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Tenho me mantido tanto quanto possível alheio às discussões sobre quem é melhor: Senna ou Piquet. Mas que ninguém pense que eu não gosto dela. Pelo contrário: quando escrever um novo livro sobre automobilismo, quero me dedicar ao tema, partindo dos pioneiros do começo do século passado até Schumacher, porque acho possível isolar os elementos que poderão conduzir a uma resposta.
Meus elementos para isso seriam:
a) volume e qualidade de vitórias de cada piloto,
b) condições em que foram obtidas e
c) contra quem estas vitórias foram obtidas e com que meios.
Acho que não preciso me demorar sobre o item a. Esporte (sim, eu acredito que a Fórmula 1 seja um esporte) é uma atividade que visa a vitória – e ponto final. Nenhuma chance para pilotos como Moss, Peterson e Villeneuve, portanto.
Os demais itens demandam algumas explicações. Com o b, tentaria limitar o fator sorte ou acaso na obtenção dos resultados. Tudo bem que nutro a maior antipatia por ele, mas não dá para comparar, por exemplo, as vitórias de Prost às de Piquet. Some as vitórias que caíram no colo de um e outro e você terá estatísticas bem diferentes.
O mesmo vale para o item c. Fangio que me perdoe mas ele ganhou GPs e campeonatos correndo contra pilotos não tão bons contra aqueles que competiram contra Tazio Nuvolari, por exemplo. E Fangio quase sempre teve em mãos carros majoritariamente superiores à oposição.
Paro por aqui por carência de tempo e espaço mas fica dada a pista para quem quiser levar esta discussão adiante. E que fique claro logo de uma vez: em algum momento, no final da lista, o coração entra na discussão.
Sem ele, não dá para ir mais longe e saber quem foi o melhor de todos os tempos.
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E chega de enrolar, Eduardo, e faça logo as suas previsões para o campeonato que começa semana que vem – graças a Deus!
Apostar em Michael, como disse na semana passada, me parece o mais lógico e seguro. O Ferrari F2004 parece bom, a equipe está inteira e motivada, a Bridgestone tem reagido rápido e está totalmente focada na equipe italiana.
Em oposição a Michael temos uma McLaren desacreditada pelos próprios pilotos, que reclamam de uma falta crônica de potência na usina Mercedes, e uma Williams que me parece – veja bem: parece – ainda verde, precisando balancear melhor a confiabilidade à ousadia de projeto. E além disso, com dois pilotos ao volante que oscilam atuações brilhantes a outras medíocres.
Mas apostar no favorito não tem graça ainda mais depois de ele ter confirmado este favoritismo por quatro vezes seguidas. Então vou apostar na Williams e mais precisamente em Ralf – e Deus que me ajude.
Acho que a Williams tem uma capacidade de reação extraordinária. O carro pode, de fato, ainda não estar muito aprimorado mas, começando o campeonato e o ritmo frenético de testes, a equipe vai se desdobrar e buscar soluções. Lembram-se do ano passado, onde a tal asa dianteira de aço alavancou o desempenho do carro? Tenho certeza que eles conseguem de novo, sejam quais forem os problemas do carro.
Também não tenho dúvida que o motor BMW acerta rápido, se é que já não está acertado, e tem potência de sobra. Aí fica faltando apenas Ralf livrar-se do complexo de inferioridade em relação ao irmão e Montoya crescer e se concentrar mais nas corridas.
Eles podem fazer isso? Podem, sem dúvida, mas nada garante que o farão em 2004.
Montoya não será campeão do mundo enquanto disputar GPs como o de Indy 03 e Ralf não chega lá enquanto não for capaz de ultrapassar Michel com decisão e coragem. Em ambos os casos, o problema é de atitude mental, de força de caráter, porque habilidade ao volante certamente os dois têm.
Pessoalmente, acredito que Ralf esteja mais próximo de chegar lá do que Montoya mas não me perguntem o por que.
Aposta é aposta.
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Se tivesse de resumir os dois últimos mundias em meia dúzia de palavras diria que 2002 foi o ano em que a Ferrari fez tudo certo e a oposição tudo errado e que, em 2003, a Ferrari cometeu alguns erros e a oposição alguns acertos.
Como será 2004?
Parece difícil vermos repetida a situação de 2002. Acredito mais em uma nova edição de 2003.
Saio desta temporada de testes com a impressão de que o Ferrari testou comparativamente pouco (Rubinho menos ainda) e que Williams e McLaren não têm nada de especial nas mãos, nada que chegue à Austrália e dispare a ganhar como aconteceu com o Ferrari de 2002.
Quanto ao resto do grid, é aquilo que disse na semana passada: não espero surpresas. Não se esqueçam: nos últimos 83 GPs, segundo me informa um leitor paciente, tivemos 48 vitórias da Ferrari, 21 da McLaren, nove da Williams, três da Jordan e uma da Renault.
Isso não quer dizer que a Bar não possa ascender entre as equipes, que Mark Webber continue fazendo boas corridas, assim como a dupla da Renault. Apenas acho que as três grandes continuam não apenas tendo recursos técnicos melhores como também detendo uma capacidade de reação muito superior.
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Para os registros históricos dos leitores: a explicação mais recente para as atuações esquizofrênicas do Ferrari 2003GA é que o desenho do carro conduzia uma massa de ar quente maior do que o normal para os pneus traseiros que, desta forma, se aqueciam em demasia em situações de corrida, provocando desgaste acentuado e, naturalmente, perda de rendimento.
O problema nasceu na concepção do carro: para ser rápido nos treinos de uma volta só, Byrne e Brown fizeram um carro com soluções aerodinâmicas extremas, que seriam depois um pouco sacrificadas em configuração de corrida.
Com o pacote de janeiro passado de Max Mosley, proibindo as intervenções nos carros de sábado para domingo, a Ferrari optou por um compromisso intermediário, causa do problema, e que só se tornou verdadeiramente grave durante o verão europeu.
E fica a pergunta: será que o pequeno golpe de Mosley foi uma forma de jogar pedras no caminho da Ferrari?
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Estamos trabalhando noite e dia para acertar o novo lay-out do GPTotal ainda na semana que vem.
O novo visual, porém, é apenas parte das novidades – mas deixo o Panda falar sobre elas na semana que vem.
Abraços
Eduardo Correa