Race of Champions

Voltamos ao jogo!
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Ele é mesmo tudo isso?
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O último GP da China foi uma corrida digna dos grandes campeões. Não à toa, nas primeiras 5 colocações da prova estavam justamente os últimos cinco pilotos a vencerem um campeonato mundial.

Brands Hatch, 10 de abril de 1983. Tínhamos a derradeira edição da Race of Champions – Corrida dos Campeões. Vencida pelo então #1 Keke Rosberg e sua Williams de laterais curtas e elegantes, seria também a última prova extracampeonato da história da F1, que ficou profissional e comercial demais para que estes eventos descontraídos mantivessem sua existência.

Xangai, 30 anos depois. Pelo nome, podemos afirmar que tivemos no GP da China uma reedição espiritual da corrida dos campeões. Todos os detentores de título na ativa chegaram nas melhores posições. Alonso, Räikkönen, Hamilton, Vettel e Button, os oito últimos títulos da F1, compuseram o Top Five. O resultado cheio de vencedores não foi por acaso, foi preciso talento de campeão para figurar na frente. Vamos dissecar o GP em ordem crescente.

Jenson Button andou mais do que sua McLaren supostamente rende. Sua condução carinhosa com os pneus proporcionou a possibilidade de uma parada a menos nos boxes e uma tática que o colocou à frente de conjuntos mais competitivos, entre eles Massa e Di Resta. Seu companheiro Sergio Pérez não tem feito nada, e quando faz, faz besteira, como na barbeiragem contra Räikkönen. Apesar da pouca amostragem, vem sendo uma retumbante decepção.

Não resta dúvida de que a McLaren deste ano não é bem nascida e as suspeitas recaem no famigerado sistema pull-rod de suspensão – que a equipe não usa desde 1990. O sistema teve sua volta triunfal ano passado, pelo feioso carro da Ferrari. Todos lembram: o modelo começou fora de ritmo, e progrediu durante o ano, ainda que só o brilhantismo de Alonso explica as vitórias e a luta pelo título. De qualquer forma, o que quero dizer é que a Ferrari levou tempo até se ajustar com a nova engenharia, e a McLaren deve enfrentar esse mesmo problema atualmente.

Sebastian Vettel figurou na 4ª posição, também dono de uma tática alternativa de pneus, tendo largado com médios e deixando os ridículos macios pra saideira (que, nos 35ºC da pista, esfarelavam em no mínimo sete voltas). Da mesma maneira como no começo do ano passado, a Red Bull ainda não conseguiu uma perfeita sintonia entre performance. Pode ser que haja uma repetição: que, em algum momento, achem o acerto ideal e consigam dar a Vettel seu prato preferido: corridas descendentes, em que parte da pole e dita o ritmo.

Enquanto Adrian Newey não encontra a fórmula mágica este ano para os novos Pirelli, seus carros continuarão a mostrar a maior fraqueza: são feitos para comandar, e não para ultrapassar. O duo da Red Bull até teve velocidade em reta, mas algo conseguido através de asas com menos arrasto, deixando as velocidades em curva, grande trunfo, mais baixas.

Quanto a Lewis Hamilton, fiquei com a impressão de que poderia ter ido melhor, não fosse sua tocada detonadora de borracha – que quase fez com que Vettel lhe roubasse o pódio, não fosse erro do próprio alemão. Não há dúvidas de que sua velocidade é superior a de Rosberg, que já foi colocado no bolso pelo inglês dentro da equipe. O problema é que nem sempre esse atributo será o diferencial numa corrida. Se a Mercedes encontrar o equilíbrio mágico do desempenho sem comer pneu, Hamilton é, sim, fortíssimo candidato ao título.

O segundo lugar de Kimi Räikkönen foi fenomenal. Não apenas manteve Hamilton atrás de si, como pilotou boa parte da corrida com a asa dianteira muito danificada. Sua filosofia de vida de “eu não me importo com isso” foi levada para dentro da pista: ele não se importava com a perda de downforce, simplesmente readaptou o estilo de pilotagem, sem que isso representasse desgaste de pneus.

E chegamos ao grande vencedor do dia, Fernando Alonso. Sim, ele é tudo isso que dizem. A prova em Xangai mostrou bem o grande diferencial dele em relação a Massa, que nas voltas iniciais até mostrou potencial, mas após a 6ª colocação – atrás de todos os campeões – culpou o graining pela queda de performance. Alonso prima pela adaptabilidade. Velocidade, cuidado com a borracha, tática ideal.

O asturiano já tinha provado tudo isso ano passado. Nas primeiras provas, enquanto todos ainda se perguntavam como os Pirelli funcionavam, ele simplesmente se adaptava às condições impostas para coletar o maior número de pontos que fosse possível.

