Procissão

Bueno amigos…
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Na última vez que havia visitado o México, em 1992, a Fórmula 1 ofereceu ao distinto público um espetáculo bastante semelhante ao que acabamos de ver: uma procissão veloz

Na última vez que havia visitado o México, em 1992, a Fórmula 1 ofereceu ao distinto público um espetáculo bastante semelhante ao que acabamos de ver: uma procissão veloz, apenas isso.

Como Nico Rosberg hoje, Nigel Mansell fez a pole e liderou a corrida de ponta a ponta, todo o tempo secundado – mas nunca ameaçado – pelo seu companheiro de equipe, o italiano Riccardo Patrese. Também, como hoje, pouco se viu de disputa pelas demais posições.

Culpa do autódromo? Sem dúvida porque com sua longa reta, o Hermanos Rodriguez destaca os melhores motores – Renault lá, Mercedes cá – e nada se pode fazer contra isso, muito menos agora, quando há uma regra de conservação de motores que torna a contenção da disputa dentro da equipe um imperativo capaz de sufocar qualquer pretensão mesmo de um corredor feroz como Lewis Hamilton. É que em 92 tanto quanto agora, é o motor quem destaca o carro e não os pneus, a aerodinâmica ou o piloto.

O entusiasmo do público mexicano passou hoje por cima dos problemas decorrentes da fórmula-motor mas a F1 resistirá a tantas e tão frequentes procissões? Desde a sua instauração, no ano passado, tivemos 36 GPs; trinta terminaram com os carros da Mercedes na ponta, 24 vezes fazendo também o segundo lugar.

Esta é a discussão central da F1: ela quer e pode continuar sendo uma fórmula-motor de tal forma dominada pela Mercedes?

Não por acaso, Bernie Ecclestone tem disparado à vontade contra o regulamento de motores, falando disparates em cima de disparates, primeiro de trazer de volta os velhos motores de oito cilindros aspirados, usados até 2013, mais recentemente o de importar os motores usados na Indy.

Não acredito que algo vá mudar. O tutor do atual regulamento de motores é Jean Todt, devidamente amparado pela Mercedes e Ferrari. Bernie, parece cada dia mais claro, não manda mais no regulamento da Fórmula 1 e a ele só resta espernear. Mas a que a Fórmula 1 tem de acertar as contas com a fórmula-motor, isso tem.

Na procissão de hoje, apenas a exuberância de Sebastian Vettel, cada vez mais cheio de confiança e no pleno domínio da sua enorme habilidade e determinação, seria capaz de fazer alguma diferença na busca do terceiro lugar – nada além disso estaria ao seu alcance. Mas os freios do seu Ferrari não foram capazes de suportar o ritmo e o levaram a um raro acidente.

Também merece registro o desempenho de Daniil Kvyat, um que embora ainda erre muito, melhora corrida a corrida, tendo se tornado uma séria dor de cabeça para Daniel Ricciardo.

Vale a torcida para que a RBR siga na categoria, empurrada por um bom motor no ano que vem, mesmo porque o carro dá mostras de ser muito bom.

Felipe Massa e Felipe Nasr tiveram mais um dia medíocre, com nada a comemorar, os companheiros de equipe sempre andando à frente deles.

Considero Fernando Alonso e Jenson Button, juntamente com Vettel, os pilotos mais inteligentes da F1. O fato de ambos conseguirem tão poucos resultados na temporada dá uma boa ideia dos problemas do McLaren Honda.

Não é realista imaginar que a equipe consiga um salto de qualidade para 2016 ainda que a associação da Honda com a RBR pudesse ajudar. Há quem diga que o maior problema dos japoneses são os motores elétricos, o motor a explosão dando pro gasto. No ano passado, a RBR envolveu-se no desenvolvimento dos power train Renault, ocupando-se exatamente dos motores elétricos e baterias.

