Reação Inglesa

AINDA MELBOURNE
06/03/2002
ESPETÁCULO OU COMPETIÇÃO?
11/03/2002

Panda

Há uma expectativa crescente entre os jornalistas europeus quanto ao desempenho da Williams e McLaren na Malásia. Lá, sob o calor, os pneus Michelin devem render mais e as equipes inglesas podem ser capazes de engolir Schumacher com casca e tudo. Será?

Não vi nada de excepcional nas equipes inglesas na Austrália, salvo pela largada espantosamente rápida de Ralf e pelo brilho fugaz de Montoya. Que o motor BMW é uma bomba – no bom sentido -, já sabemos todos. Se vai levar a Williams à vitória neste começo de temporada é uma história bem diferente. As incógnitas em relação à McLaren Mercedes são ainda maiores.

O campeonato 2002 não vai ser uma barbada para a Ferrari. Uma virada vai acontecer, provavelmente em favor da Williams e seus hipermotivados pilotos, assim como no campeonato de 91 (lembra-se? Senna ganhou as quatro primeiras corridas e depois teve de se virar para segurar Nigel Mansell).

Eu, de minha parte, ratifico a aposta em Schumacher nas três, quatro ou cinco primeiras corridas. Depois, só Deus sabe.

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E se Ralf Schumacher não tivesse decolado por sobre o Ferrari de Rubinho e os dois tivessem ultrapassado a primeira curva?

Acho que não teria acontecido nada de muito diferente em relação ao final da corrida. Ralf faria seu brilhareco, provavelmente jantando Rubinho logo na largada ou durante a primeira volta. Depois, teria problemas de pneu, como Montoya, e teria de reduzir o ritmo. Aí, poderia ser ultrapassado por Rubinho que, voltas mais tarde, teria de inevitavelmente ceder a posição a Michael Schumacher, se é que o irmão mais velho já não a teria ganho antes.

O GP da Austrália foi decidido bem antes do acidentes entre o nosso Rubens e o alemão deles, no momento em que a Fia vetou o uso dos pneus Michelin de sulcos assimétricos.

Não que o uso do pneu irregular levasse automaticamente Williams e McLaren à vitória mas poderia, talvez, ter equilibrado um pouco a disputa. Note como Schumacher portou-se tranquilamente durante a fase inicial da corrida, quando andava atrás. Note como ele abriu vantagem facilmente quando foi para a ponta.

Mas tem uma coisa: se o acidente de largada não tivesse ocorrido, Rubinho viveria um drama, talvez o maior da sua carreira. Seria uma ocasião rara para ele liderar Schumacher e ditar o ritmo da corrida. Se não estou enganado, só fez isso duas vez, no GP da Inglaterra de 2000, sem Schumacher por perto, e no ano passado, na Áustria, quando relutantemente cedeu o lugar ao alemão e abriu a boca a chorar.

O que teria em mente nosso menino na Austrália. Resistiria ele a ceder o lugar a Schumacher, como chegou a insinuar – “vou ser a pedra no sapato” etc.? Ou pensaria na renovação de seu contrato para 2003 e seria apenas bonzinho?

Talvez Rubinho estivesse acariciando estes dilemas quando sentiu a pancada por trás…

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E, vem cá: quando é que Rubinho será apresentado ao Ferrari 2002?

Nesta altura, já está decidido que a Ferrari enfrenta o GP da Malásia com o carro velho mas os testes com o 2002 estão comendo solto na Itália. Luca Bodoer está acumulando quilometragem e calos no traseiro de tanto testar, enquanto Luciano Burti experimenta os pneus Bridgestone. Enquanto isso, Rubinho fica por aqui jogando golfe. Para minha surpresa, Schumacher tirou a semana de folga e, acho, ficou pelo Oriente mesmo.

Por que Rubinho não testa? Ele poderia facilmente testar hoje, amanhã e domingo e ainda tirar dois ou três dias de descanso antes do GP.

Será que as negociações para renovação do seu contrato estão tão complicadas assim e a equipe usa a falta de testes para amaciar um pouco as pretensões no nosso piloto? Ou será que é apenas um problema técnico, a incapacidade da Ferrari em fabricar mais chassis? Há algo de estranho nesta história toda.

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Lembra-se da história de economizar na Fórmula 1? Acho que já era; Williams e McLaren se juntaram contra a iniciativa.

Em resumo, a idéia da Fia é penalizar duramente a equipe que usar mais de um motor por carro por GP, acabar com os treinos da sexta-feira e obrigar os fabricantes a fornecer motores para mais de uma equipe.

Eddie Jordan soltou rojões apoiando a idéia. Creio que Jaguar, Bar, Sauber, Minardi e Arrows adorariam trabalhar com orçamentos menores. Mas acho que Toyota e Renault fecham com Williams e McLaren. A Ferrari, como sempre acontece nestas ocasiões, a tudo espreita, completamente muda, esperando para ver onde a coisa vai dar. Na hora decisiva, entra em campo com uma proposta conciliadora – coisa de político mineiro.

Um bom final de semana para você e todos os leitores

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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