, durante uma hora e meia. Era (e ainda é) um retorno publicitário fabuloso. Quando uma pessoa não sabe o que é Marlboro ou John Player Special, não sabe o que é F1. O meio virou mensagem, tal qual a profecia de Marshall McLuhan.

A marca de bebidas que tornou-se mais famosa foi justamente o apéritif Martini, que está associada ao esporte a motor desde que começaram os movimentos de investimentos publicitários em carros de competição, e que este ano fez triunfal comeback ao pintar com suas cores a renascida Williams.

A Williams, por sinal, foi o time que mais carregou rótulos. Levou a pale lager canadense Labatt’s ao título com Nigel Mansell em 1992, Alain Prost em 1993 e Damon Hill em 1996. O time de Sir Frank também teve sua fase com a Veltins, 7ª cerveja mais consumida na Alemanha, antes de ter breve parceria com a famosa Budweiser, que discretamente teve seu logo junto à entrada de ar entre 2004 e 2006.

Outra “cerveja campeã” é a alemã Warsteiner, que teve várias aparições antes de ser servida nas festas de campeonato de Mika Häkkinen em 1998 e 1999. A primeira aparição foi na Hesketh de 2ª mão do bigodudo Harald Ertl em Nürburgring 1975. O visual dourado foi permanente na Arrows entre 1979 e 1980, inclusive no exótico modelo A2, que tinha espelhos em formato de antena de inseto.

Rival direta da Warsteiner, a Bitburger foi a lager dos títulos de Michael Schumacher em 1994 e 1995, trocando depois para a indiana Kingfisher, de, vejam, só, do mesmo Vijay Mallya que hoje é dono da Force India. Ao mencionarmos 1995, até cerveja brasileira estava na pista. Na parceria ítalo-brasileira Forti Corse, uma das marcas que entrou no projeto foi a Kaiser, hoje pertencente à Heineken – única marca realmente global de cerveja e que nunca se envolveu com automobilismo. A australiana Foster’s, por exemplo, nunca teve sua marca em carros, mas teve diversas aparições nos estáticos de vários GPs, inclusive nos pódios.

Ainda sobre cerveja brasileira, este texto não estaria completo se não mencionasse a Skol, que apareceu na equipe Fittipaldi em 1980 como substituta da Copersucar. Mas a cervejaria seria vendida para a Brahma, e os novos donos não queriam saber de F1. Por isso, a aliança durou apenas um ano e significou o começo do fim para a única equipe brasileira de F1. E também vale menção da única participação da Itaipava, justamente no GP do Brasil de 2009, que consagrou Jenson Button campeão com a Brawn GP. Um tiro certeiro.

E tem mais. Ainda podemos citar a Beck’s, presente na Jaguar entre 2000 e 2004, a obscura americana Michelob na Wolf em 1979, a checa Pilsner Urquell entre 1999 e 2001 na Jordan, time que também teve a famosa mexicana Corona em 1996. Outra mexicana foi a Carta Blanca, presente na Lotus de 2ª mão do patrício Hector Rebaque em 1979.

E encerro com um dos casos mais conhecidos: a McLaren Azul. A cerveja Löwenbräu pertencia ao grupo Philip Morris, que resolveu mudar o visual nas etapas dos Estados Unidos- Oeste em 1977 e 1978.

Um brinde!

Não posso deixar de escrever algumas linhas sobre a nova Fórmula E, que teve sua primeira corrida neste fim de semana nas ruas de Pequim. Ao desviar do acidente entre o incauto Nicolas Prost e o enfurecido Nick Heidfeld, Lucas di Grassi fez história ao ser o primeiro vencedor de uma competição mundial de carros monopostos inteiramente elétricos.

O conceito ainda é novo demais para dizer se vai vingar ou sucumbir com o tempo como uma categoria. O que é certo é que as tecnologias envolvidas têm um potencial enorme para ser aprimorado, e espera-se que a Fórmula E seja um dos laboratórios para isso.

Ainda sou da opinião que os 100% elétricos não são a melhor resposta quando colocamos na balança eficiência energética x demanda por energia. Um caminho melhor tem sido o das tecnologias híbridas, sobretudo aquelas que combinam reaproveitamento energético, de freios e de turbo, por exemplo. É o que a F1 e sobretudo a WEC estão fazendo.

Mas, por enquanto, o melhor caminho mesmo é o de aprimorar o consumo dos tradicionais motores a gasolina. Isso porque os elétricos ainda não têm fôlego e os híbridos ainda são muito caros e complexos. Tecnologias de diminuição de fricção de partes móveis do motor, sistemas de admissão mais eficientes, sobrealimentação, sistemas inteligentes de válvulas, catalisadores, novas ligas metálicas que derrubam o peso das carrocerias, pneus com menor resistência a rolagem (sem prejudicar o coeficiente de atrito) e gasolinas mais eficientes têm sido o caminho para menos consumo e menos emissões, ao melhor custo-benefício.

Estou, claro, aberto à opinião dos amigos leitores.

Por fim deixo um convite imperdível: acompanhem o Especial #Emerson40 no Facebook do GPTotal. Vamos relembrar as 15 corridas da fantástica temporada de 1974, o bicameponato do grande Rato, há exatos 40 anos.