O fato é que, no final do ano, a RBR Renault acumulava três vitórias na temporada, resultado muito melhor do que o da Ferrari. Neste ano, não sei explicar, porque, o motor Renault simplesmente não evoluiu e não ganhou nada até agora. É uma boa aposta que, associadas, RBR e Honda possam produzir algo melhor do que se tem agora.

A associação está emperrada porque Ron Dennis a teria vetado mas estima-se que o veto possa ser dobrado com dinheiro da RBR para a McLaren. Já a Ferrari poderia ceder seus motores para a RBR caso recebesse em troca o contrato de Max Verstappen.

O Hermanos Rodriques nunca me foi uma pista cara, me sugerindo um tilkódromo antes que Hermann Tilke aparecesse da cartola de Bernie Ecclestone.

O traçado guarda visível relação com Monza, com uma sequência insensata de esses mas, claro, havia a Peraltada, creio que a mais longa e veloz curva de toda a história da F1 – bem a curva que foi assassinada com requintes de crueldade na presente reforma.

E pensar que foi ali, na Peraltada, que vimos uma das grandes ultrapassagens de todos os tempos, Mansell x Berger, 1990, o inglês saltando sobre o asfalto ruim, por fora, uma trajetória suicida, que sempre me sugeriu que os dois pilotos estavam trafegando a uma velocidade menor do que o normal já que a alternativa era as leis da física terem sido temporariamente suspensas para que Mansell e seu Ferrari não estampassem o muro.

Até entendendo que, na impossibilidade de se criar uma área de escape de uns cem metros, tenha-se mesmo de reduzir a velocidade de percurso da Peraltada. O que não precisava era transformá-la num pátio onde os F1, em toda a sua glória, parecem manobrar em busca de uma vaga de estacionamento.

O que fizeram com a Peraltada é todo um monumento à F1 contemporânea.

Estive com Chico Rosa na segunda-feira passada e ele me contou, com a simpatia de sempre, que estava se desligando da administração de Interlagos. Senti nele uma pontinha de tristeza, que me pareceu leve pois Chico é uma pessoa realista, logo desapaixonada.

Interlagos certamente sentirá falta dele.

Quem me conhece sabe que eu demoro a perceber as coisas. Dito isso, acho que estive, estes anos todos, assistindo ao campeonato errado.

Apesar do entusiasmo dos colegas do GPTo e de tantos leitores, resisti aos encantos da MotoGP, acompanhando apenas à distância as aventuras Valentino Rossi&Cia. Azar meu, evidente, pois o que se viu nas voltas finais do GP dos Estados Unidos, se vê quase que todo o tempo na MotoGP.

No entanto, me assustaram os acontecimentos envolvendo Valentino e Marc Márquez na Malásia. Teria a serpente da ganância e da vaidade invadido o paraíso da categoria, reproduzindo 26 anos depois em seu significado mais negativo o affair Ayrton Senna e Alain Prost na F1?

Tomara que a Motovelocidade resista à serpente.

Boa semana a todos

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

6 Comments

  1. Lucas dos Santos disse:

    Eduardo,

    A corrida no México foi realmente uma procissão. Nem mesmo o Safety Car acionado com o acidente do Vettel foi capaz de fazer com que houvesse brigas por posições.

    Na sua opinião, que medidas deveriam ser tomadas para combater as “corridas-procissão?

  2. Mauro Santana disse:

    Bela coluna Edu

    Eu sempre gostava da pista do México, tanto é que no meu aniversário de 8 anos minha mãe junto com minha falecida avó fizeram juntas um bolo no qual a pista era a do México.

    Claro que a escolha se deu por ser o circuito mais fácil na época para ser montado no bolo.

    Eu não tive a oportunidade de assistir a nenhum treino deste GP, portanto só pude ver o que fizeram com a pista mexicana quando assisti a volta de apresentação.

    Olha, não foi só a Peraltada que foi assassinada, mas sim o circuito todo, pois praticamento todas as curvas são de 90° e com os guardrail tão próximos, parece um circuito de rua.

    Até na reta dos box os caras mexeram, deixando ela torta igual a uma que tem naquele circuito mequetrefe de Abu Dabi.

