Panda
Gostar do Alain Prost? Eu? Boa piada.
Prost sempre foi e provavelmente sempre será o meu perdedor preferido, o piloto que a gente gosta de ver se ferrar. Tudo bem que eu poderia ter escolhido um piloto menos vencedor que o francezinho narigudo e arrivista mas ele me deu muitos motivos para gargalhar, principalmente no campeonato de 83, no qual teve a carteira batida na boa pelo Nelson Piquet, em 84, quando perdeu por meio ponto para Lauda, e no GP de San Marino de 91, quando rodou na volta de apresentação – o grande professor.
É certo que tive de engolir a sua incrível esperteza para estar na equipe certa na hora certa e sorte para vencer corridas. Prost ganhava corridas como Romário faz gols. Parece fácil, banal, algo que nós mesmo poderíamos fazer. Mas cite-me, se for capaz, uma grande corrida do Prost, uma ultrapassagem ousada, um gesto brilhante. Se você pensar bem, vai ver que ele materializou nas pistas a chatice e a burocracia, sempre amparado pela fraqueza dos adversários ou pela força da Renault, McLaren, Ferrari e Williams.
Prost pode ter vencido quatro campeonatos e 51 uma corrida mas, para mim, continuará sendo sempre o francês sortudo que vendeu a alma ao diabo em troca do sucesso nas pistas – para mim a verdadeira explicação para a sua carreira.
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Durante algum tempo, pensei mais ou menos o mesmo de Nigel Mansell. A briga dele com Piquet em 86/87 ainda me está atravessada na garganta. Como pode um inglezinho bobão como aquele ousar rivalizar com um dos maiores pilotos de todos os tempo e que, ainda por cima, era o meu piloto preferido?
Pois é. Quando Piquet trocou a Brabham pela Williams em 86, imaginei que ganharia fácil o campeonato, dando show em treinos e corridas. Mas não foi isso que aconteceu. Piquet envolveu-se numa terrível luta com Mansell, Prost e Senna em verdade seja dita, nunca se mostrou superior a eles. O resultado deste equilíbrio foi um dos campeonato mais eletrizantes de todos os tempo, definido apenas nas últimas voltas de uma das mais loucas corridas de todos tempos, o GP da Austrália.
Em 87, Piquet chega ao seu terceiro título mas é inegável que Mansell foi o melhor piloto do ano, tanto assim que ganhou seis corridas e Piquet apenas três; Piquet foi campeão da forma que mais detestava: simplesmente catando pontos aqui e ali…
Mas, dizia eu, com o passar do tm, minha antipatia pelo Mansell diminuiu e passei até a gostar dele. Hoje, confesso, sinto um pouco de saudade do Leão e sua incríveis trapalhadas na Fórmula 1.
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Sobre Le Mans, meu amigo, não tenho muito o que contar.
Fui até lá no ano passado, mas não para as 24 Horas. Apenas estava passeando com a família pelo interior da França quando resolvi dar uma olhada. Eu estava procurando me localizar no mapa quando dei de cara com a Hunaudières, a mais incrível reta da história do automobilismo, longa cinco ou seis km.
A maior parte da pista é formada por estradas abertas com as margens já bastante ocupadas por lojas, oficinas e indústrias. A Hunaudières é uma via de duas mãos de tráfego pesado. Você pode rodar por ela livremente, fazer a curva Mulsanne (onde o movimento já é bem menor), seguir pelas curvas Indianápolis (bastante inclinada) e Arnage. Quando você se aproxima da Maison Blanche, dá de cara com uma grade não muito sólida mas impossível de ser transposta dignamente por um homem da minha idade.
Tudo bem. Siga por fora da pista até a porta principal de Le Mans, que fica aberta. Pude entrar com meu carro no paddock e percorrer livremente as instalações dos boxes. Só a pista propriamente dita estava fechada, inclusive porque havia um pessoal testando fórmulas Renault no pequeno circuito Bugatti. As instalações dos boxes impressionam tanto pela extensão quando pela altura. Há torres de seis andares ou mais e salas e mais salas. Quase igual a Interlagos…
Do lado de fora da pista, você encontra um museu simpático, não muito grande, com muitos carros antigos e alguns mais novos, como os Matra e Porsche que dominaram no começo dos anos 70 e os Peugeots dos anos 90.
Em suma, um passeio legal para quem curte automobilismo.
Bom final de semana
Eduardo Correa