O campeonato ainda vive momentos de indecisão (3 GPs, 3 equipes vitoriosas), no que parece ser até agora uma pequena repetição de 2012. Não há hegemonias, nem ao menos polarização (que aconteceram nos meses seguintes). Nesse cenário de poucas certezas, a única que temos é que Alonso consegue lidar muito bem com isso – melhor que todos os outros. Ele agora é o 4º maior vencedor da F1, igualando-se a Nigel Mansell.

Pérez está ruim, mas nada tão horrível quanto seu compatriota e substituto Esteban Gutiérrez. O novato mexicano não vem justificando sua promoção à F1 (senão pela retaguarda financeira), se comportando como um piloto de GP2. Todos precisam de mais quilometragem, mas, nessa nova safra, Jules Bianchi, com um carro muito pior, parece ser o mais competente.

A sorte é que a outra Sauber está com Hülkenberg, que chegou a empolgar em Xangai e prova que o ano não está perdido para a equipe que mais radicalizou no carro de 2013.

Para Massa sobra um consolo: ele parece ser o melhor não-campeão do grid. Mark Webber nos privou de saber se sua tática de correr apenas com médios daria certo (na 7ª volta ele já estava perto de Räikkönen) pelo simples destempero pelo qual tem passado: se antes não tinha apoio político, agora também está desmoralizado.

Ao fim da temporada, ele terá 37 anos e, desta vez, nenhuma perspectiva de ter o contrato renovado. E com Räikkönen andando o que tem andado, as conexões entre ele e Red Bull parecem fazer todo o sentido.

Porque os campeões estão valorizados na F1.

 

Reforço o convite aos amigos leitores para acompanhar nosso Facebook. Além de notícias e curiosidades diárias, estamos até o fim do mês com o especial relembrando as 41 vitórias de Ayrton Senna na F1. E claro, com o sucesso que tem sido, já estamos pensando em outros especiais. Fiquem de olho!

Aquele abraço!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

7 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    seu texto define tudo o que foi o GP da China … o menos empolgante dos tres GP’s até agora realizados mas bom de se assistir … a temporada promete …
    Com relação ao Alonso, se não fosse essa politica alá dick vigarista que ele tem na Ferrari, possivelmente estaria torcendo por ele. Que ele é o melhor, não resta duvidas. Pelo mesmo motivo vou torcer contra o Vettel tambem. Estou na torcida pelo Hamilton.
    Agora me desculpe discordar do que voce disse sobre o Massa. Não acho que ele seja melhor que o Webber. Penso inclusive que ele ainda corre pela Ferrari por admitir calado e sem nenhuma crítica os privilegios do Alonso na equipe. Ele parece ser o unico que aceita esta situação na Formula 1.
    O Webber pode estar fazendo a sua ultima temporada na Formula 1. Se fosse ele aproveitava e se divertia …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Rodrigo Felix disse:

    Lucas, parabéns pela coluna!
    Só uma dúvida: a Ferrari continua com pull rod desde ano passado?

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi Rodrigo!

      Sim, a Ferrari continua de pull-rod, e já dominou sua mística – eis o motivo pelo qual agora anda mais competitiva desde as provas iniciais.

      A McLaren ainda deverá percorrer um caminho até conseguir o mesmo. Pior para Button, e péssimo para Pérez, que precisa como nunca mostrar serviço.

      Escreva sempre! Abração!

      Lucas Giavoni

  3. Lucas disse:

    Na primeira prova o Webber se classificou em segundo, teve problema no KERS no primeiro stint (prato cheio pra teorias da conspiração), foi parar lá atrás, mas quando resolveu o problema manteve ritmo mais forte que o do Vettel. A segunda dispensa comentários – Vettel foi batido claramente, em nenhum momento foi capaz de superar Webber quando ambos estavam em igualdade de condições e só conseguiu passar graças ao que aconteceu no final da prova. Nesse domingo, como bem apontado no artigo, Webber estava extremamente bem posicionado antes do acidente, e ao contrário do companheiro não precisaria mais usar os pneus macios.

    Enfim: sou só eu que estou achando que o Webber está andando melhor que o Vettel esse ano, apesar da pontuação dizer o contrário? Claro que “se” não conta ponto, mas são três corridas seguidas em que, enquanto se está em condições normais, quem tem melhor ritmo de corrida é o Webber.

    • Lucas Giavoni disse:

      Oi xará!

      O que acontece é justamente uma conjuntura negativa com Webber – que sim, levanta suspeitas, apear de nenhuma prova. Não que ele esteja pilotando mal; ele está bem, como você apontou. Mas seu peso político na Red Bull desta vez está reduzido a pó. E piloto sem respeito da equipe não vai a lugar algum; está aí a História, cheia de exemplos que reafirmam isso.

      Abração!

      Lucas Giavoni

  4. Mauro Santana disse:

    E com o melhor pilotos da atualidade chegando em primeiro!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas Giavoni disse:

      Concordo, caro Mauro.

      Alonso para mim é o melhor do grid graças a sua adaptabilidade. Ele provavelmente perde, por muito pouco, em velocidade pura para Hamilton e Vettel, mas supera ambos nos demais quesitos.

      Abração!

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