    Que tristeza.

    A pista mexicana ficou a cara da F1 atual, uma mediocridade.

    O tesão do calendário de antigamente era que tínhamos pistas variadas, no qual podíamos ver vários conjuntos se destacando.

    A própria vitória do Berger em 1986 se deu por causa do asfalto irregular, o que favoreceu os pneus Pirelli da época, assim como a vitória de Piquet um ano antes na França.

    Senna no início da temporada de 1993, sabia quais pistas ele podia tirar proveito, devido a pouca força do conjunto que dispunha na época.

    Hoje, eu leio e escuto que tal equipe pode andar bem em tal circuito, mas o que vemos na prática são duas Mercedes andando bem em qualquer tipo de pista, no qual a excessão foi em Cingapura quando Vettel com a Ferrari surpreendeu a todos.

    Infelizmente não são só os carros que precisam de mudanças, mas sim, os circuitos também, sem a trupe do Tilke por as mãos podres e detonar tudo, mas nos sabemos que isso nao tem mais volta.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas dos Santos disse:

      Mauro,

      Como comentei na coluna do Flaviz, a remoção da Peraltada foi o menor dos problemas. O que descaracterizou o circuito foi terem alterado o perfil de todas as outras curvas, com algumas tendo sido eliminadas no processo. Nesta página dá para visualizar melhor as mudanças: http://www.racingcircuits.info/north-america/mexico/mexico-city.html

      Na mesma página, dá para notar que o Stadium não é necessariamente uma novidade. É apenas uma adaptação do que já existia desde 2002, nos tempos em que a Cart corria lá!

  3. Carlos Chiesa disse:

    Assino em baixo, Edu.

  4. Fernando Marques disse:

    A temporada de 2015 precisa de alguns motivos para respirar até o fim do campeonato.
    Talvez o melhor deste seria o duelo pelo vice campeonato. Infelizmente o duelo entre Vettel e Rosberg não aconteceu. Culpa do Vettel? … Sim pois ele ou sua Ferrari não estiveram em seus melhores dias. Culpa do Hamilton? … Parece que sim também … acho também que ele obedeceu as ordens da equipe e deixou o Nico comandar a corrida …
    O que sobra então para as ultimas corridas? … Pelo visto somente a briga entre Bottas e Raikkonen que bem poderia ser resolvida também num ringue de luta livre …
    Quanto ao Massa sei lá … as ultimas corridas dele foram decepcionantes em todos os sentidos …
    Eduardo,
    a temporada de 2015 de Motovelocidade é com certeza a melhor deste século, se não for a melhor de toda a sua história.
    Este acontecimento envolvendo Rossi e Marquez em Sepang, fa forma como se deu, não deveria ter ocorrido, mas aconteceu. Mas quem sabe como num drama cinematográfico, o Rossi mesmo largando em ultimo lugar na ultima corrida apresente a melhor apresentação de toda a sua carreira, supere todos seus inimigos e conquiste o campeonato … seria um final épico e inesquecível … e mais que digno desta grande temporada que presenciamos neste ano … pode dar o Lorenzo campeão? … Pode…mas seria o pior final na minha opinião.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  5. Rafael Carvalho disse:

    Eu esperava mais do Gp do Mexico! Pensei que veria uma corrida agitada, nem mesmo a presença do safety car bagunçou as coisas. Hamilton não ganhou a corrida porque não quis, acho que ele tinha mais carro que Rosberg, estava relaxado e sem pretençôes alguma porque levou mais um caneco! Hamilton e Rosberg agora são ex amigos, é evidente que os dois não se bicam mais. Quanto ao Massa só me resta descer o braço, eu não entendo como pode alguém com o mesmo carro conseguir um pódio ultrapassando uma RBR que não tem força em reta e o outro ficar preso e perder terreno ainda permitindo a chegada da Force India? Qual foi a desculpa? Eu assisto F1 porque amo a velocidade, mas enche o saco ver um piloto que não muda, não mostra nada excepcional, sempre dando as mesma desculpas!

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