O texto de estreia, do amigo e colega Carlos Chiesa, já está no ar.

Abração!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

13 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Muito tem se falado dos pilotos que estão correndo nesta F-E, e sendo assim, eu tenho uma pergunta:

    As equipes são bancadas por quem?

    Abraço!

    • Lucas Giavoni disse:

      Mauro, possivelmente a FIA esteja dando alguns incentivos financeiros para equipes se estabelecerem. Lembremos que, por ser projeto único, o carro foi barateado em sua concepção e construção. Pelo que li, cada carro completo custa 350 mil euros.

      Vários times já possuem investidores publicitários em seus carros (além de pilotos que os trazem, como sempre). Há também algumas benesses de parceiros da categoria. Certamente não pagam pelos pneus Michelin, e possivelmente pelo (caro) transporte, já que a DHL também é parceira. A Renault também está envolvida, pois bancou a construção do carro (feito pela francesa Spark) e está presente com logotipos em todos os carros (exceto os da Abt, que tem parceria com a Audi) – outro abatimento de custos. Como a categoria está sendo televisionada, também devem rolar alguns trocados por direitos de imagem.

      Lucas Giavoni

  2. Fernando Marques disse:

    Cerveja para mim atualmente é um produto proibido … rsrsrsrsrsr … mas quando não era sempre fui fã das marcas brasileiras … nunca apreciei as importadas … mas falando da coluna creio eu que a cerveja como produto nunca fez tanto sucesso na Formula 1 como o da industria de cigarros … talvez pela concorrência da champanghe …
    Não assisti a corrida da Formula E mas fico aqui pensando como esta categoria pode sobreviver sem fazer barulho por causa dos motores elétricos … se atualmente na Formula 1 o pessoal já reclama daquele barulho de batedeira dos motores turbos 6 cc … como gostar de uma categoria muda …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Fernando!

      Posso dizer que sou o exato contrário: não sou fã das marcas comerciais nacionais (acho que podiam fazer produtos melhores), e aprecio muito as importadas. Ainda assim, devo ressaltar que há excelentes microcervejarias brasileiras – posso, entre tantas, citar duas que sou fã incondicional: Bamberg e Colorado, ambas do interior de SP.

      Quanto a Fórmula E, eles explicaram que os carros produzem cerca de 80 dB. Não é um ronco assustador, mas também não é um cinema mudo…

      Abração!

      Lucas Giavoni

    • Lucas dos Santos disse:

      Fernando,

      Os carros da Fórmula E só não são totalmente silenciosos porque utilizam caixa de câmbio. Como as engrenagens do câmbio são de dentes retos, eles acabam produzindo um som semelhante ao de um carro de rua em marcha à ré.

      Caso tenha interesse em ver como foi a primeira corrida, poderá assisti-la completa aqui: https://www.youtube.com/watch?v=HCK7i3-o_bY

  3. Mauro Santana disse:

    Belo texto Lucas!

    No ano de 94 eu iniciei uma coleção de latas de cerveja, e cheguei a ter mais de 200 latas, mas, com o passar dos anos e devido a falta de espaço, me desfiz da coleção, porem, valeu a experiencia.

    Uma marca que também ficou muito famosa, pelo menos na Indy, foi a mexicana Tecate, e não me recordo se esteve na F1.

    A respeito da F-E, pra mim é muito cedo pra comentar como os carrinhos de controle remoto vão se portar, se a categoria vai ou não vingar.

    Assisti a corrida, e achei bem pouco atraente, mas, vamos aguardar.

    Um brinde!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Mauro!

      Não sabia dessa sua coleção de cerveja. Meu irmão Guilherme, a quem devo a sugestão do texto, mantém uma coleção de garrafas de tudo o que já experimentamos. Por certo, almejamos que a coleção aumente mais e mais…

      Quanto à Tecate, ela foi fiel companheira do Adrian Fernandez nos tempos de Cart, inclusive no vice-campeonato em 2000. Um visual clássico… Quando o Sergio Pérez foi para a Sauber, ele levou junto outra instituição mexicana: a tequila José Cuervo.

      Abração!

      Lucas Giavoni

      • Mauro Santana disse:

        Pois é Lucas, aquela minha coleção durou de 94 até 2000, e aí, repassei tudo para um primo que estava começando.

        A respeito do ronco dos carros da F-E, parece bem o som de um carrinho de controle remoto rsrsrs.

        Abraço!!

  4. Manuel disse:

    Rapazes,
    nao esqueçam do patrocinio da COURAGE que teve a lotus nos anos 80s, com Mansell e DeAngelis.

    • Lucas Giavoni disse:

      Ah, querido Manuel, eu tinha certeza que ia acabar esquecendo uma ou outra!

      O leitor Joseph Luiz Júnior também me lembrou via Facebook que a Larroussse teve Kronembourg e Tourtel… Basta garimpar e certamente acharemos mais!

      Abração!

      Lucas Giavoni

  5. Antonio disse:

    Ótimo texto!! Perfeito seria com as fotos dos carros citados. Abraços!

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Antonio! Obrigado pelo elogio.

      Quanto às fotos, tentei ilustrar ao máximo a coluna. Foi o que deu pra fazer…

      Abração!

      Lucas Giavoni

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