Quanto vale um campeão?

O eleito
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Apesar de você
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Olá, amigos!

O(a) amigo(a) deve estar se questionando(a): uma pergunta dessas logo no título da coluna? Pois é, talvez a gente nunca consiga dar uma resposta concreta para essa pergunta, mas obviamente não estou procurando uma resposta em valores monetários. O motivo dessa indagação foi o fato de termos um piloto altamente vencedor, jovem e bicampeão da principal categoria da NASCAR, sem um contrato válido para os próximos anos. Olhando friamente os números temos o seguinte retrospecto desse piloto nas três principais categorias da NASCAR:

Truck series: 165 provas disputadas, 62 vitórias (37,6% em relação ao total de provas), 111 top 5, 133 top 10 e 22 poles.

Xfinity series: 362 provas disputadas, 102 vitórias (28,2% em relação ao total de provas), 225 top 5, 263 top 10 e 70 poles.

Cup series: 635 provas disputadas, 60 vitórias (9,4% em relação ao total de provas), 234 top 5, 351 top 10 e 32 poles.

A título de comparação, na Cup series alguns grandes pilotos têm a seguinte porcentagem de vitórias em relação às provas disputadas:

Dale Earnhardt tem 11,2%, Jeff Gordon tem 11,6%, Bobby Allison tem 11,7%, Jimmie Johnson tem 12,1%, Cale Yarborough tem 14,8%, Richard Petty tem 16,9% e David Pearson tem 18,3%.

Dos pilotos atuais no grid da NASCAR ninguém tem retrospecto semelhante. Harvick possui 7,7% e Chase Elliott possui 6,8%, para se ter uma ideia.

Voltando ao tópico principal, o piloto em questão é Kyle Busch, que atualmente corre no carro número dezoito da equipe Joe Gibbs Racing. Em suas mais de duzentas vitórias somando as três categorias principais, Buschinho passou por um momento bastante delicado nos últimos meses. O principal patrocinador de seu carro, a M&Ms, anunciou que deixaria de patrocinador o carro número dezoito da Gibbs a partir de 2023. Como principal sponsor do carro, a equipe se viu obrigada a buscar um novo patrocinador principal para sustentar os custos da equipe, salários, entre outras coisas. A Toyota, fornecedora dos motores e bolha da equipe Gibbs se pronunciou dizendo que faria de tudo para manter Kyle no carro, mas o fato é que a equipe não conseguiu encontrar nenhum patrocinador que topasse entrar no mesmo barco desse time.

Todos sabemos que os patrocinadores são os grandes fornecedores do dinheiro que faz a máquina girar, tanto é que a cada vitória os pilotos praticamente são obrigados a agradecer nominalmente quem patrocinou o carro naquele evento. A exposição da marca devolve o investimento realizado, esse foi e continua sendo o jogo. O fato inusitado é que geralmente os pilotos e equipes vencedoras estão sempre tranquilos em relação a conseguir patrocinadores para seus carros. Quem vence, aparece. Não só o piloto, mas o carro, o time e toda a equipe. A pergunta que fica é: por que os patrocinadores não querem colocar suas marcas no carro dezoito? Um piloto e equipe com um retrospecto desses não deveria se encontrar nessa situação tão desconfortável, certo?

O grande problema que se observa nessa situação é o fato de, apesar de grande piloto e vencedor, Kyle Busch é um cara que não se importa com sua fama de piloto desagradável. Avesso a entrevistas, sem papas na língua, crítico em relação aos fãs e qualquer coisa que o desagrade, Buschinho nunca quis ser aquele piloto simpático que se preocupa com sua própria imagem. Parece meio absurdo que esses digamos traços de personalidade difíceis sejam o motivo para que ele não consiga patrocinador, mas isso é de fato o que ocorreu com o piloto. O próprio Kyle disse que, após os momentos tensos na busca por um patrocinador, precisa rever sua imagem e atitudes. Nem a carreira vitoriosa, nem o nome da equipe, nem a grande influência da Toyota conseguiram um patrocinador disposto a bancar o negócio do carro dezoito e de Kyle Busch.

Sem saída, o piloto foi buscar outra equipe que não tivesse uma dependência tão grande de um patrocínio. Na busca por um novo lugar, alguns vocalizaram como Kyle é um piloto diferenciado. Kevin Harvick por exemplo disse que, se fosse por ele, faria um esforço maior para a Stewart Haas trazer o piloto para seu time. Mas quem levou foi a Richard Childress Racing, equipe que no passado levou Dale Earnhardt inúmeras vezes ao victory lane. Apesar do histórico vencedor, a equipe já não tem o mesmo brilho de antes, apesar de ter conseguido três vitórias este ano, até o momento. Alguns dizem que Buschinho está dando um passo atrás, mas só saberemos realmente no próximo ano.

Depois de quinze anos correndo com carros empurrados pelos motores da Toyota, Kyle terá que se adaptar não só aos novos motores Chevrolet, mas uma nova bolha, um novo modelo de trabalho, novas pessoas, novas cores, novo número e talvez resultados um pouco diferentes dos que está acostumado. Será que veremos um piloto mais comunicativo diante de possíveis resultados não tão bons? Mais uma coisa que só descobriremos depois das primeiras provas.

Afinal, quanto será que vale um campeão? Ainda não sabemos a resposta para essa pergunta, mas com certeza deu para perceber que ser uma pessoa melhor pode agregar um bom valor ao passe do piloto. Não sejamos tolos de pensar que tudo se trata apenas desse aspecto de forma singular, tem sempre muito mais coisa envolvida em um negócio milionário como esse, mas não custa lembrar que cada vez mais toleramos menos pessoas que não se importam com quem está do outro lado da conversa.

Grande abraço,

Rafael Mansano

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

2 Comments

  1. I don’t think the title of your article matches the content lol. Just kidding, mainly because I had some doubts after reading the article.

  2. Fernando marques disse:

    Rafael,

    Na formula 1 um campeão vale muito dinheiro.
    Kyle Busch deve ser daqueles pilotos tipo o Nelson Piquet. Corre mais pelo prazer de correr do que pra ganhar dinheiro.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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