PONTO FINAL

Grande Rubens!
23/06/2002
Rubinho num novo patamar
28/06/2002

Edu,

Ah, a reunião do Conselho Mundial da FIA… Por que trataram desse assunto apenas hoje e não na semana seguinte ao GP da Áustria? Só para criar suspense?

A esta altura, todo mundo sabe o que aconteceu: a Ferrari foi multada em US$ 1 milhão, única e exclusivamente porque Schumacher quebrou o protocolo ao não subir no primeiro degrau do pódio. A inversão de posições só foi objeto de uma advertência verbal (mais detalhes no www.grandepremio.com.br).

Faço questão de transcrever um trecho do comunicado da FIA sobre o assunto: “O Conselho Mundial reconhece o reputado e tradicional direito de uma equipe de determinar a ordem de chegada de seus pilotos naquela que acreditar ser de seu interesse na tentativa de vencer os campeonatos mundiais” (pilotos e construtores).

Ponto final. É exatamente o que venho dizendo há mais de um mês a amigos e leitores. Ordenar inversão de posições não é antidesportivo nem ilegal, mas sim uma decisão interna de cada equipe. Que me desculpem o distinto público e os colegas que defendiam uma punição severa à Ferrari, a Schumacher, a Deus e ao demônio, mas por menos que se goste o automobilismo é assim. Não condeno a Ferrari pelo que fez na Áustria e não a condenaria se tivessem mandado Barrichello ceder a vitória a Schumacher em Nurburgring.

+++

É claro que gostei bastante da vitória de Rubens Barrichello no GP da Europa. Fez uma boa corrida, uma primeira volta inspiradíssima (a melhor desde aquela de Ayrton Senna em outro GP da Europa, o de 1993, disputado em Donington) e uma corrida sem erros. Não errar, por sinal, foi a chave para sua vitória, bastante merecida.

Já estava pronto para escrever que ele merecia um aplauso por não ter dado aquela ridícula “sambadinha” no pódio, mas nosso amigo Tales Torraga, do www.grandepremio.com.br, alertou que a sambadinha aconteceu, sim. Não cheguei a reparar. Fiquei de rever a fita, mas não consegui fazê-lo antes de escrever a coluna. Pelo sim, pelo não, vou deixar esse quadrado em branco na minha papeleta de atribuição de notas.

Mas… concordo com alguns leitores que escreveram para nós: daí a dizer que Barrichello quebrou a barreira da vitória vai uma distância enorme. (Já deve ter leitor pensando: “Esse pentelho do Panda sempre tem um ‘mas'”, ou coisas piores.) Nesse ponto, discordo frontalmente de você, meu caro Edu.

Barrichello teve méritos: venceu porque largou muito bem e não cometeu erros durante a corrida. Mas venceu, principalmente, porque a Ferrari não quis se “queimar” mais uma vez perante a opinião pública com outra ordem para inverter posições.

Algumas pessoas já estão atribuindo a Barrichello dotes que ele não tem. Ontem, alguém me disse que o brasileiro “havia colocado o alemão em seu verdadeiro lugar”. Não me contive: caí na gargalhada. Expliquei-lhe que, se Barrichello mostrou alguma coisa a Schumacher, isso aconteceu na Áustria, onde de fato o brasileiro foi melhor que o alemão durante todo o final de semana. Em Nurburgring, Schumacher só não venceu porque, ao contrário do que muitos pensam, ele também segue ordens da equipe.

Schumacher esteve muito mais rápido que Barrichello durante a corrida. Por duas vezes, descontou diferenças de quase 10 segundos (após se desvencilhar dos Williams e depois de sua rodada). Sua melhor volta foi 0,5 segundo mais rápida que a melhor volta de Barrichello. Repito: 0,5 segundo. Ele teria ultrapassado Barrichello a qualquer momento se quisesse ou pudesse. Não o fez porque a Ferrari ordenou que os dois não entrassem em disputa direta. Na prática, isso equivalia a uma ordem para Schumacher não passar. O alemão fez então a única coisa que podia fazer: manteve-se colado ao companheiro de equipe, tentando desconcentrá-lo e induzi-lo a um erro – que, felizmente para nós brasileiros, não aconteceu.

Não acho difícil que Barrichello tenha poupado seu carro quando soube que não seria atacado – o que ajudaria a explicar sua lentidão (lentidão????) em relação a Schumacher. Mas estou analisando fatos (os tempos) e não possibilidades.

Em outra situação (sem as pressões surgidas depois da Áustria ou se o piloto à frente não fosse seu companheiro de equipe), Schumacher teria ultrapassado o adversário e vencido essa corrida com larga vantagem, mesmo largando mal e rodando no meio da prova.

+++

A Ferrari justificou a sua decisão de não inverter posições afirmando que a situação de Schumacher no campeonato é bem mais tranqüila do que era na Áustria. É uma desculpa quase perfeita, pois a frase em si é de uma lógica cristalina. Antes da corrida da Áustria, o alemão tinha 21 pontos de vantagem sobre o vice-líder (Montoya) e faltavam 12 etapas para o encerramento da temporada. Antes de Nurburgring, essa vantagem era de 43 pontos, restando 9 GPs.

Mas, logo depois da Áustria, a Ferrari declarou a quem quisesseouvir que voltaria a dar ordem de inversão de posições até que o campeonato estivesse decidido. Sendo assim, a posição coerente seria fazer a mesma coisa em Nurburgring. O fato de ter que encarar a reunião do Conselho Mundial da FIA (ocorrida hoje, dia 26) certamente pesou na decisão de não mandar Barrichello dar passagem a Schumacher.

+++

De qualquer maneira, tudo o que aconteceu na Áustria foi muito bom para os brasileiros passarem a ter um pouco mais de respeito por Barrichello. Basta comparar o teor das cartas recebidas até o GP da Espanha com o das recebidas após o GP da Áustria: as piadas, críticas e acusações de que Barrichello “é quebrador de carros” e “não anda nada” (e suas variações) praticamente sumiram. Às vezes uma pancada na cabeça é um santo remédio para as pessoas acordarem…

Abraços,

Panda

GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *